Recostei a cabeça no vidro do ônibus encolhida no meu assento. Os alunos faziam bagunça no corredor, mas eu preferi ficar quieta. As coisas ainda não faziam sentido na minha cabeça, como poderia reconhecer seu rosto sem ao menos te-lo o visto e pior ainda saber seu nome? E ele não poderia ter me contado, já que estava morto, a não ser que eu tenha visto no diário e não tenha percebido, bem, isso sim fazia sentindo.
-Sabine! - levantei o olhar procurando quem me chamava quando percebi George parado na porta do ônibus. - Anda logo, vai começar a chover. -ele me alertou e eu levantei do assento percebendo que já havíamos chegado ao internato. Saltei do ônibus e corri junto a ele pra dentro do internato.
-Vou olhar uma coisa no quarto e já desço pro almoço. - disse subindo as escadas enquanto ele seguia para o refeitório.
Abri a porta do quarto dando de cara com Leslie deitada na minha cama.
-Cai fora! - falei cruzando os braços e ela levantou o rosto me encarando.
-Argh! Tava demorando pra esquisitona chegar - ela resmungou e levantou da minha cama indo foi pra sua.
-Se acha tão ruim dividir o quarto comigo por que não pede transferência? - perguntei e abri minha gaveta pegando o diário.
-Se eu pudesse pedir alguma coisa nesse inferno eu pediria pra você sumir e nunca mais aparecer. - rolei os olhos e me segurei pra não revidar as provocações dela. - Alias eu pediria pra você e pro seu amigo pé no saco sumirem... - dei as costas e sai do quarto a deixando falar sozinha.
Entrei no refeitório, peguei minha bandeja com o almoço e segui para a mesa onde George estava. Deixei o diário no meu colo e apoiei os cotovelo na mesa o observando fazer uma mistura nojenta com a comida.
-Isso é nojento... -comentei fazendo careta.
-Isso é uma delicia. -disse enfiando a colher cheia do leite com legumes que ele comia. -O que te deu lá no museu? - perguntou mastigando de boca aberta ele sabia que eu detestava aquilo e ainda sim fazia.
-Fecha a boca garoto. -chutei a perna dele por baixo da mesa fazendo careta - Como assim o que me deu? - perguntei na defensiva.
-Você ficou da cor de uma nuvem quando o guia falou sobre os antigos moradores. -desviei minha atenção pelo refeitório procurando uma bela mentira. Não tinha como virar pra ele e dizer "Então George, aquele cara do retrato, de mais de cem anos é o mesmo cara com quem eu venho transando nos meus sonhos eróticos, mas adivinha só eu nunca tinha visto a cara dele antes e nem mesmo seu nome, mas ele me falou no meu sonho e sinceramente eu estou começando a achar que não era bem um sonho". O ferrugem ia me chamar de louca antes mesmo que eu terminasse de contar. - Sabine! -ele estalou os dedos na minha fuça me obrigando a encara-lo.
-Nada só achei meio macabro, a gente mora onde um monte de gente velha e triste morreu. - comentei dando de ombros naturalmente. - Você não acha? Tipo, imagina só passar pelo porão e encontrar uma ossada? -ele riu rolando os olhos.
-Ah claro, só se for o da dona Catalina e o gato fedido dela. - ri relaxando na cadeira e comendo meu almoço. -Já percebeu que aquele bicho toma uns dez banhos e continua fedido, to começando a achar que é o cheiro dela que impregna nele. -logo George começou seu monologo sobre o quanto detestava gatos e a dona Catalina, fingia que o ouvia enquanto terminava a refeição.(...)
Olhava pro relógio esperando que finalmente desse o horário de sair daquela sala de aula. O problema não era a matéria ou o professor, apesar dele ter a mania irritante de cuspir enquanto falava, eu só queria sair dali, pegar o diário que estava entre as minhas pernas e folhea-lo pela décima vez até encontrar a imagem de Justin e me acalmar finalmente.
-Senhorita Pitesburg, esta ansiosa pra sair da sala? - ele perguntou chamando toda atenção pra mim. Segurei a respiração ao sentir o cuspe no meu braço, ele tinha chego perto de mim antes que pudesse abrir um guarda chuvas.
-Um pouco senhor! - confessei sorrindo simpática.
-Sinto lhe informar que após a aula haverá uma exibição do filme dezesseis velas e todos do quinto período estão convocados a assistir.
-O senhor quer dizer obrigados? - perguntei sem querer logo me encolhendo na cadeira com medo de represália. - Será como a primeira vez! - disse antes que ele se pronunciasse tentando concertar meu comportamento, a ultima coisa que queria era ser castigada, pelo que tinha ouvido não exatamente divertido.
-Ótimo senhorita. - ele forçou um sorriso amarelo e deu as costas voltando a falar algo sobre o reino dos animais que eu não fazia ideia do que se tratava.
Juntei os livros e os coloquei na mochila verde musgo que todos os alunos eram obrigados a usar e me dirigi até o salão onde normalmente acontecia todos as sessões de cinema com o mesmo filmes repetidos. Deveria ser a terceira vez desde que chegara que era obrigada a assistir aquele filme. Me sentei no fundo em meio a algumas almofadas e recostei na parede, George estava mais a frente no meio de alguns garotos, apesar de não admitir ele usava aqueles momentos pra passar a mão em outros garotos, alguns nem pareciam se importar. Logo as luzes se desligaram e eu recostei a cabeça na mochila na tentativa de tirar um cochilo enquanto o filme passava.
Um estrondo me fez levantar o rosto em alerta, era apenas uma cena do filme que por sinal estava muito alto. A maioria dos alunos estava deitado ou apoiado em alguma coisa e o silêncio assustador se instalava.
-.... -virei o rosto na direção da porta central do salão vendo a sombra de alguém contra a luz de outro cômodo do casarão espremi os olhos tentando ver quem era, mas não pude. Me levantei aproveitando a distração de todos ali, queria saber quem era. Logo quando me aproximava a sombra se transumou em um vulto que atravessou o cômodo na frente entrando no corredor de banheiros do primeiro andar. Apressei os passos quando o vulto entrou no banheiro feminino, puxei a porta e entrei sendo pega de surpresa pela escuridão. Procurava pelo interruptor quando dedos envolveram meu ombro, congelei sem reação.
-Ju..justin? - foi a primeira coisa que me veio a cabeça, afinal ele tinha feito uma brincadeira semelhando na biblioteca. Virei-me na tentativa de agarrar a mão quando a luz acendeu me dando a visão do banheiro completamente vazio. -Isso não tem graça! - adverti irritada, ainda assustada, mas irritada. Vasculhei os boxes procurando por alguém, mas eu era o único ser ali dentro.
-Milady? - dei um pulo ao ouvir sua voz e levei a mão ao peito me virando pra ele.
-Mas que diabos pensa que esta fazendo? - encostei-me a uma das portas na tentativa de me recuperar.
-Você me chamou, então vim. - ele disse um pouco desconfiado da minha reação.
-Não, você queria me assustar me atraindo ate aqui. - me ajeito ficando de pé e o encarando.
-Não Milady, não fiz nada do que diz. Nem mesmo a atrai ate aqui. - ele afirmou me fazendo duvidar da minha sanidade, suspirei me lembrando do que aquilo se tratava.
-Deixa pra lá, as vezes me esqueço que é só um sonho, devo ter misturado com algum pesadelo. - relaxei finalmente e sorri ao ver a confusão estampada em seu rosto.
-Um sonho? -ri balançando a cabeça.
-Mas é claro, ou acha que isso é real?
-E se fosse? - ele indagou e quase caí na gargalhada.
-Se fosse real eu estaria completamente lélé da cuca por estar transando com um tarado de mais de cem anos, ainda que bem conservado.
-Haveria outras possibilidades - ele soltou um longo suspiro e afundou as mãos no bolso da calça preta.
-Como você ser um fantasma? - debochei e eu não me segurei rindo. - Sinto lhe informar, mas é tudo da minha cabeça, eu tenho sonhos eróticos com você por ter lido o diário de Heloise e nada mais. - fazia gestos enquanto tentava convencê-lo, mas o homem manteve a mesma pose sem se mover um centímetro.
-Mas tudo que sentimos foi real. -ele argumentou se aproximando e tocando meus ombros acariciando a curva do meu pescoço - Cada vez que lhe toquei, que a fiz gemer. - estremeci com seu contato visual e me desvencilhei.
-Ora, não vou discutir com você. Apenas aceite que não é real e isso acaba.
-E quanto as suas duvidas? - me soltei dele franzindo o cenho. -Esclareça-as! -ele pediu como se de alguma forma me implorasse que lhe fizesse dizer algo.
-Já chega! Quer saber, eu não quero mais sonhos eróticos com você, é maluco! - afirmei dando as costas a ele e seguindo ate a porta.
-Mas milady... -olhei pra trás o vendo de cabeça baixa.
-Você não é real! - repeti em um tom mais alto. -Apenas um sonho, nada mais.
Repliquei atravessando a porta e voltando em passos rápidos ate o salão. Me deitei onde estava e espremi os olhos tentando voltar a dormir pra quem sabe acordar.(...)
Penteava o cabelo sentada em minha cama, por um instante meus olhos foram parar na gaveta onde tinha deixado o diário. Não tinha tocado no amontoado de folhas velhas desde o dia anterior e não pretendia tocar no mesmo novamente. Tinha me divertido com aqueles sonhos, mas era hora de parar, aquilo estava me tirando o sono e perturbando minha mente a todo momento. Sendo assim. Decidi não ler mais, seguiria com meus dias tediosos naquele internato e fingiria que nunca tinha acontecido.
Prendi o cabelo com uma liga no alto da cabeça, peguei a toalha e algumas peças de roupa indo em direção ao banheiro. Era cedo e provavelmente todos estariam começando seu afazeres, ocupados demais pra me importunar durando o banho. Pendurei a toalha junto as roupas no cabideiro na porta do boxe de vidro embaçado e me despi abrindo o registro. A água morna molhou meu corpo relaxando-me, sempre que entrava li me lembrava dos banhos quentes que tinha em casa, felizmente se acordasse cedo tomava mornos, mas no resto do dia eram banhos frios. Segundo a dona Catalina era pra manter os alunos alerta e longe de sensações não desejadas. Mas sabia ela que os meninos batiam uma durante a noite e as meninas se tocavam durante o banho.
Estava de olhos fechados relaxando quando a água esfriou de repente. Me afastei da ducha olhando pra cima e vendo que o mesmo já parecia completamente desligado. Maldito eletricista!. Praguejei tomando coragem pra voltar a ducha e tirar o resto de sabão do corpo.
De repente a porta do box se abriu lentamente, congelei sentindo o pavor atacar meus nervosos me privando de qualquer movimento. Tudo que vi foram pés descalços ate ter coragem de levantar o rosto seguindo as calças pretas, a camisa branca e por fim o rapaz com um meio sorriso malicioso estampado em seu rosto. Era Justin, mas eu não me lembrava de ter ido dormir.
-Eu sou real! - ele afirmou convicto, abri a boca tentando formar algo mas nada parecia sair. -E lhe provarei. - deu um passo a frente e consequentemente eu dei um pra trás chocando as costas na parede fria e por pouco não me machucando no registro. -E se ainda quiser que eu suma, eu sumirei. -ele voltou a se aproximar e eu levantei as mãos pouco assustada como quem pedia que ele se afastasse. - Você é linda. - ele sussurrou parando a centímetros de mim, ai então percebi que estava sem roupa alguma junto aquela alucinação no box.
-Por favor... -murmurei com a voz um pouco esganiçada pelo temor.
Ele passou a mão no cabelo que começava a despentear pela água que espirrava.
-Apenas me deixe provar, não te machucarei. - engoli a saliva e fechei os olhos.
-Você não é real, é tudo da minha cabeça. Você não é real -proferi ainda com a voz falha.
Seus lábios pressionaram-se contra o meus, no primeiro momento me segurei, não cederia, por mais que a sua língua teimosa tentasse invadir minha boca e se enroscar na minha, mas bastou sua mão tocar meu quadril e apertar levemente pra que eu me perdesse. Seu toque era quente, e fazia minha pele formigar exigindo por mais. Segurei sua camisa o trazendo mais pra mim, precisava de mais do seu beijo. Do macio dos seus lábios, mais de seu toque ousado. Suguei seu lábio entrando me arrepiando com a sua mão que subia sorrateiramente pela minha costela e tocava a ponta do meu seio espremendo entre os dedos, mas logo o tomava o apertando virilmente.
Sem qualquer aviso ele afastou a boca da minha, mas sem deixar de me tocar.
-Agora acredita? - ele sussurrou rente ao meu rosto.
-Preciso de muito mais que isso pra acreditar em você. - afirmei encarando seus olhos castanho claro.
-Então terá.-----------------------†------------------------
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Página Vinte Seis
Mystery / ThrillerSeja bem vindo a Chermont ! Um internato para adolescentes renegados por suas famílias. Onde qualquer insanidade se transforma na melhor distração. O lar de criaturas que se escondem nas sombras e te enfeitiçam com sua luz. Almas solitárias...