Cap.8 | Discussões e provocações

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Na semana seguinte, como eu havia dito, terminei o meu expediente no museu e fui diretamente para o estúdio. Caminhei em passos rápidos e parei em frente ao estabelecimento, ponderando sobre o que eu deveria fazer naquele fatídico momento.

Por fim, não demorei muito para tomar uma decisão. Eu não estava disposto a ficar parado na calçada como um idiota a espera de Yamaguchi, além da possibilidade do garoto ao menos estar de volta a Miyagi. Diante de tais fatos, resolvi entrar no lugar.

Após abrir a porta, me mantive paralisado no lugar ao avistar, de imediato, o garoto de sardas sentado casualmente no sofá.

Yamaguchi... — Seu nome escapou de meus lábios assim que nossos olhos se cruzaram.

— O que foi? Você está "apenas de passagem"? Ou você acabou se perdendo no caminho para casa? Não sei se você percebeu, este é um estúdio de tatuagem e não um posto de informações.

Relaxei meu corpo tenso em um longo suspiro, dei um pequeno passo para dentro do estúdio e me senti vulnerável assim que meus dedos finos largaram a maçaneta da porta. Por conseguinte, andei até onde o garoto estava, finalizando minha curta caminhada ao parar há alguns metros do sofá.

Até quando você fará isso? O que você quer ao me tratar dessa forma? Me fazer sentir que sou um lixo?

— Você já é.

— Já chega! — Tais palavras soaram de modo ríspido. — Eu sou realmente o único tentando consertar as coisas entre nós?

— "Nós"? — Ele repete, em seguida, sua cabeça cai levemente para o lado e seus lábios se curvam em um sorriso travesso. — Então existe um "nós"?

— Você entendeu o que eu quis dizer! Não mude o sentido de minhas frases!

— Hm... que chato.

Ele se moveu brevemente, se deitando no sofá de forma relaxada. Seu cabelo caiu em seu pescoço e, devido a roupa larga, sua clavícula marcada ficou a mostra. Então, de repente, a voz de Koganegawa surgiu em minha cabeça, repetindo o que ele disse a respeito do mais baixo há dias atrás: "Yamaguchi ficou bem atraente, não é?".

Normalmente, eu não me incomodaria com tal visão, porém, após relembrar o dito, eu fiquei constrangido de imediato.

Não, não! Que merda você está pensando? Por que isso agora?! — Falei comigo mesmo enquanto batia levente o punho em minha cabeça.

— Você está drogado ou algo assim? — Yamaguchi questionou enquanto assistia curiosamente minha briga interior.

Eu estou bem. — Me recompus rapidamente. — Não ligue para isso!

— Ah, tá. Enfim, por que você está me procurando há tanto tempo? — Ele relaxou seu corpo ainda mais entre as almofadas do móvel.

Desculpe...? — Indaguei.

— Você veio na semana passada procurar por mim, não é? E voltou uma semana depois só para me ver. Você está obcecado por mim? Eu estou começando a cogitar seriamente em te denunciar como stalker. — Ele provoca.

Aquela montanha de músculos acéfala disse que não iria contar nada sobre eu ter vindo aqui da última vez...!

Não exagere! Isso me irrita.

— Eu estou exagerando? — Sua voz soa inocente.

Seus dedos embranquiçados brincavam com seu próprio cabelo e o tecido fino de sua roupa deslizava cada vez mais pelo seus ombros.

— S-sim! Você está! — Acabei não conseguindo me pronunciar com tanta segurança, já que tal visão estava me constrangendo mais a cada segundo que passava.

— Você me segue até em casa e agora me persegue em meu trabalho... Isso soa meio doentio, não é?

Eu estava perdido em minhas palavras, sem saber lhe dar uma única resposta coerente enquanto minhas mãos suavam diante o nervosismo que percorria todo o meu ser.

O pior de tudo, é que a culpa disso tudo era somente minha, já que eu realmente estava o seguindo obcecadamente. Mas, só agora, vendo seu sorriso perverso, tomei a consciência de que era exatamente isso o que ele queria que eu fizesse...

Eu realmente não vou mais perder o meu tempo com esse tipo de conversa. — Pronunciei e me dirigi até a saída.

— Oye, Kei! Vamos lá, me diga ao menos porquê está aqui! Você veio especialmente para me ver e eu quero saber o motivo.

Não se coloque no centro de tudo. — Tentei falhamente me esquivar de suas provocações.

— Se você não veio por mim, veio pelo o quê? Você não está aqui para fazer uma tatuagem, de qualquer forma...

E se eu estivesse...? — Virei-me para ele, com o intuito de surpreendê-lo, conseguindo com êxito.

— Eu não acreditaria. — Yamaguchi finalmente se levanta e se coloca a minha frente. — Você não teria coragem para fazer algo assim.

Sua expressão de superioridade acaba por me irritar ainda mais.

Você realmente acha isto? — Pronunciei com convicção.

Nossos olhares se cruzaram por longos segundos, já que Yamaguchi procurava por qualquer resquício de hesitação em meu olhar, porém eu me mantinha confiante, mesmo que realmente não estivesse disposto a fazer a tatuagem.

Por fim, após não encontrar insegurança em minhas ações, o garoto balançou levemente a cabeça e riu baixo antes de começar a se afastar.

— Certo, então vamos lá. — Ele diz pegando algumas coisas de baixo de um balcão. — Já sabe que tatuagem irá fazer?

Escolherei quando Yamazaki estiver aqui. — Respondi.

— Ele precisou tirar alguns dias de férias para visitar a ex-mulher em Fukushima. — Yamaguchi falou.

Oh, é uma pena. Me avise quando ele voltar. — Falei ao me virar novamente para me retirar do estúdio.

— Mas por que você quer esperar por ele? Eu sou a pessoa responsável pelas tatuagens.

Suas palavras me fazem parar no meio do caminho e a perplexidade logo toma conta de meu rosto. Em seguida, virei meu rosto lentamente em sua direção e fiquei ainda mais sem reação quando o vejo colocando um avental preto.

Estou realmente tão perdido nessa situação que não consigo mais pensar direito??!! É óbvio que Yamaguchi poderia ser um tatuador, eu apenas não queria acreditar...

Você, por acaso, está dizendo que...

— Por que está tão surpreso? Você não achou que eu trabalhava na parte administrativa, não é?

— É exatamente o que eu pensei. E ainda penso...!

— E então, Tsukishima Kei... — Ele anda até mim em passos lentos e para na minha frente, há poucos centímetros de mim. — Diga para mim, o seu tatuador, qual tatuagem você quer que eu faça.

Eu não vou deixar você me tatuar, Yamaguchi.

— Está com medo? Não achei que você se acovardaria desta forma. — Ele me olha intensamente, jogando a cabeça para o lado e sorrindo. — Kei, se você não é homem o suficiente para sustentar suas provocações, por que as faz?

Estremeci diante sua fala que acabou me deixando ainda mais irritado do que eu já estava.

E, em um momento de pura insanidade causada pela ira, tomei uma péssima decisão. Passei pelo menor, trombando meu corpo em seu ombro propositalmente e me sentei na cama preta forrada pelo plástico.

Faça qualquer coisa em algum lugar que eu possa esconder com minha roupa. — Falei. — Não fique aí parado! Ande logo com isso! Quanto mais rápido isso começar, mais rápido terminará.

Urusai|うるさい • [Tsukiyama]Onde histórias criam vida. Descubra agora