21 ▪︎ Passado

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Alguns anos antes...

No primeiro mês após o ano novo, eles se falaram quase todos os dias.

Adam nunca perguntava com quem ela estava, ou o que estava fazendo, e eles se limitavam a conversar sobre suas vidas profissionais, nunca deixando claro o quanto obviamente estavam contando os dias para se verem de novo.

Parecia errado, passar tanto tempo com ele no telefone quando Tom não estava por perto, tendo viajado a trabalho ou estando ocupado demais para vê-la, mas parecia ainda pior quando ele estava.

Quando ela ligava para Adam e o chamava de Douglas porque Tom estava praticamente ao seu lado, após eles terem passado um dia inteiro juntos.

Não que eles deixassem sua conversa correr para lugares indevidos, mas Daisy sabia que mesmo mantendo o assunto inocente e amigável, o jeito como seu coração palpitava por ouvir a voz dele não era certo.

Mas o contato foi diminuindo, porque mesmo que eles tentassem evitar, ou mesmo que tentassem não demonstrar, Daisy sabia que algo dentro de Adam quebrava sempre que ele ouvia a voz de Tom ao fundo na chamada.

A maneira como ele ficava disperso, ou ria de um jeito falso, nada alegre de verdade, como indícios de que embora ele não pudesse falar nada, ele se importava.

E Adam também sabia que algo dentro de Daisy estava quebrando, porque ela havia fungado quando ouvira seu filho chorando pela primeira vez, e sua voz soara falha quando criara coragem para perguntar se ele estava bem.

Ela se esforçou para manter contato, mesmo que tenha decidido se limitar a mandar mensagens, Adam a compreendia, e não se ressentiu quando ela ficou em silêncio por alguns dias após ele ter respondido sua pergunta de que sim... era um menino.

Ela passou a mandar mensagens com espaços ainda maiores de tempo entre uma e outra depois disso, e não reclamou quando Adam passou a respondê-la com frases curtas e impessoais.

Em defesa dele, Daisy não se importava realmente que ele não desse detalhes sobre sua vida como pai.

Mas não era exatamente felicidade o que ela sentia pelo seu distanciamento.

A exceção havia ocorrido em seu aniversário, quando Adam a enviara uma carta acompanhada de um pequeno barril de cerveja Irlandesa.

Poderia ser estritamente amigável, e poderia tê-la feito gargalhar com saudade, se não houvesse tanta paixão em suas palavras.

Porém, aquele havia sido o único indício no ano de que ele sentira algo por ela algum dia.

Ela não o culpava, ou se ressentia. Era compreensiva sobre suas responsabilidades como pai, e sabia que ele estava bastante ocupado com todos os seus projetos de trabalho.

Não importava que ele tivesse começado a demorar semanas para responder uma simples mensagem, e não importava que ele tivesse parado de perguntar como ela estava.

Pelo menos, era disso que Daisy tentava se convencer.

Ela preferiria que eles tivessem continuado próximos obviamente, porque seu sentimento por ele era tão grande, e tão sufocante, que ela sentia que precisava externalizá-lo.

Nem que fosse apenas com declarações de amizade.

Ela apenas não queria manter todo aquele amor somente para si.

Era tão estranho amar tanto alguém e querer conversar tanto com alguém e não poder, mas ela mantinha a esperança de que tudo se resolveria quando eles estivessem cara a cara de novo.

Lips Of An AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora