Era quarta feira de manhã e eu deveria estar na sala de Tadeu Cross ouvindo mais um de seus intermináveis discursos sobre o quanto eu parecia culpada e minha raiva reprimida estava afetando meu comportamento e consequentemente os outros alunos. Ironicamente tinha ciência de nem ao menos vinte e cinco por cento dos internos sabiam o meu nome ou menos que eu era, muito menos se afetariam com qualquer possível surto que Tadeu acreditaria que eu estava tendo ou teria. Ele era um velho babaca que não tinha mais o que fazer além de fumar aquele cachimbo nojento e encher o meu saco. Nota-se que acordei com o pé esquerdo, um mal humor terrível me cercava, queria ficar na cama e esperar até que me sentisse melhor, mas isso implicava ter de encarar a cara de vagabunda da Leslie o resto do dia. A vadia havia enganado Dona Catalina dizendo que estava com cólica e não conseguiria assistir as aulas, ingênua a mulher caiu em tal mentira.
Limpava a mão suja de biscoito no moletom cinza que estava vestindo, o clima havia mudado completamente, os dias de sol pareciam se despedir de Sinevillage, o clima estava frio e lá fora parecia garoar, era uma pena afinal pretendia ir até o lago novamente.
Cocei a nuca ao me lembrar que estava indo na direção errada, seguia para a sala de Tadeu, no entanto não o visitaria hoje, preferia assistir a aula de inglês com o professor barrigudo que sempre chegava atrasado e ainda usava suspensórios, precisava apenas, pegar meu material. Dei meia volta correndo, como de costume, pelo corredores até alcançar a porta do quarto. Giro a maçaneta ouvindo o ranger da porta e coloco um pé para dentro observando o quarto. Arregalei os olhos ao ver Leslie sobre minha cama, vasculhando a gaveta da cabeceira, meu primeiro instinto foi pular encima dela e puxar seu cabelo cor água de salsicha para fora do quarto, mas respirei e contei até três antes de me pronunciar.
-Como dizem, o dono saí e o rato, ou melhor, a rata faz a festa. - ela se assustou com o meu tom de voz e deixou cair no chão algumas coisas que segurava, incluindo meu Ipod, o único contato com o mundo exterior que ainda tinha.
-Só estava procurando um absorvente, não queria suas porcarias. - rolei os olhos descrente com a sua mentira.
-Nos poupe Leslie, de o fora da minha cama e deixa minhas coisas em paz. - ela estava prestes a levantar quando pareceu desistir, me encarou com seu nariz exageradamente empinado e sorriu indiferente.
-Ou o que Sabinezinha? Vai sair correndo para contar aos diretores, de novo? - debochou me forçando a fechar a mão esquerda em punho, como queria socar sua cara naquele instante. - Nada de violência, ou vai acabar de castigo de novo. - fechei os olhos procurando forças para não me deixar levar por suas provocações.
-Você esta testando a minha paciência no dia errado, saia da minha cama. - repeti sendo rude. - Vem falando a língua das vadias a tanto tempo que não consegue compreender um bom português agora? - grunhi sentindo minhas unhas forçarem a pele da minha mão machucando.
-Você acabou de me chamar de vadia? - perguntou se exaltando. Pulou da cama e veio em minha direção apontando o dedo. - A única vadia aqui é você, todos sabem. Vai negar que fica por ai se esfregando em todos? Seduziu até o pobre do Tim, você não presta, promíscua. - Por um instante me esqueci da vontade de agredi-la e quis rir. Seu novo alvo era o Tim, ótimo.
-Desde quando você se preocupa com ele? Não vai me dizer que esta apaixonada por ele, por que se for sinto lhe avisar que ele não vai olhar pra você, aposto que sente nojo dessa sua cara de vadia asquerosa. - cuspi as palavras em sua cara. Um sorriso glorioso apareceu em meu rosto quando ela pareceu atingida com meu comentário, mas não durou, vez que logo depois sua mão áspera acertou meu rosto em um tapa certeiro.
Fiquei em choque. Apesar de já termos brigado antes, não imaginava que as coisas chegariam a isso novamente. Minha bochecha ardeu onde sua mão pegou, tive vontade de chorar, mas me segurei.
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Página Vinte Seis
Mystery / ThrillerSeja bem vindo a Chermont ! Um internato para adolescentes renegados por suas famílias. Onde qualquer insanidade se transforma na melhor distração. O lar de criaturas que se escondem nas sombras e te enfeitiçam com sua luz. Almas solitárias...