Sussurro das Marés - [Livro Um]

Capítulo Seis

Ela não conseguiu aquietar o coração. 

Mesmo depois dos amigos terem deixado seus aposentos, mesmo depois de ter tomado uma boa xícara de chá quente.

Apenas não conseguia deixar sua mente calma o suficiente para dormir.

Já era madrugada quando decidiu se levantar. Calçou as botas, vestiu o casaco comprido e quente sobre a camisola e saiu para o ar frio.

Caminhou até a polpa do navio e pode distinguir uma silhueta inclinada na amurada, mesmo de longe e na escuridão podia reconhece-lo, na maneira como se mantinha parado e até mesmo como respirava.

Jake pareceu perceber que ela se aproximava por que ficou tenso e mais ereto.

-Não conseguiu dormir? – perguntou ele assim que ela parou ao seu lado.

A lua iluminava o mar e as estrelas produziam reflexos em sua superfície como se fossem cristais brilhantes.

Catarina não conhecia beleza maior do que aquela. O mar, o céu estrelado e a grande lua, presentes dos deuses aos navegantes, luzes que os mantinham seguros.

Catarina negou.

Jake suspirou e passou a mão pelo cabelo.

-Cat, sinto muito por sair daquele jeito. – Ele se voltou para ela, mesmo na pouca luz ela discerniu seu rosto bem desenhado, aquele lábio que conhecia de cor o sabor. E os olhos, tão brilhantes quanto as estrelas.

-Por que não me contou sobre o navio e suas bombas? – perguntou com seriedade.

-Não achei que fosse o momento – respondeu ele rapidamente.

-Não segurou contar para Leon e Kiara, para o meu pai. Para Ordell. – ela o encarou incrédula – Você realmente acha que não sou digna de suas preciosas informações?

Ela não se esqueceria nunca das palavras que Jake havia lhe dito mais cedo.

Se quer estar na cabine do capitão, é preciso merecer.

Jake não acreditava nela e havia lhe escondido informações por achar que ela não merecia ou que não estava pronta para ouvi-la. Se o homem com quem dormia e que acreditava amar desde o primeiro momento não confiava nela como sua futura capitã, o que o resto da tripulação devia pensar?

Aquilo por si só já causava nela redemoinhos incontroláveis de raiva e inquietação.

Jake bufou.

-Se você soubesse do potencial destrutivo daquele navio, teria mudado a forma como reagiu com seu pai?

Ela mordeu os lábios, já sabia a resposta eele também.

-Não importa o que qualquer um te dissesse, quando você toma uma decisão, não tem como mudar.

Ela riu com desdém.

-Você acha que me conhece tão bem. Esquece que eu te conheço também, é tão cabeça dura quanto eu.

Catarina cruzou os braços.

-Eu sei o que vi lá, senti naquelas águas um terror diferente de tudo que já vi.

-E por você fugiríamos não é.

Jake negou com a cabeça.

-Você está me irritando por não concordar com você? Já conseguiu o que queria Cat, poderemos ir até a beira do mundo lutando e então na sua mente, quando vencermos, você será exaltada como uma grande pirata e capitã e poderá finalmente ser respeitada.