XV.

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{Capítulo com música de novo, por que poooode. Só puxar a imagem para o lado.}

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Na última semana choveu como nunca em Chermont, o céu parecia querer desabar em nossas cabeças. Foram longos dias confinados no casarão, a chuva cessou por poucas horas, mas o lamaçal nos impedia de voltar as atividades. A Diretora tentou e inventou várias formas de nos manter ocupados, mas no fim das contas tornava-se monótono e já não aguentávamos olhar um para a cara dos outros. 

O temporal deu trégua no dia anterior, um sol preguiçoso apareceu no fim de tarde começando a alimentar as arvores e secando as poças de água. Era o clima quase perfeito para um dia de visitas, a maioria dos internos estavam eufóricos, isso só acontecia uma vez por mês pelo fato da maioria das famílias morarem longe. Meu pais só vieram no primeiro dia de visitas em que estive aqui, uma semana após meu ingresso no internato. Foi uma visita breve, quinze minutos no máximo, me abraçaram, disseram que sentiam a minha falta e foram embora no mesmo passo em que vieram. Não tenho notícias deles desde então, assim como eles não se dão ao trabalho de fazer uma mísera ligação para saber se eu ainda estava viva. Talvez eles pensassem que eu morri e se livraram definitivamente de seu fardo.

Lavo o rosto na pia do banheiro, ainda estava sonolenta. Dormi a noite inteira, mas isso não era sinônimo de descanso.  Prendo o cabelo com uma liga que carregava no pulso juntando todos os fios até que não me incomodassem mais. Seco o rosto e ajeito a camiseta cinza que vestia, um short jeans amarrotado e meu par de tênis que começava a desbotar, antes azul, agora cinza manchado. 

-Minha mãe vai trazer o novo disco do Jesse McCartney ! - ouço uma garota comentar passando por mim pelo corredor.

Eu estaria contente o suficiente se minha mãe aparecesse, ela nem mesmo precisava me trazer algo, talvez seu abraço quente e confortante, isso era mais que o suficiente e provavelmente mais do que eu merecia. Sinto sua falta hoje, como nunca senti antes, especialmente quando os portões são abertos e os carros dos pais começam a estacionar a frente do casarão. Um por um, e nenhum deles são os meus pais. Talvez tenham se atrasado, minha irmã mais nova sempre demora demais para se aprontar, ou tenham ficado presos em alguma poça de lama no caminho. O carro de papai não é tão bom quanto aparenta, ele deveria trocar aquela lata velha antes que lhe desse maiores problemas.

As risadas são falsas, simplesmente não consigo acreditar que estão realmente alegres em ver uns aos outros, não  depois de tê-los deixado ali. Chermont não é um lugar terrível, mas também não é um mar de rosas, sei que terei pesadelos sobre este lugar no futuro, quando estiver na minha casa. O cheiro do bolor das paredes e o ranger da madeira velha provavelmente nunca vai me abandonar. Quarenta minutos depois eu ainda estou ali, sentada nos dois longos degraus de madeira que enfeitam a entrada do casarão. Eles não vão vir, é estupidez esperar. 

Esfrego as mãos a frente dos rosto e me levanto, sinto fome mas não vou até o refeitório, sei que as famílias estão lá, havia passado os últimos dias no quarto e não queria retornar. Nem todos os internos tinha família ou quem lhes visitar, mas isso não me impedia de sentir menos abandonada. Alguns não viam a família a anos, seria terrível se entrasse para aquele grupo. 

Vou para a biblioteca, estava vazia, totalmente vazia. Ando entre as prateleiras procurando algo que ainda não tivesse folheado naquele lugar, mas nada me chama atenção. Minha mente impulsiona meu corpo até o meu quarto, não demoro muito, logo volto ao comodo trazendo em mãos o diário de Heloise, não tocava naquele emaranhado de folhas á muito dias. Na verdade pensei que o tivesse atirado para fora da janela, mas por alguma razão inexplicável ele estava de volta na minha gaveta de cabeceira. 

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