Capítulo Vinte

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Ela despertou e sabia que estava de volta ao Sussurro. 

Tudo parecia um pesadelo vívido, algo elaborado cruelmente por sua mente, ainda mais quando abriu os olhos e se descobriu em seu quarto.

O corpo todo doía como se tivesse sido atingido por um raio e a cabeça girava.

Catarina se ergueu em sua cama, sentindo como se fosse a primeira vez como era estar no mar, a falta de equilíbrio causada pelas marés lhe fazendo querer vomitar.

—É estranho estar de volta, não é? — a voz fez Catarina se erguer mais rápido e procurar por sua espada, mas sabia que não a encontraria ali.

Magnolia estava sentada de frente à cama de Cat, com a perna cruzada de forma desleixada, a fraca luz do fim da tarde deixava seu rosto quase nas sombras.

—Mas dizem que não há nada como nosso lar. 

— O que está fazendo aqui? — perguntou Catarina rispidamente e se sentou na cama, procurando qualquer coisa que pudesse usar como arma contra a pirata.

Magnolia se moveu preguiçosamente.

—Eu sabia que era uma idiota, só não pensei que era tanto assim — respondeu.

Catarina a encarou com raiva e Magnolia gargalhou.

—Tão feroz. Estava esperando que acordasse, para leva-la até o deque principal, não quer perder a atração principal do nosso querido Deus, não é?

—Por que está fazendo isso? Por que está se aliando a ele?

A pirata cruzou os braços, inquieta.

—Acha mesmo que nosso povo vai viver o suficiente para sobreviver contra os continentais? Que nossos suprimentos vão durar para sempre?

—Durante anos temos sobrevivido, nós continuarem...

—Cale – se! — ordenou a contra mestre e se levantou — sua garota tola, os continentais estão evoluindo, eles nos caçarão e destruirão nosso modo de vida, olhe para você, uma pirata sem dom, a primeira de quantas? Como será depois que os Deuses nos abandonarem?

—Eu sou só uma exceção. — murmurou Catarina.

—Você é uma tola fraca. Levante-se logo e se arrume. — A pirata apontou para um traje sobre a mesa de Catarina.

Catarina correu a mão pelos cabelos.

—Você sabe que ele nos matará, assim como fez com os Carnassiali.

Magnolia avançou para perto de Cat e lhe lançou um tapa no rosto, o toque ardeu e uma lágrima desceu pelo rosto da herdeira.

—Eythan Carnassiali era um safado egoísta, ele sabia de muitas coisas e guardou para si mesmo. Essa situação é em parte sua culpa, ele mereceu o fim que levou e a traição que sofreu. 

As palavras da pirata eram uma confusão dolorida para Catarina, ela se sentia realmente fraca e toda, todas as coisas de que a chamavam. Sem sua espada, não era nada, não podia fazer nada.

—Não me obrigue a te arrastar — disse Magnolia com tédio na voz.

Catarina vestiu rapidamente a roupa que havia sido escolhida para ela, uma que provavelmente havia sido furtada pelo Terror ou até o Olho da Tempestade; um vestido de saias longas, com babados nas mangas compridas e apertadas que cobriam seus punhos, cor escarlate, com um decote profundo que a deixou mais desconfortável ainda.

A herdeira tocou o colar de sua mãe, uma relíquia que ela levaria consigo para o além vida. Magnolia percebeu o movimento, mas não disse nada, apenas forçou Catarina a avançar porta afora.

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora