As celas do Sussurro das Marés eram a parte mais escura e abandonada do navio. O local era abafado, sujo e a escuridão doía aos olhos de Catarina que entortou o nariz ao sentir o cheiro de sangue e excrementos e ver a cena daquele homem, amarrado e ajoelhado no meio da cela.
Piratas raramente mantinham prisioneiros ou reféns e quando isso acontecia, não eram bons anfitriões.
Ela quase não conseguiu reconhecer o homem à sua frente.
Sua feição havia se transformado desde o dia anterior; o olho direito exibia um hematoma roxo, com nuances vermelhas e amareladas e estava tão inchado que o prisioneiro não conseguia abri-lo, sua boca estava lacerada, com um corte profundo que ainda sangrava. O uniforme era apenas uma lembrança do que fora um dia, o peito também fora ferido e sangrava.
Seu estomago se contorceu.
Na cela mais distante, a jovem continental se mantinha quieta e encolhida, sem nenhum hematoma visível, para a sorte de Erkar.
— Conheçam lorde Kingsley. — Começou o pai em um tom rouco, ele a havia convocado até ali naquela manhã, juntamente com os comandantes e a contra mestre. O olho sem machucados do prisioneiro piscou — tenente comandante de um dos navios da Marinha real de Arwen, um dos reinos mais poderosos do continente leste.
Um tenente, um tipo de título que não existia no vocabulário pirata, mas ela sabia que no mundo dos continentais, era um cargo importante.
— Eu disse que eram valiosos — se gabou Wolf.
Catarina teve de se controlar para ficar calada.
— Seriam se quiséssemos vende-los ao senhor de Kalabhra ou aos lordes de Arwen. — falou firmemente — Mas sabe muito bem que não servem aos nossos propósitos, Mendelai.
A cobra de Wolf se ergueu e balançou a cabeça, Wolf acariciou o animal e sorriu, petulante.
O coração de Catarina batia forte, o prisioneiro ficou quase que esquecido em seu canto atrás da grade enferrujada.
Wolf deu de ombros.
— O mapa na cabine do capitão assinalava o local do último ataque aos Carnassiali. — Revelou o comandante pirata — E talvez fosse mais sensato, devido as nossas condições, vendê-los do que encontrar um bando de velhos e iniciar uma busca estupida e sem cabimentos.
Wolf não levantou o tom ou gritou, mas sua voz reverberou pelo ambiente fechado.
— Aqui não é o lugar — cortou Isabeau e olhou na direção da cela do prisioneiro.
O sorriso terrível de Wolf não diminuiu.
— Claro minha bela, não falamos na frente de prisioneiros — ele se voltou para o capitão — ainda mais quando pensamos em liberta-lo.
— Estou cansado de sua audácia — capitão do Sussurro apontou para o refém — esse tipo de gente importa muito aos seus e eu não preciso da frota de Arwen navegando pelos meus mares. Ainda mais quando estamos levando uma peça preciosa para os acordos territoriais deles.
Todos encararam a continental que pareceu se encolher ainda mais.
— A mocinha — falou Isabeau com tom sarcástico.
Castilho concordou.
— Muito mais do que imagina.
— O que vai fazer com eles? — perguntou Cat.
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Sussurro das Marés - [Livro Um]
Fantasy✨ Eleita uma das melhores histórias de 2021 pelos embaixadores do Wattpad 💜 Catarina nasceu e cresceu em um navio pirata. Na verdade ela é a herdeira de um dos mais temidos navios que já cruzou os mares; o Sussurro das Marés. Está predestinada a...