34 ▪︎ Epílogo

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Alguns anos depois...

Nem todos os dias foram perfeitos.

Daisy tinha consciência que vivera mais dias bons do que ruins nos últimos anos, momentos tão perfeitos que quase eram capazes de superar todos os péssimos que houveram em metade da sua vida.

Naquele instante específico, no entanto, ela estava lembrando de um momento particularmente difícil quando sentiu como se todos os dias ruins tivessem se acumulado e decidido atingi-la com força no rosto de uma única vez.

Ela havia encarando a criança em sua frente, parecendo totalmente alheia ao modo como suas palavras despretensiosas mexiam com Daisy, e seu coração não sabia decidir se estava encantado ou partido.

Engolir em seco e ignorar momentaneamente a situação soava como uma ideia terrível, mas Daisy não tinha forças realmente para dizer algo.

Josie verdadeiramente não parecia ter notado o que escapara por seus lábios, e mamma não era exatamente MÃE ou mamãe.

Uma parte dela queria corrigir a criança naquele exato instante, mas seu coração meio partido dizia que seria uma péssima ideia dizer "Não me chame assim", não importava quantos floreios, modificações, ou gentilezas ela adicionasse ou mudasse na frase.

Ainda seria incisivo demais, ou machucado demais. E ela não tinha como garantir que não começaria a chorar no segundo em que as palavras deixassem sua boca, porque Josie com toda certeza questionaria a ordem.

Ela obviamente não via nada demais no apelido, e talvez só tivesse escapado porque elas estavam juntas por duas semanas inteiras.

Adam e Joanne felizmente sabiam dividir muito bem o tempo entre os filhos, e nenhum dos dois parecia se importar realmente se o outro quisesse levar as crianças para uma pequena viagem com seus novos amores a tiracolo.

E Adam realmente, realmente, havia se esforçado e aprendido a não ter ciúmes do jeito que Abe era um pouco alucinado com seu novo padrasto jogador de basebol, porque Josie era meio que um pouco obcecada com Daisy e com um trabalho seu em particular também, ainda não tendo superado sua fase star wars.

Era um equilíbrio incrível, mais do que perfeitamente razoável, mas o fato de todos se darem tão bem era sim algo a ser apreciado.

Exceto que Abe chamava seu padrasto pelo primeiro nome, e nunca pedira para que o mesmo o pusesse para dormir ou o pegasse na escola.

Limites, Daisy se deu conta, porque o garoto tinha idade suficiente para não ver figuras paternas em outras pessoas além dos próprios pais, e ela precisava impor limites em Josie também, porque era injusto, com todos eles, que ela direcionasse seu desejo de ser mãe para uma criança que não era realmente sua.

Ela a amava, claro, mas não era sua mãe.

Daisy tinha certeza que ficaria magoada se fosse o contrário, e ela não tinha problema nenhum em admitir que Joanne era uma mãe excelente, Josie não tinha motivos para ter necessidade de mais do que tudo que já possuía.

Naquela noite, quando Daisy informou a Adam sobre o ocorrido e o pediu gentilmente que conversasse com a filha, ela notou o esforço titânico que ele fez para não discordar de sua opinião.

Porque eles estavam à beira de algo, que muito possivelmente soaria como uma grande discussão, mas ele não se sentia exatamente pronto naquele momento para enfrentar aquilo.

Obviamente, algumas coisas não poderiam ser realmente evitadas para sempre, e menos de uma semana depois, quando eles finalmente se encontraram sozinhos, gritaram pelos cômodos de sua casa como se falar alto fosse os libertar de todos os sentimentos ruins que estavam nadando por suas veias.

Lips Of An AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora