Capítulo 05 - A Proposta de um Amigo

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- Nós chegamos...

O murmúrio suave de Logan foi a única coisa que a despertou de seu estupor. Surpresa, Missy percebeu que passara o caminho inteiro perdida em seu próprio sofrimento, mal notando que eles haviam adentrado em um lindo condomínio e parado na frente de uma casa gigantesca, mas ainda assim de aparência muito agradável. Acolhedora era uma boa palavra também. Se não fossem as circunstâncias, ela certamente estaria além de encantada.

Ainda abraçada em si mesma, encolhida ao máximo no banco, Missy respirou fundo algumas vezes, tentando se acalmar o suficiente para sair do carro com o pouco de dignidade que ainda lhe restava, mas Logan, novamente, foi mais rápido. De início, ela achou que ele havia saído do carro apenas para espera-la do lado de fora, porém, para sua mais completa surpresa, ele simplesmente abriu a porta do passageiro e, antes que ela se desse conta do que ele estava fazendo ou pudesse protestar, Logan a pegou delicadamente em seus braços, embalando-a como a um bebê enquanto a carregava para dentro, como se ela não pesasse nada.

De início, Missy se sentiu corar e pensou em pedir que ele a soltasse. Contudo, enfraquecida pela dor dentro dela, com os olhos inchados e a cabeça pesada, ela percebeu que conseguia encontrar um pouco de conforto ao ser abraçada daquela maneira, sentindo o calor do corpo dele contra o dela e o cuidado que aquele gesto doce transmitia. Era uma sensação tão reconfortante que, rapidamente, Missy decidiu que queria apenas afogar-se nela. Fechando os olhos e deixando sua cabeça descansar contra o ombro de Logan, ela só voltou a dar-se conta do que estava acontecendo ao seu redor quando se viu deitada em uma cama extremamente macia.

Abrindo os olhos, ela viu Logan sentado em uma cadeira ao lado da cama, com o quarto completamente escuro sendo iluminado apenas pela luz da lua vinda de uma janela ali perto, observando-a com profundo pesar.

- Obrigado. – foi tudo o que ela conseguiu choramingar, voltando a se encolher entre os lençóis, assumindo novamente uma posição fetal.

- Não há razão para agradecer. Especialmente quando você não está bem. – ele suspirou pesadamente, antes de se levantar da cadeira – Por favor, tente descansar um pouco. Eu volto já.

Parecendo quase tão abatido quanto ela, Logan saiu do quarto, deixando-a sozinha em meio ao silêncio e a seus próprios pensamentos. Algo que, sendo honesta, Missy agradecia. Afinal, naquele momento, tudo o que ela mais queria fazer era se encolher e simplesmente deixar de existir, na esperança de que isso fizesse aquele sentimento torturante desaparecer. De fato, várias outras vezes em sua vida ela já se sentira deslocada, inferior: sua mãe criticava seus gostos desde que ela nascera; seus colegas de escola já tinham lhe dito coisas grosseiras e que ainda pesavam em seu peito quando ela se lembrava; e, mesmo que se esforçasse para não se deixar abater, ainda era um pouco doído perceber os olhares das pessoas que julgavam suas roupas, as coisas que ela gostava, sua escolha de profissão, seu corpo... Mas ela sempre tentara pensar que aquilo não importava tanto. Muitas outras pessoas levavam vidas piores. Ela tivera o amor de seu pai e até hoje podia contar com todo o afeto e apoio de sua irmã mais velha, sem contar com o carinho dos Knight, que também era algo muito precioso. Outras pessoas menos afortunadas sequer tinham isso. Por isso, ela tentava encarar aqueles pequenos incômodos que às vezes surgiam em seu peito como algo comum. Todos se sentiam inseguros em vários aspectos da vida, certo? Era inevitável.

Aquela noite, contudo, fora muito diferente. Nunca antes ela se sentira tão exposta, tão terrivelmente humilhada. Porque, como se as palavras que ouvira já não fossem o suficiente para tortura-la por completo, sua mente parecia estar fazendo questão de recorda-la da expressão que vira no rosto de seu namorado naquela noite. Não apenas naquela filmagem, mas também ali, bem na sua frente. Uma expressão que deixava claro que ele não estava arrependido, apenas constrangido porque fora apanhado. Céus, ele sequer tinha se desculpado. Ao contrário, antes que aquele lapso irracional de raiva a tomasse, ele estava se justificando. Como se ela fosse culpada por tudo o que ele dissera. Fazendo parecer que, se ela não tivesse usado as roupas que gostava, se tivesse dormido com ele, se simplesmente não tivesse sido ela mesma...

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