Toda casa antiga provavelmente contém um espaço embaixo do assoalho, específico para guardar coisas velhas, popularmente conhecido como porão. É normal ouvir falar deste lugar ou até mesmo ver cenas em filmes quando o assunto é guardar segredos. Também são caracterizados como o local assombrado do imóvel, onde os fantasmas se escondem e aranhas tecem suas enormes teias de maldição. Em minha humilde opinião não se passava de uma sala onde deixavam o que já não tinha mais uso, como o quarto do meu avô em minha antiga casa.
Ferrugem não conseguia esconder sua animação em brincar de caça ao tesouro, como ele mesmo dizia, diferente dele não estava tão curiosa para encontrar algo surpreendente embaixo de nosso assoalho, apesar de querer sempre meter o nariz onde não era chamada, dessa vez tinha receio de que realmente pudesse encontrar algo, do tipo que não deveria saber. Mas não desisti, não poderia, não estando parada á frente da porta que dava para o porão. George me entregou a lanterna e segurou outra em mãos, fez sinal para que eu desse um passo para trás e então forçou a porta segurando com cuidado.
O ruído estridente da porta arranhando no chão de madeira velha me fez encolher os ombros e fazer uma careta, olhei rapidamente para o lado oposto verificando se ninguém aparecia, não houve um barulho sequer indicando que tinham ouvido o barulho da porta. George me olhou receoso e indicou com a cabeça pra entrássemos. Como previsto, apesar da luz que entrava pela meia porta aberta, estava tudo um completo breu. Girei o botão da lanterna e apontei para frente vendo o corredor subterrâneo.
- Será que nos ouviram? - o ruivo disse baixinho ligando sua lanterna e iluminando o teto assustadoramente baixo e sujo acima das nossas cabeças, agradeci mentalmente por ser apenas sujeira e não morcegos prontos para nos assustar.
- Acho que não, e mesmo se tiverem ouvido todas as portas nesse mausoléu fazem barulho. - abaixei o olhar notando o chão coberto de poeira.
Queria correr até a outra ponta, só para não ter que prestar atenção nos desenhos e manchas que as paredes carregavam por toda sua extensão. Marcas como a de garras de gatos seguiam até metade do chão, se não achasse ser impossível diria que eram humanas. Apesar das manchas amareladas que pareciam ter escorrido até secar o local não exalava qualquer odor, na verdade parecia ate arejado, como se o frequentassem como qualquer outro comodo imóvel. Apressei os passos ao notar que George havia passado por mim e já estava no fim do corredor, instantes depois parei ao seu lado analisando as duas portas uma semi aberta e a outra não. Por instinto forcei a maçaneta da que estava completamente fechada.
-Trancada! - constatei me afastando e dando meia volta até a outra.
-Tem certeza? - a mão suada do ruivo agarrou meu pulso impedindo-me de continuar.
-A ideia foi sua, não vai amarelar agora né? - me soltou e rolou os olhos.
-Claro que não, mas se estiver com medo pode voltar, me viro sozinha. - e foi então minha vez de revirar os olhos soltando um suspiro entediado. - Só estou dizendo que depois da visita ao museu você ficou toda estranha, vai que agora... - me virei dando as costas a ele e entrando na sala, me espremendo pela porta entre aberta, não quis força-la e acabar fazendo mais barulho.
Ergui a lanterna iluminando o lugar por todos os lados. Aquele parecia ser sim o porão, julgando pela quantidade de caixas empilhas em meio a saleta, as teias de aranha e os lençóis que cobriam o que acreditava ser mobilha velha. Me movi dando alguns passos a frente, o chão embaixo dos meus pés era diferente, a madeira velha era substituída por concreto liso, o que deveria explicar a sensação de queda de temperatura ali. Contrário de todo resto aquele local era particularmente frio, não do tipo que precisaria de um casaco, mas deixava os fios da minha nuca arrepiados. Parei a frente da primeira pilha de caixas, movida pela curiosidade, em poucos instantes puxo as extridades da caixa e aponto a lanterna verificando o que tinha ali dentro. Peças de xadrez entalhadas em madeira, algumas pintadas em preto, outras não. Fecho a caixa e a afasto da pilha realizando o mesmo ritual de abertura com a seguinte. Para a minha frustração se tratava apenas de panos velhos, retalhos mais precisamente.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Página Vinte Seis
Mystery / ThrillerSeja bem vindo a Chermont ! Um internato para adolescentes renegados por suas famílias. Onde qualquer insanidade se transforma na melhor distração. O lar de criaturas que se escondem nas sombras e te enfeitiçam com sua luz. Almas solitárias...