Capítulo Trinta e Seis

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Ela sentiu o puxão de uma força sobrenatural, arrancando-a das camadas dos sonhos e despertou, o corpo encharcado e o coração batendo forte.

Estava sozinha em seu quarto em Kalabhra, o sonho ainda nublava seus pensamentos, ainda sentia o poder daquele lugar retumbando em seu corpo. 

Ao longe ouviu o som de uma música suave, levantou-se rapidamente da cama e seguiu o som. 

Catarina cruzou a porta que se abria para a sala do piano, as janelas estavam abertas e chovia forte lá fora, os respingos molhavam o tapete. O som dos trovões se chocavam com um choro que ela nunca havia ouvido antes, já havia visto o grande instrumento com calda e dentes, mas nunca havia ouvido ele cantar. E o som que saia de suas cordas era ao mesmo tempo fascinante e desolador. 

Cedrick estava sentado no banco branco estofado e dedilhava seus dedos suavemente pelas teclas, parecia totalmente absorto e perdido. A pirata ficou estática na porta, o vento que entrava pelas janelas faziam seus cabelos dançarem e as saias da camisola comprida de cetim balançarem. 

O continental ficou ali por um longo tempo, apenas se entregando à musica e ela continuou ouvindo, parada no mesmo lugar sendo tocada pela alma do homem. 

Finalmente, ele parou. Soltou um suspiro profundo. 

—Não achei que gostasse de música clássica. — comentou ele secamente e se virou para ela. Os olhos estavam vermelhos, o rosto com marcas de insônia. 

Ela caminhou até ele, não deixando de perceber o olhar que ele lançou para sua roupa de dormir que se prendia ao corpo dela, o decote com detalhes em tule. 

—Quando soube que estava aqui? — perguntou ela. 

—Achou que não prestava atenção nas suas aulas? 

Catarina se sentou ao lado dele e sorriu. 

—O que é isso que estava tocando? 

Ele dedilhou as teclas em um choro triste. 

—Só uma coisa que aprendi no castelo, um lamento de guerra. — ele se virou para ela depois de algum tempo e parou de tocar novamente — Ela teria gostado dele e ele seria bom para ela. 

A pirata não precisava perguntar de quem ele estava falando. 

—Cedrick... — o continental fixou seus olhos nela e ela se calou então ele se virou mais uma vez para o piano e fechou a tampa com um estrondo. 

—Desculpa se te acordei. — falou simplesmente e ela abriu a boca para contar o sonho. 

Cuidado.

Ela piscou. O continental estava absorto em seus próprios pensamentos e não percebeu sua hesitação. Ela precisava dele, de sua influência, para conseguir os navios, precisava de Arwen ao seu lado para lutar contra aquele Deus tanto quanto precisava de Kalabhra. E havia aprendido a confiar nele, o mais que se permitira até aqui e sabia que de algum jeito, ele precisava dela. 

Mas aquele poder que sentira, aquele que invadira cada poro de sua pele, não sabia o que significava. Só sabia, sentia, que devia guardar para si. 

_*_


Ela vestia uma calça de cintura alta, com detalhes florais bordados na laterais, uma saia que imitava um capa, presa nas costas da calça, tornava a peça desconfortável, porém elegante. O blazer era claro e de mangas longas, propicio para o clima. 

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora