Capítulo Dois

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A raiva não havia passado quando entrou em sua cabine.

Não era luxuosa ou diferente das outras por ser a filha do capitão, os piratas não podiam ter luxos e nem ela queria ser diferente dos outros a bordo.

Havia uma cama debaixo de uma janela com esquadria de madeira, uma escrivaninha onde se encontravam muitos livros e mapas, o quarto era iluminado por algumas lamparinas muito bem pregadas na parede e na lateral, escondido detrás de uma cortina escura havia uma banheira, o único sinal de que ela era alguém importante. O resto da tripulação costumava tomar banho nos pequenos cômodos que eram os banheiros da tripulação.

Respirou profundamente e removeu o casaco pesado e as botas com violência.

Não importava que ainda era cedo, não voltaria para o convés e nem estava com vontade de encarar o pai. Todos os tripulantes serviam a embarcação de alguma forma e ela, como herdeira e futura capitã, passava as tardes aprendendo a comandar o navio.

Tinha aulas de navegação, sobre as marés e como se guiar pelas estrelas, assim como aprendia um pouco sobre cada um dos cargos e quem os empenhava. Mas naquele dia não estava com humor para aprender nada.

Havia acabado de tirar o cinto em que guardava seu punhal quando alguém bateu em sua porta. Catarina bufou, irritada e então a porta se abriu.

Uma cabeça ruiva apareceu meio hesitante pelo vão da porta e ela revirou os olhos.

-Meu pai te mandou? – perguntou e o dono dos cabelos alaranjados entrou. Era alto e musculoso, vestia um grande casaco marrom, que usava sobre uma camisa de linho branco, preso na cintura havia um punhal muito parecido com o dela.

Jake sorriu para ela. O rosto era bem desenhado e másculo, os olhos eram muito azuis, o cavanhaque era alguns tons mais claros que o cabelo.

-Não dessa vez, ouvi os dois discutindo e pensei que era uma boa ver se não destruiu o quarto todo.

Ele entrou no quarto e sua presença pareceu preencher todo o espaço. Ficou parado e observou bem sua volta, cruzando os braços.

-Parece que está tudo sobre controle. – caçoou ele.

-O que você achou? Que eu fosse destruir meu quarto? – passou a mão pelo cabelo sedoso e comprido e o encarou. –Não preciso de uma babá, Jake, pode voltar aos seus afazeres.

Jake caminhou até ela e tocou seu ombro. O contato imediatamente a fez morder os lábios. Os dois eram amigos desde pequenos e depois de um tempo a amizade começou a virar outra coisa.

-Sabe que não vou deixa-la – murmurou ele.

-Por você ou pelo bem do navio? – perguntou Catarina e ele tocou suavemente seu queixo, erguendo seus olhos escuros para encarar os dele.

-Faz alguma diferença? – ele sorriu e ela quase se afastou, mas ele não permitiu, enlaçando ela pela cintura e aproximando seu corpo do dele.

Jake passou o nariz pela curva da mandíbula dela, lhe causando arrepios. Catarina relaxou em seus braços, passando a mão pelo seu cabelo.

-Meu pai disse que mandou Bealsecker para ver o ataque.

Jake cheirou o cabelo dela, ficando em silêncio, Catarina inclinou o corpo para olhar em seus olhos.

Bealsecker era o Familiar de Jake, um agulhão vela de quase dois metros, o peixe mais rápido do mundo, possuía uma nadadeira dorsal em forma de vela de barco e o bico em forma de espada.

Jake concordou lentamente.

-Jake, me fala logo. – ordenou ela.

Ele pareceu tomar coragem de reproduzir o que havia visto pelos olhos do animal.

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora