24 ▪︎ Passado

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Alguns anos antes...

Eles se esforçaram para que não acontecesse de novo.

Adam sabia porque razão Daisy havia ido ao seu quarto naquele dia, e não existiam mais mágoas entre os dois que ela quisesse extravasar.

Então ela havia se tornado indiferente, e aquilo era ainda pior.

Ele nunca contou para ninguém o que havia acontecido, o fato de que chegara miserável em casa sendo suficiente para que sua esposa nunca mais questionasse sua fidelidade, e se ele havia passado a viver no piloto automático depois, ninguém à sua volta parecia notar.

Não era importante que ele se sentisse bem, ou ao menos minimamente vivo, com tanto que ele fizesse a coisa certa.

Quando ele reencontrou Daisy alguns meses depois a distância fria dela causou pontadas dolorosas em seu peito, mas ele não tinha direito, ou coragem, para tentar se reaproximar ou cobrar que ela oferecesse algo mais que indiferença.

No fundo, Adam sabia que aquela era a atitude certa. Eles sabiam o que aconteceria se tentassem ser amigos, sabiam que não importava o que sentiam por outras pessoas, sua conexão sempre seria muito mais forte e irresistível.

Porque se era realmente amor, Adam já havia aceitado que nunca acabaria.

Mas ainda que ele entendesse, era difícil lidar, porque doía.

E ele tinha medo de se acostumar com aquilo, tinha medo de viver para sempre sentindo que estava arrastando por aí uma parte sua quebrada.

Daisy se deixou ser abraçada por ele quando eles se reencontraram, da maneira mais profissional e impessoal possível, talvez apenas porque eles se encontravam entre dezenas de pessoas que achariam estranho se eles não o fizessem.

Mas não houveram sorrisos calorosos, e nenhum dos dois verbalizou sua saudade.

Adam começou a sentir ainda mais falta de ouvir a voz dela, porque ela estava ali, perto, mas ao mesmo tempo tão distante.

Era como se houvesse uma parede invisível entre os dois, que eles mesmos se esforçavam para manter de pé.

Não era necessário que eles interagissem para aprender as coreografias, todos concordavam que era mais seguro que as estrelas aprendessem os movimentos com os treinadores e dublês, mas no fim da primeira semana eles precisaram parar de se evitar.

Daisy estava muito mais tensa que o normal, seus movimentos que geralmente eram leves e precisos, soavam duros e dessincronizados demais, como se ela estivesse se esforçando muito para não aplicar força de verdade em seus golpes.

Adam queria perguntar se ela estava bem, se aquilo era por ele, mas ele tinha consciência do quão pior tudo se tornaria se realmente fosse e ele perguntasse.

Parecia melhor deixá-la lidar com aquilo sozinha, porque parecia mais certo não forçar sua presença à ela mais do que o necessário.

Eles já estavam bem aquecidos, Adam podia sentir o calor de seus corpos se unindo no ar entre os dois, mesmo que eles estivessem há mais de um metro de distância.

Daisy estava focada nas instruções da treinadora, assentindo levemente e dando pequenos pulinhos de preparação antes de começar.

Adam respirou fundo e engoliu em seco, passando o sabre de uma mão para a outra como se estivesse testando o peso.

Primeiro eles ensaiaram devagar, tocando os sabres com leveza apenas para testar a distância em que se encontravam, e Adam perdeu a noção de quanto tempo eles ficaram naquilo.

Lips Of An AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora