Capítulo Três

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Os tripulantes do deque superior haviam interrompido seus serviços ao som do chamado do capitão. Os Familiares, aqueles que não viviam no mar, estavam reunidos próximos aos seus piratas.

Eles podiam se afastar, muitos quilômetros quando a ligação entre Familiar e pirata era realmente forte, mas seus donos preferiam que ficassem perto, já que quando atacados, os Familiares podiam causar o enfraquecimento de seu pirata e isso era um risco que ninguém queria correr.

Ao longe, Catarina podia ver as outras duas embarcações que faziam parte do clã e a bordo, no elevado deque ao lado do leme, estavam os dois imediatos que eram seus comandantes;

Carmim Ordell, que comandava o Olho da Tempestade, um pouco menor que o Sussurro, excelente em perseguir embarcações. Ordell tinha um pequeno pardal amarronzado como Familiar e o animal quase se perdia em seus cabelos castanhos. O comandante era um grande amigo do pai e lutou ao seu lado a vida toda, por isso seu lugar sempre era ao lado direito do lorde capitão.

Ao lado de Ordell estava o outro comandante, Mendelai Wolf. Comandava o Terror, um barco de madeira tão escura que sumia na noite e que possuía um potencial destrutivo tão grande ou pior que o do Sussurro. Mendelai era um homem baixo, sempre vestido de negro e careca. Só tinha um olho, uma pérola verde da cor das algas.

O olho esquerdo levava uma grande cicatriz feia da qual ele se vangloriava. Carregava a grande cobra píton albina que era seu Familiar como uma grande echarpe enrolada nos ombros.

Quando Catarina e Jake se aproximaram, mais uma figura se ergueu ao lado esquerdo do capitão Castilho.

Ela possuía os cabelos alaranjados do filho e a mesma beleza. Isabeau Dracon era a contramestre do Sussurro das Marés e segunda no comando do navio. Um belo camaleão de pele avermelhada descansava em seu ombro.

Assim que abriram o caminho para mais perto de onde estavam, o pai encontrou seus olhos. Reunir os lordes dos outros clãs era um compromisso para o capitão evocador da reunião, durante a qual eram proibidas brigas ou confusões. A linha entre os clãs era tênue.

Era fina demais.

O pai estava se arriscando e quando a tripulação soubesse o que havia ocorrido com o clã Carnassiali ficariam tensos, assustados e muito violentos.

O capitão então olhou para seu povo. O sol finalmente havia despertado e se escondia por trás das velas negras que agora estavam levantadas. O navio partiria em breve, assim que o pai anunciasse à tripulação para onde estavam indo.

-Os chamei aqui para um comunicado. – começou o pai, a voz forte ecoando pelo céu aberto. O pai contou rapidamente sobre o ataque e sobre sua decisão de ir para a Ilha da Queimada, reunir os lordes. Catarina podia sentir a tensão entre os homens e mulheres no convés.

-Navegaremos a toda velocidade e ficaremos de olho no horizonte. – disse Isabeau, sua voz era profunda e na mesma altura que a do capitão, mas ela não era boa em esconder sua opinião e sentimentos e não parecia muito contente em estar anunciando aquela decisão. – Qualquer navio de velas brancas será tratado como inimigo e perigoso.

-Temos medo dos continentais agora? – gritou um dos tripulantes. Catarina percebeu que Wolf fez uma careta e Isabeau fechou a cara. O pai continuou taciturno e bateu a perna na madeira do chão, Erus soltou um pio alto e aterrissou no ombro do capitão.

Todos ficaram em silêncio.

- Não sabemos se são continentais ou o que são. Não importa. Não seremos tolos em desmerecer o potencial desse inimigo. Quero todos os oficiais a postos, atentos.

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora