Cap.6 | Apenas mais um jogo

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Sempre terá aquele fatídico momento da vida em que você toma uma decisão precipitada e, quando percebe, é tarde demais para voltar a trás. Bem, estou passando por esta situação agora mesmo, já que, por estar desestabilizado pela minha perplexidade diante o que Yamaguchi fez, tomei a péssima decisão de seguí-lo.

A cada passo que eu dava, apenas me sentia cada vez mais estúpido por estar fazendo isso. Mas, como eu já comecei com toda essa idiotice, iria até o fim!

Andava atrás de Yamaguchi, distanciando-me dele o bastante para que não me notasse ou para que não sumisse do alcance de meus olhos.

Ele entrou em uma mercearia e eu preferi esperar do lado de fora, já que seria um pouco difícil – e ridículo – para um homem de quase 2 metros se esconder entre as prateleiras do local. E, após aproximadamente 15 minutos, ele saiu da loja e ascendeu um cigarro.

Um grupo de adolescentes sentados ali perto chamou a atenção de Yamaguchi, que se aproximou lentamente quando um dos estudantes jogou a embalagem de um sanduíche no chão do estacionamento.

— Jogue no lixo. — Disse antes de tragar seu cigarro.

— Quem você acha que é? — Um deles perguntou enquanto todos riam.

Yamaguchi agachou perto dos mesmos e voltou a se pronunciar, desta vez, emanando uma áurea ameaçadora e falando com uma voz séria e um pouco mais grave que o comum:

— Eu não costumo repetir meus avisos. Se querem ser adolescentes imundos, sejam na porra da casa de vocês. Então, eu acho bom alguém pegar aquela embalagem e jogar no lixo agora mesmo, porque não haverá um terceiro aviso.

— C-calma, cara. — Um deles se levantou e apanhou o plástico mencionado anteriormente. — Não há porquê ficar irritado. É só uma embalagem...

— Irritado? Eu não estou irritado. — Disse ao liberar a fumaça inalada. — Ainda.

Ótimo, ele intimida adolescentes problemáticos agora...

— S-sentimos muito. — Outro deles disse.

Yamaguchi suspirou, relaxou sua expressão e se colocou de pé novamente.

— Bem, okay. O problema já foi resolvido, de qualquer forma. Apenas não façam mais isso.

Após o dito, o de sardas tragou o seu cigarro e se virou para ir embora. Esperei ele se afastar um pouco antes de voltar a seguí-lo, o que me fez ter a oportunidade de ouvir os comentários dos garotos após a saída de Yamaguchi.

— O que foi isso? — Um deles se pronunciou. — Que cara louco.

— Vocês não ficaram realmente com medo, não é? — O mais alto do grupo riu.

— Você não viu aquelas tatuagens? Ele pode estar ligado a uma gangue, ou até a Yakuza! — O mais baixo pareceu intimidado.

— Não é pra tanto, não diga besteiras! Ele apenas... parece um pouco perigoso.

Voltei a caminhar com tal palavra ecoando em minha cabeça: "Perigoso". Era assim que eu devia considerá-lo agora? Eu não conhecia mais Yamaguchi, portanto não podia ao menos imaginar o tipo de pessoa que ele havia se tornado nesse período de tempo em que perdemos o contato.

Agora, seria Yamaguchi alguém perigoso?

Estava tão imerso em meu monólogo interior que ao menos percebi quando ele parou de andar de repente, assim que um cão de rua se aproximou dele.

Droga! — Pronunciei recuando um pouco, já que eu poderia ter sido pego agora.

Iti mu deus! Quem é o cachorrinho mais fofo da rua? Quem é um bom meninão? Sim, bebezinho, é você, neném! — Yamaguchi falava com uma voz fina enquanto acariciava e brincava com o cão.

O que? O que é isso? Como pude pensar que ELE fosse perigoso? Yamaguchi continua sendo o mesmo idiota de sempre... E de certa forma, saber disso me deixa um pouco mais aliviado.

Volto a caminhar assim que ele se põe a andar também. Mas ele logo para novamente para cumprimentar uma idosa que estava em frente a uma loja de jornais. Por causa da minha distância, não pude ouvir o que ambos conversaram brevemente. O garoto lhe entregou algo, em seguida, seguiu seu caminho e eu voltei a acompanhá-lo de longe.

— Tsukishima Kei? — Ouvi a voz cansada soar e parei imediatamente de andar.

Olhei na direção de quem havia chamado meu nome e avistei a senhora que conversara com Yamaguchi há segundos atrás.

Oh... Sim? — Falei.

— Alto, loiro, bonito e de óculos. Assim como Tadashi-kun descreveu. Ele me pediu para te entregar isto.

A idosa abriu sua mão, revelando um pequeno papel dobrado, tal qual não hesitei muito em apanhar para que eu pudesse ler logo o seu conteúdo:

“Você virou um stalker agora? Eu deveria denunciar você?... Haha! Se estava tão desesperado assim para saber o meu endereço, era só ter pedido com carinho, Kei.

Amassei o bilhete e cerrei os dentes com força, não conseguindo conter minha irritação por ser feito de idiota por ele mais uma vez.

Ele sabia o tempo todo que eu estava o seguindo!

— Obrigado por ter me acompanhado até em casa. Foi muita gentileza da sua parte. — Ouvi a voz de Yamaguchi. Levantei meu rosto, olhei para cima e o avistei na sacada de um alojamento do apartamento ao lado. — Até mais, Tsukishima Kei!

Eu não consegui dizer nada, apenas permaneci irritado na calçada e acompanhei com os olhos o garoto entrando dentro de sua casa e me ignorando completamente mais uma vez.

Eu nunca tive a mínima noção do peso que assuntos inacabados poderiam ter em nossas vidas até que eu finalmente passasse por tal experiência, assim como agora. E é um sentimento horrível, pelo menos para mim que nunca tinha passado por isso antes. Eu não estava acostumado com a sensação de algo corroendo meus pensamentos a ponto de que isso me fizesse perder o foco de tudo ao meu redor.

— Ei, velhote. — Ouvi a voz infantil e logo olhei para baixo, avistando a criança de aproximadamente 9 anos que veio ao museu em um passeio escolar. — Você também gosta de dinossauros?

A minha situação está tão deprimente que não estou conseguindo nem focar em meu trabalho. Eu só quero ir pra casa...

Sim. — Respondi.

— Você já viu um de verdade? — O pequeno segura meu casaco e começa a puxá-lo.

Não.

Me senti incomodado ao perceber as sardas em seu rosto alegre que me fizeram lembrar instantaneamente da pessoa que estava causando toda essa turbulência em minha vida.

— Por que?

Eles morreram. — Respondi ao começar a relembrar das atitudes recentes de Yamaguchi, com isso, não pude controlar minha irritação.

— M-morreram? Onde eles estão agora?? — Ele agarra ainda mais minha roupa e me olha com os olhos marejados.

No inferno.

— Tsukishima! — A voz de Saori surgiu perto de mim e logo senti a mão da mulher tocar meu ombro. — Poderíamos conversar por um minuto? Vamos para minha sala.

Eu dei um longo suspiro de exaustão antes de começar a andar em direção a sua sala. Já me preparando mentalmente para a conversa que iríamos ter.

Urusai|うるさい • [Tsukiyama]Onde histórias criam vida. Descubra agora