Justin P.D.V.
Estar morto era uma condição a qual já havia aceitado a muitas décadas, afinal de contas não havia milagre celestial que pudesse me trazer de volta. Estou morto e ponto. No entanto, nunca me incomodou ser apontado nesta forma, até tê-lo ouvido de forma tão fria pela boca de minha doce Sabine. Era diferente de quando o assunto surgia em meio de nossas conversas, naquela época parecia apenas um detalhe e agora era a confirmação. Ela estava fora do meu alcance, pois não há nada que possa lhe oferecer além de alguns momentos de prazer. Nem mesmo posso lhe fazer companhia como aquele bastardo de olhos azuis faz.
Como odeio aquele imbecil sortudo. Queria ser ele, entregar flores a garota e beijar seus lábios em público. Na verdade, me bastava estar vivo. Só queria estar vivo.
Carma. Por todas as vezes que me aproximei de outras e nada fiz para impedir que se machucassem. Afinal de contas é isso que faço, destruo as coisas, prova morta é Heloise. Sou como o vento frio que toca seu rosto ao cair da noite, pareço inofensivo mas posso ser letal. Basta esperar até seu corpo cair enfermo no dia seguinte. Tudo que toco é destruído.
Mas a questão é que agora meu coração, ou que quer que seja que ocupe o espaço dele hoje vive em agonia, com medo de que ela seja a próxima da lista. Não tenho mais forças para carregar a morte de quem amo nas costas, se algo acontece a Sabine, estou perdido. Não há mais possibilidade de redenção, sucumbirei a escuridão e dela farei morada até que minha alma de dissipe com o tempo.
Por isso resolvo tomar uma decisão, enfrentar o grande fantasma e dar um jeito de protege-la, ainda que isso custe o pouco que ainda tenho.
Rastejando pelas sombras posso ver seu rastro, as flores mortas e o cheiro de cemitério, seria um belo poema se não estivesse certo de que ela me surpreenderia atravessando um martelo em meu crânio transparente. Ao transpassar uma parede vejo sua silhueta a frente da janela sendo iluminada por uma falsa luz. Seus fios dourados estão presos em um penteado de época, veste o mesmo vestido de seu último aniversário. Deixando visível pele o suficiente para que lembre daquela noite. Uma Heloise que amei e não existe mais.
-Justin? Meu querido Justin veio me ver? - tem excitação na sua voz, mas tenho receio de me aproximar.
-Heloise, você tem que parar.
-Parar o que meu amor? Gostar de ti, não conseguirei mesmo que meus país proíbam, eu te amo. - seu tom é calmo, como um cantiga.
-Me escute! - peço tentando ignorar o efeito que sua voz tem sobre mim.
-Eu estou. Estive pensando.... - ela se vira mostrando um belo sorriso, sua pele branca reluz, seus lábios são tão vermelhos quanto morangos. -Deveríamos fugir, apenas eu e você para um lugar para onde não poderão nos superar. - ela se aproxima.
-Isso não é real. - reluto contra a energia cintilante que me guia até ela.
-Meu amor é real. O seu também. - suas mãos tocam meu rosto.
Ela é como um grande aspirador de energia, estou zonzo e a minha cor oscila. Sei bem o que esta fazendo, mas não consigo lutar contra, na verdade nunca consegui, nem mesmo quando estava vivo.
-Pare, por favor! - peço tocando suas mãos e tentando afasta-la.
-Diga que me ama. - pediu e inclinou-se pressionando os lábios contra os meus. Ela é frigida, sem gosto, sem calor. Seus lábios parecem pedras sem vida. - Diga que me ama. - pede outra vez abrindo os olhos para me encarar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Página Vinte Seis
Mystery / ThrillerSeja bem vindo a Chermont ! Um internato para adolescentes renegados por suas famílias. Onde qualquer insanidade se transforma na melhor distração. O lar de criaturas que se escondem nas sombras e te enfeitiçam com sua luz. Almas solitárias...