Capítulo Vinte e Três

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Ela não podia fechar os olhos, mesmo que o cansaço e o sono estivessem determinados a força-la, ela não se atrevia. 

Doía ficar de olhos abertos,  tanto que a dor  reverberava por sua cabeça inteira, mas ela não se importava. 

O corpo de seu pai atingindo o chão e o de Isabeau sendo atirado do Sussurro, eram as imagens que surgiam quando Catarina os fechava e ela não podia suportar essas imagens. 

O capitão e a contra mestre não haviam lutado contra seus inimigos, contra o que o Destino desejara. O pai havia se entregado e Isabeau abaixara a guarda e recebeu a pior das traições. 

Ela faria Ordell pagar, arrancaria sua pele, cada fio de cabelo, pelo que fizera para as duas figuras mais importantes na vida dela. 

— Você vai desmaiar se continuar relutando assim  disse o continental. Estava remando há horas, mas não confiava nele para tomar o controle do barco. 

Tentava encontrar o caminho certo para Ilha Queimada, seguindo as estrelas, mas se sentia cada vez mais cansada a cada remada, sentia-se perdida e já começara a achar que talvez não fosse capaz de encontra-la outra vez.

— Catarina, vai acabar nos matando desse jeito.  Ela o odiava. Ele estava sentado largado do outro lado do barco, coberto por uma manta vermelha, o vento forte secara seu cabelo, mas seus lábios estavam pálidos, os olhos muito fundos, mesmo assim ele devia estar melhor do que ela, pelo menos era o que parecia, o que a sua voz irritante queria passar.

Mas não importava, se Cedrick pegasse o remo, ele tentaria talvez leva-los para longe da Ilha, em direção a Kalabhra e ela não confiava nele para descansar em paz, no primeiro momento sabia que ele podia joga-la para fora do barco. 

— Fique calado e pare de falar o meu nome  rosnou ela, a voz saindo roca e tremula.

Ele piscou, incrédulo. 

— Como quer que eu te chame? Talvez pirata sem dom seja melhor, o que acha?

O sangue dela fervilhou, maldito continental. Ela segurou o remo com força, os nós dos dedos ficando brancos, o olhar do continental foi direto para as mãos dela, percebendo o movimento. 

Ele balançou a cabeça lentamente. 

— É realmente muito fácil tirar você do sério, não é? Com certeza se tivesse um desses animais seria um urso enorme.  o homem riu, se aconchegando ainda mais na sua manta e a fitando, esperando sua resposta. 

Ele a estava testando, medindo e calculando seus movimentos, caçoando dela. Talvez até mesmo tentando relaxa-la? Talvez. 

Catarina suavizou os dedos e o continental levantou o olhar até encontrar o seu e sorriu levemente. 

— Assim é melhor, não é?  ele estendeu a mão para ela, pedindo os remos - Você precisa descansar, está remando há horas. 

Ela cruzou os remos e o barco ficou livre no meio do mar. 

— Eu não confio em você.  disse Catarina com uma sinceridade sufocante. Não confio e ninguém. 

Cedrick cruzou os braços, ainda analisando-a. 

— Estamos só nós dois aqui e você está exausta, se eu quisesse fazer qualquer coisa com você, já teria feito, as não farei, preciso de alguém para me ajudar a guiar o barco, sei que vai cumprir sua promessa e me levar para Kalabhra.

— O que tem de tão importante que quer tanto ir para lá, não devia querer voltar para Arwen?  cortou ela, irritada. 

Cedrick suspirou. 

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora