33 ▪︎ Futuro

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Dias atuais...

Daisy sentiu falta dele antes mesmo de abrir os olhos.

Seu corpo estava frio, ainda que houvessem lençóis, muito provavelmente postos por Adam, a cobrindo do pescoço aos pés, sua pele nua parecia saber que ela estava sozinha.

Um arrepio foi enviado até todas as suas extremidades, e seus dedos dos pés torceram quando um calafrio a fez tremelicar.

Ela esticou um braço em direção a onde ele deveria estar, deslizando a mão pela colcha amarrotada que felizmente não estava gelada, e suspirou com o resquício de calor que o tecido ainda emanava.

Seus olhos abriram devagar, piscando por conta da luz cinza causticante que vinha de suas costas, e Daisy apertou as pálpebras com força enquanto virava o rosto para encarar as altas janelas de seu quarto.

Adam havia desligado o blackout das mesmas, e toda a luz do dia estava invadindo o lugar, sendo refletida pelas nuvens carregadas que brilhavam em cores geladas, como se o céu estivesse refletindo neve.

Exceto que estava quente o suficiente para estar chovendo, e talvez fosse tarde o bastante para que a luz do sol pintasse o mundo em tons dourados, mas os raios ainda estavam escondidos por trás de toda a bruma.

Adam estava em pé, nu dos pés a cabeça, encarando o mundo do lado de fora com um interesse curioso que deixava os músculos de suas costas um pouco tensos, apenas como se ele estivesse se preparando para algo.

Daisy poderia observá-lo para sempre, tão em paz pela maneira fácil com que sentia ser capaz de lê-lo.

Seus pensamentos não eram um segredo, não depois de tudo que eles conversaram na noite anterior, e não sabendo que ele sairia em algumas horas de sua casa para encontrar os filhos.

Ela não queria que ele se sentisse daquela maneira, como se fosse magoá-la por ir até as crianças, porque Daisy não se importava, de modo algum, pelo contrário.

Querer bem, e até amar os filhos dele, era tão fácil quanto ela achava que seria querer bem e amar os próprios.

Não teria de haver uma escolha, porque na verdade Daisy queria muito fazer parte da vida deles também.

E por saber que Adam era muito capaz de chegar à mesma conclusão, Daisy sabia que no fundo o que estava o fazendo quase se perder em contemplação do céu gelado era a saudade daquilo que nunca chegou realmente a ter.

A criança que ele não conhecia, cuja falta doía como se ele a tivesse amado por toda a vida.

Daisy pensou que ele choraria, mas por mais tensos que seus ombros estivessem, o corpo dele emanava paz e relaxamento, como se o fato de estar ali, estar com ela, fosse tudo de que ele precisasse para contrabalancear sua dor.

E quando o tempo felizmente começou a se abrir e deixar a luz solar banhar o ambiente, ele soltou um longo e alto suspiro que pareceu aquecer o interior de Daisy.

Porque soou como uma aceitação contente de que o presente era uma dádiva, pela qual ele era agradecido apesar de qualquer coisa.

Ela se remexeu na cama devagar, até se livrar dos lençóis, e Adam não pareceu notar quando ela caminhou na ponta dos pés em sua direção, mas também não demonstrou estar surpreso quando sentiu os braços dela envolvendo sua cintura.

Instintivamente os dedos dele acariciaram a pele das mãos dela, e Daisy beijou suas costas em um selinho quente e molhado que parecia estar sendo capaz de o fazer derreter.

- Bom dia - ele murmurou sussurrante.

Daisy permitiu que ele sentisse os lábios dela se curvando em um sorriso na pele de suas costas, porque sorrir parecia um jeito bom de fazê-lo relaxar ainda mais.

Lips Of An AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora