Capítulo Vinte e Um

69 22 211
                                    

Eles a atiraram para dentro e as saias volumosas do vestido a engolfaram.

Uma continental, uma pária. Era nisso que ele a havia transformado e ela não era capaz de  lutar contra isso também.

Se deixou atingir no chão sujo e úmido, os olhos tentando se acostumar à pouca luz. Ouviu movimentos na cela ao lado quando alguém se aproximou e o coração apertou ainda mais quando Kiara chamou seu nome.

—Cat? Cat o que eles fizeram com você?

Catarina não respondeu, agora já conseguia distinguir algumas figuras nas outras celas, uma em especial.

Cedrick Kingsley estava sentado no canto, os braços envolvendo as pernas, o rosto sujo e ensanguentado, ele levantou os olhos assim que percebeu o olhar de Cat.

—Sinto muito — falou a pirata, a voz rouca. Ela realmente sentia, do fundo de seu coração. Se arrependia por cada atitude tomada, cada passo que a levara até ali e se sentia traída pelos deuses de uma forma tão profunda, que doía no fundo de seu peito.

O tenente não respondeu, apenas baixou o rosto para o chão.

— Cat — murmurou Kiara e só com muita força de vontade Catarina conseguiu se virar na sua direção.

Desviou o olhar do seu, não tinha coragem de fita – lá, não depois de seu pai ter morrido por conta de Catarina, não depois do som do grito de dor de Kiara ficar gravado no seu coração para sempre.

—O que é isso que você está vestindo? — perguntou ela enquanto vasculhava seu rosto e vestes com preocupação — O que eles fizeram com você?

Havia indignação e raiva na sua voz.

—O que você está fazendo aqui? — perguntou Catarina, a voz estava fria.

Kiara segurava as barras da cela que as separavam, os nós dos dedos estavam apertados, a pirata piscou.

—Eu não poderia segui-lo, obedecê-lo, não depois do que ele fez, Cat .. meu pai. — Ela parou de falar e engoliu em seco. —Eles fizeram alguma coisa com a gente não é, eu senti.

A loira olhou para trás, onde Manorian estava deitada e movimentava o rabo lentamente, os olhos do lobo brilhavam no escuro, quando Kiara voltou o rosto para frente, havia medo estampado nele.

—Você precisa fazer alguma coisa.

Catarina bufou.

—Não há nada que eu possa fazer, mas você sim; vai jurar lealdade a ele e vai voltar ao convés.

Kiara franziu o cenho e se afastou das grades.

—Não farei. Morrerei aqui ao seu lado se essa for a única forma de sobreviver a isso. 

Catarina se levantou num rompante e chegou mais perto dela.

—Kiara, você precisa. Por você, sua mãe e por Manon. Não posso lidar com a culpa da sua morte, não a sua. Você precisa fazer o que é certo!

—O que é certo? Me render a esse absurdo? Trair tudo o que eu acredito, pelo que?

—Sobrevivência, meu pai estava certo, a segurança do Clã vem em primeiro lugar, talvez um dia você se torne uma capitã para o Sussurro.

—Você enlouqueceu –rebateu Kiara — Não desejo tal coisa e de que adianta ser uma capitã se ele vai nos liderar?

Catarina passou as mãos sujas nos cabelos, irritada.

—Você sempre foi tão teimosa. — disse Kiara — sempre lutou pelo que queria, por que desistir agora?

—Que força tenho para vencê-lo? Sabe muito bem o fim que se destina a mim.

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora