Sorrateiramente, Missy olhou através da janela.
Lá dentro, na enorme sala de aula, várias crianças pareciam estar copiando alguma coisa em seus cadernos enquanto conversavam animadamente. E, é claro, não foi difícil para ela encontrar seus filhos, como sempre sentados nas cadeiras no canto da parede, não muito perto e também não muito longe do professor, onde ela se lembrava de também gostar de ficar, quando estava no 4° ano, como eles. Jonathan estava virado de costas em sua cadeira, olhando para o irmão na cadeira de trás, enquanto Tristan lhe mostrava algo que parecia interessantíssimo no videogame portátil que estava em suas mãos. Com um suspiro divertido, Missy tentou se convencer de que pelo menos eles estavam fazendo aquilo depois de terem terminado a lição, já que as páginas abertas de seus cadernos estavam visivelmente todas escritas sobre as mesas.
Na verdade, ela verdadeiramente se orgulhava do fato de eles terem apenas 10 anos e mesmo assim serem centrados e obedientes o suficiente para se manterem bem na escola, mesmo com todo o amor que tinham por seus jogos, especialmente Tristan, que, sempre alegre e curioso, com o passar do tempo vinha perguntando a ela cada vez mais coisas sobre programação, apenas para entender como seu videogame funcionava. O que muitas vezes rendia longas horas divertidas de conversas sobre tecnologia entre ela e seu filho. E, sempre que ele vinha correndo até ela nas quatro tardes semanais em que ela estava pronta para ir até seu escritório e trabalhar em seus novos projetos de software, com a pequena e talentosa equipe que reunira ao longo dos anos, apenas para pedir que ela o levasse consigo para poder ajudá-la a trabalhar, o coração de Missy se derretia. Assim como também havia se derretido quando os gêmeos tinham saído correndo, semanas atrás, mostrando para a escola inteira, cheios de orgulho, sua foto na capa da revista de tecnologia em que ela fora a principal matéria, por conta da venda recorde do mais novo software de sua equipe.
Porém, em questão de interesses pessoais, Missy sabia que, embora Jonathan gostasse de jogar com seu irmão mais novo tanto quanto qualquer outro garotinho de sua idade, sua verdadeira paixão era, e provavelmente sempre seria, a música. Especialmente o piano. E, é claro, ela não tinha como negar que Logan tinha uma grande influência naquilo, sempre incentivando o filho a persistir praticando, mesmo diante de uma partitura muito complicada ou mesmo depois de algum erro. Além de, é claro, levar Jonathan pessoalmente para as aulas de música que ele tinha três vezes por semana, na mesma escola de música que, há tantos anos, a própria Missy frequentara com o marido. Não que nenhum dos dois precisasse mais daquelas aulas hoje em dia: Missy simplesmente aceitara que os pianos não gostavam de serem tocados por ela e Logan já havia se tornado um pianista hábil e autodidata o suficiente para agora treinar sozinho no piano que eles tinham em casa, no que geralmente Jonathan o acompanhava.
E, sempre que os via sentados no banco do piano, com Jonathan sentado no colo de Logan para poder alcançar as teclas adequadamente, Missy sabia, no fundo de seu coração, ao ver os olhos do marido brilhando, que aquele era o tipo de momento que ele se sentia abençoado por poder ter com seu filho, já que não pudera ter com o avô.
Missy ainda estava um pouco imersa em seus pensamentos, quando Jonathan ergueu a cabeça em direção à janela, acenando animadamente ao vê-la, o que também chamou a atenção de Tristan, que abriu um enorme sorriso ao ver a mãe. Sorrindo amorosamente de volta e mandando beijos silenciosos para eles, Missy ergueu a pequena lancheira que trazia na altura da janela, para que eles pudessem entender porque ela estava ali. E, com um último aceno para seus bebês, Missy saiu do alcance de visão deles, sabendo que eles provavelmente estavam chegando naquela idade em que ter a mamãe entrando na sala de aula para beija-los e perguntar como estava sendo seu dia, não seria nada além de uma vergonha. Mesmo sabendo que seus filhos nunca se envergonhariam dela, Missy queria poupá-los de qualquer provocação que fosse. Crianças podiam ser cruéis às vezes, ela bem sabia.
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A Vingança
RomansaApós descobrir a traição de seu namorado da maneira mais humilhante possível, apesar de terrivelmente ferida por dentro, Missy Sutton não pensou em vingança. Pelo menos não até que uma pessoa a convencesse do contrário: Logan Knight, irmão de seu cu...