Cap.23 | Uma taquiomorfria

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Ponderei o caminho todo sobre minha situação, pensando no que eu poderia dizer para Yamaguchi assim que eu chegasse em casa, mas nada parecia ser o suficiente para que ele considerasse me perdoar e recomeçar tudo do início.

Além disso, a ideia de estar apaixonado por ele ainda era uma coisa totalmente nova para mim. Eu me sentia confuso e, como sempre, não sabia muito bem o que fazer com esse sentimento.

Quando enfim cheguei ao meu apartamento, abri a porta e estranhei o fato de todas as lâmpadas estarem apagadas, sendo a sala o único cômodo iluminado pela luz da lua que adentrava pelas portas abertas da sacada. Pensei na possibilidade do garoto ter saído e logo comecei a ficar aflito, mas meu coração voltou a bater normalmente assim que o vi deitado no sofá.

Deixei meus sapatos na porta e me aproximei do mais baixo que parecia estar dormindo. Sentei-me na beira do sofá e afastei uma mecha de cabelo do rosto alheio.

No final de tudo, eu pude retribuir os seus sentimentos. — Falei em baixo tom.

Meus dedos fizeram um último carinho em sua bochecha antes que eu me levantasse, pegasse o edredom e lhe cobrisse um pouco. Passei a observar o garoto adormecido por mais alguns segundos, em seguida, me pus a andar novamente, indo em direção ao banheiro para tomar um banho.

O dia no trabalho havia sido tão tranquilo que tive a sensação do tempo estar passando mais rápido que o comum. Eu não tinha muitas tarefas para cumprir na sala de documentos, então usei a maior parte do meu expediente para auxiliar os visitantes do museu.

Mais tarde, me dirigi até o clube do Sendai Frogs para treinar, como eu normalmente fazia. Me senti mais focado, consegui jogar normalmente e quase não cometi erros durante o treino, ocasionando na enxurrada de elogios de meu treinador que, diga-se de passagem, adorava puxar o meu saco.

Após meu treinamento, fui para o vestiário e tomei um banho relativamente demorado. Conversei brevemente com Kyoutani e Koganegawa antes de deixar o clube.

Estava tão aturdido no caminho para casa que mal percebi quando finalmente cheguei ao prédio, ficando surpreso e levemente confuso por ter chegado tão rápido ao meu destino.

Meus dedos alcançaram a superfície fria da maçaneta, hesitei por um curto momento antes de girar a mesma e entrar no apartamento mal iluminado.

Estou em casa... — Falei com pouca segurança enquanto deixava meus pertences e calçados na entrada.

— Bem-vindo de volta. — Ouvi a outra voz soar distante.

Meus olhos estreitaram-se pelo ambiente relativamente escuro e percorreram cada extremidade da sala de estar até finalmente notarem a silhueta de Yamaguchi na sacada. Aproximei em passos lentos e parei ao lado do garoto que fumava seu cigarro, ignorando completamente minha presença. Cruzei os braços e os apoiei na grade de segurança, observando as luzes da capital de Miyagi. 

Nós podemos conversar? — Perguntei timidamente, ainda olhando para o horizonte.

— Depende. — Respondeu ele.

Do que?

— Eu vou perder o meu tempo te ouvindo?

Finalmente virei meu rosto em sua direção e Yamaguchi fez o mesmo, aproveitando para soltar a fumaça inalada diretamente em minha face. 

Eu tenho algo importante a dizer. 

Após a minha afirmação, o de sardas manteve o silêncio durante alguns segundos, apenas fumando e me encarando, até que finalmente apagou seu cigarro, abandonando-o no cinzeiro.

Urusai|うるさい • [Tsukiyama]Onde histórias criam vida. Descubra agora