Capítulo Vinte e Sete

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—Você está louca? — perguntou o continental assim que ficaram a sós. 

Ele havia se afastado dela e do beco como um vento impetuoso, cruzado a rua sem se preocupar em empurrar as pessoas, ou se ela o seguia ou não. 

Depois continuou seguindo, cruzou as portas altas envidraçadas, Catarina o seguindo de longe enquanto adentravam o interior do lugar. Ela não pôde deixar de notar o quanto era magnifico, claro por conta da luz do sol que vinha do exterior, amplo e cheio de vasos de plantas de cerâmica, lustres dourados que pendiam do teto, cadeiras com estofado bordô e um grande tapete vermelho que ia da entrada até uma grande bancada de mármore branco, onde um homem vestido de terno os observava.

O homem não impediu Cedrick de seguir pelas escadas de ouro que iam para o segundo andar, tampouco impediu Catarina.

O continental entrou em um dos quartos e deixou a porta aberta para ela entrar. 

A pirata fechou a porta atrás de si quando passou e  cruzou os braços, se encostando na porta de madeira pintada com tinta branca e com arabescos pintados em dourado.

— Eu? — questionou com desdém enquanto ele caminhava pelo quarto, as botas batendo no piso de cerâmica claro — Você não devia ter se metido, eu tinha tudo sobre controle!

Cedrick estancou e a olhou e ela pôde perceber seu terno bege que lhe cabia perfeitamente, o cabelo havia sido cortado e a barba aparada e ele parecia novamente aquele continental que havia visto semanas atrás. Ela se lembrou do uniforme que ele usava na primeira vez que se viram e não conseguiu evitar que o corpo tremesse.

— Você é realmente tola assim, ou simplesmente não pensa nas atitudes que toma? — aquele tom a agrediu como um tapa no rosto e ela se contorceu, se afastando da porta.

— Não ouse falar comigo assim. — grunhiu ela.

Cedrick bufou.

— Por que? Você não tem noção do que eu acabei de fazer por você, Catarina. Aquele era um Domador, ele é pago por Muralhada para manter a ordem. O que você fez — o continental abriu os braços — Na verdade eu nem sei o que fez. Sua família está morrendo nas mãos de um deus louco, seu povo sendo controlado por ele ou traindo seus códigos piratas! E você criando confusão pelas ruas de Muralhada! Qual o seu problema?

Catarina piscou.

—Meu problema? Qual o seu problema? Como pode virar o rosto e fingir que não está vendo o sofrimento dessas pessoas? Como ousa me levar para um lugar onde mulheres são obrigadas a tocar no corpo de outras pessoas sem ter vontade? — Ela se aproximou dele, que deu alguns passos para trás e baixou os olhos e o tom.

— Não estou virando as costas para a situação daqui. Em Arwen nós lutamos contra a escravidão, nós mudamos essa situação. Mas eu tenho uma promessa a cumprir, uma promessa de paz que impacta sobre essa ilha também. Além do monstro que está a solta com uma promessa contra nós!

Catarina percebeu o quanto estavam perto, eles se fitaram, olho no olho, como se medindo as consequências das próximas palavras que diriam. Essa atitude incomodou Catarina por alguma razão e ela respirou fundo, o ímpeto furioso baixando,  o clima do quarto ficando menos tenso.

—Não vamos resolver todos os problemas do mundo, Catarina, mas eu preciso de você. Viva e não perseguida pelo povo de Aulepo. — havia verdade naquele tom e finalmente Cat deu um passo para trás, os olhos de Cedrick acompanharam seus movimentos e seu rosto relaxou.

Cat envolveu o corpo com os braços.

—Só não consigo lidar com a ideia dessas pessoas — ela hesitou e o fitou, pensando não só no povo da ilha, mas em seu povo, sob o poder e a influência do Deus da Morte. — Obrigadas a servir, a seguir...

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora