25 ▪︎ Passado

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Alguns anos antes...

Parecia até um julgamento.

Mas Adam sorriu, uma ou duas vezes, sempre que sua agente usava o termo "Meu cliente".

Daisy não havia sentado, mesmo que estivesse do "lado dele". Aquela conversa não levaria a nada. Então ela estava escorada perto da porta, com os braços cruzados em frente ao próprio corpo, e apenas sorriu de volta para ele incentivadora, talvez porque sorrir ajudasse a evitar que ela revirasse os olhos para o que Chris Terrio falava.

Kathleen estava irredutível, e já parecia ter resolvido a situação, metade dos produtores não voltaria atrás apenas porque os atores não concordavam com as mudanças.

A maneira condescendente com que ela falava fez Adam se mostrar muito mais irritado do que deveria, e ele meio que semicerrou os olhos na direção dela enquanto lubrificava os lábios com uma ironia impossível.

- Deve ser porque são mudanças ridículas - ele pronunciou calmo.

Mas sua voz reverberou por todo o ambiente, e Daisy engoliu em seco antes de apertar os lábios em uma linha fina para evitar sorrir.

Eles não se viam há tanto tempo.

E tanta coisa havia acontecido durante os meses em que eles não haviam se falado, ela podia sentir o fantasma do anel que deveria estar usando no dedo anelar a atormentando, do mesmo jeito que poderia lembrar de cada exato segundo da grande discussão que havia tido com Tom antes que ele a desse o objeto.

Mas eles haviam sido praticamente convocados para regravar algumas cenas, e aquela "reunião" estava acontecendo porque, bem, Adam tinha razão, eram mudanças ridículas.

- Mas você tem que concordar que o valor de um personagem morto não é o mesmo de um vivo - A agente de Adam argumentou.

- A porcentagem dele não vai diminuir por isso... - Kat tentou rebater.

- E não foi dito que ele terminaria a trilogia vivo - J.J. acrescentou.

- Muitas coisas não foram ditas não é, Jeffrey? - Daisy se viu dizendo um pouco irônica.

E quando metade da sala virou para ela com surpresa, Daisy sorriu constrangida, pensando que teria sido muito melhor permanecer calada.

Mas todos continuaram a encarando, como se esperassem que ela dissesse mais alguma coisa, até Adam parecia estar com expectativa para ouvi-la, e Daisy engoliu em seco enquanto pensava bem em como poderia ajudar com aquela situação.

- A gente podia se beijar - ela se viu dizendo.

E quando metade da sala arqueou as sobrancelhas em confusão, ela se apressou em se explicar, descruzando os braços e andando devagar para mais perto de todos, com uma cautela que a fazia sentir com uma pequena predadora antes do ataque.

- Acho que todos podem compreender o descontentamento de Adam - ela explicou - Mas... nós também entendemos o que vocês querem dizer com "agradar o público".

- As pessoas não vão gostar do que temos agora... - Chris a interrompeu.

E Daisy sorriu altiva, se controlando com muito custo para não chamá-lo de mal educado.

- Mas você escreveu isso - Adam rebateu com escárnio.

- Sim, e estou admitindo que precisa de mudanças.

- Reescrever tudo seria uma boa opção - ele sugeriu sarcástico.

Daisy teria ofegado se não precisasse controlar a vontade absurda que estava sentindo de rir, mas eles ainda estavam perdendo aquele pequeno embate, e ela precisava tentar salvar algo, antes que também começasse a odiar tudo que aquele filme havia se tornado.

Lips Of An AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora