XXI

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Falho miseravelmente ao tentar agir como se nada tivesse acontecido. No instante em que coloco os pés novamente no salão de festas tenho a impressão de que todos estão olhando para mim, mordo o lábio vezes seguidas desviando o olhar de qualquer um que se encontre ao meu. Quanta bobagem! Como se nunca tivesse me posto de pés e andando no meio de todos depois de transar com o fantasma mais gostoso daquele lugar caindo aos pedaços. O meu fantasma. Talvez aquela sensação se desse pelo simples fato de que não retornava sozinha dessa vez, que não sucumbia a possibilidade de ter sido apenas coisa da minha cabeça. No instante em que as luzes pousavam outra vez sobre o meu rosto ele estava o meu lado, com os mesmos dedos que haviam me feito gemer em prazer pouco tempo antes enroscados na minha cintura. 

Sentir-me normal ainda era novo. Era estranho também, porque invés de me sentir assustada eu me sentia feliz. Feliz demais dado a minha maré de azar contínua, logo alguma parte daquele teto bolorento cairia sobre a minha cabeça me tragando de volta a realidade. Eu não queria.

Uma música lenta tocava, não me lembrava exatamente a letra dela mas sabia que já tinha ouvido em algum lugar, talvez em casa, minha mãe adorava cantar músicas para colocar minha irmãzinha para dormir, era a memória mais gentil que tinha dela. Fecho os olhos encostando o rosto no peito de Justin, ele estava em silêncio desde que me convidou para mais uma dança. Havia notado algo, era um detalhe muito tolo mas que para mim fazia toda a diferença. Além do calor do peito, podia sentir as batidas do seu coração. Não podia dizer com toda a certeza de que havia algo ali, mas eu sentia em cada batida. Um pouco mais calmo que o meu, mas ainda sim pulsante.

—O que esta arrancando este sorriso? — ele perguntou me fazendo levantar o rosto minimamente para ver o seu. Ele conseguia ser ainda mais bonito, com os pontinhos vermelhos na pele bronzeada.

—Seu coração esta batendo forte. — arregalou um sorriso, pude sentir seus dedos brincando entre os meus fios de cabelo.

—Claro que está, tenho a melhor razão para isso aqui a frente do meus olhos, minha Sabine. — sussurrou a última parte da sua fala antes de encostar os lábios aos meus.

Não acreditava ser sensitiva até poucos meses, e se alguém tentasse me convencer eu diria que era a maior das maluquices. Mande a um sanatório imediatamente. Eu não acreditava em fantasmas e menos ainda que poderia sentir energias no ar. Mas as últimas semanas provaram que havia muito mais sobre o mundo e mim mesmo do que poderia imaginar. Não apenas por causa de Justin e aquele sentimento que me colocava a testar todos os níveis da minha sanidade, mas por todo o resto. Tudo que estava a nossa volta e nem todos conseguiam enxergar.

A atmosfera do salão mudou completamente de um instante para o outro. Sabia que não havia sido a única a sentir ao trocar olhares com o loiro, sua expressão de euforia havia sido substituída por uma linha de expressão preocupada. Praguejo dando um passo para trás e não preciso procurar muito para encontrar a figura de Leslie adentrando o salão, todos os olhares se viram para ela como se tivessem hipnotizados. Ela estava linda. Quase celestial se não fosse pelo diabo encarnado que sabíamos que ela era. Mas não era apenas sua beleza que chamava atenção. Preciso respirar fundo e focar nos meus joelhos, ameaçavam me deixar de cara no chão a qualquer instante.

—Não pode ser. — murmuro piscando algumas vezes na tentativa de me convencer de que aquilo estava de fato acontecendo.

Leslie estava vestida em um lindo vestido branco de mangas, o tecido delicado era coberto por pérolas e se acentuava muito bem em seu corpo, quase como se tivesse sido feito a mão para ela. Mas não havia. Seus fios estavam penteados cautelosamente, uma franja descia a testa e se escondia atrás da orelha, uma grande tiara prendia o restante dos fios que se juntavam em longos cachos as suas costas. 

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