XIII.

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Me encolho sobre a cadeira fungando. O odor de fumo incomodava minhas narinas e eu desejei vomitar ao ter que encanar novamente a face enrugada de Tadeu Cross. Fito o quadro a minha frente, aquele mesmo com a pintura religiosa destorcida, estava mais cinzenta que o normal, mas não em um total as chamas continuavam lá, vivas, prontas para me consumir. 

Ouço o arrastar de botas velhas no assoalho barulhento e presumo que seja o velho Cross, estava levemente manco, porém não perdia o ar maligno estampado em sua carranca. Jogou-se encima de sua poltrona, puxou o cachimbo na beirada da mesa e enfiou o dedo no objeto amassando o fumo velho. Desvio o olhar imediatamente bufando, meu estômago revira novamente. Aperto os braços envolta das pernas e apoio a cabeça encima dos joelhos, queria sair daquele calabouço o mais rápido possível. 

- Quarta vez em minha sala em menos de seis meses, que diabos andas fazendo senhorita Pitesburg. - ele resmunga, mas não me dou ao trabalhado de olhar para ele. - Isso é péssimo para a minha reputação como aconselhador dos alunos, ajudo todos que vem até mim, mas você esta saindo do meu controle. 

-Que pena para você. - respondo voltando a fungar.

-Para mim? - ri maldoso e posso jurar que leva o cachimbo aos lábios. - A única pessoa que perde com você se comportando como uma maluca neste instituto é você mesma minha cara. - não gostei do seu tom de voz, soou ameaçador, mais do que o normal. - Serei obrigado a tomar decisões extremas senhorita.

-Extremas? - fito seu rosto receosa. - Pretende me trancar na dispensa e esperar que minha suposta loucura passe? - pergunto irônica.

-Não parece má ideia, porem não sou adepto de métodos tão retrogados. - faz uma pausa procurando por algo sobre sua mesa irritantemente organizada. - Iremos conversar e se for necessário lhe colocarei sob medicação, em ultimo caso tratamento de choque. - pensei em rir, mas algo me diz que ele não estava brincando.

-Meus pais nunca deixariam você me diagnosticar e dar inicio a um tratamento fora dos padrões médicos. - engulo em seco fechando as mãos em punho.

-Tanto deixariam como o fizeram, o contrato que assinaram quando lhe deixaram aqui nos dar pleno poderes para fazer o que for necessário para garantir seu bem estar, incluindo procedimentos médicos. - afirma calmo demais para um psicopata. Encontra um isqueiro quase vazio e acende seu cachimbo.

-Só diz isso para me assustar. - resmungo. Meu corpo estremecesse e meus olhos ardem com o pavor de que aquilo fosse realmente possível.

-Então pague para ver Sabine, deixe de se comportar, falte as tarefas e se exclua do grupo a que pertence e veremos se não poderia colocar-lhe em uma camisa de forças. - se exalta espalmando a mão na mesa, inclina-se em minha direção apontando o dedo torto em minha direção. - Irei lhe consertar, como fiz com todos os outros que vieram até aqui. - me encolhi na cadeira assustada.

-Você é insano. - sussurro abalada com a sua reação.

-Sabe o que eu acho insano? Um garota de dezesseis anos tentar afogar a irmã de dois anos na banheira, empurrar o corpo da criança na água quente e esperar até que um bebê vire uma bola roxa sem ar, por puro prazer. - tampo os ouvidos atordoada com o que dizia. - Isso é insano Sabine, ser uma psicótica assassina. - gritou alto.

Fecho os olhos apertando tanto minhas pálpebras que chegam a doer. Não conseguia ouvir, suas palavras traziam lembranças que me causavam dor, como uma lâmina afiada cortando meu tórax de ponta a ponta. As lágrimas molham meu rosto enquanto peço que ele pare com aquilo, não poderia aguentar, não depois de tudo que vivi nos últimos dias. Estava exausta, minha mente pedia socorro implorando para ser desligada e ter um pouco de paz.

Página Vinte SeisOnde histórias criam vida. Descubra agora