Capítulo Trinta

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A pirata ouviu sons no quarto, buscou por sua adaga, mas no segundo depois lembrou-se que estava no quarto do continental, abriu os olhos e o viu sentado à frente da escrivaninha, vasculhando os muitos papéis sobre a mesa. 

Catarina se levantou lentamente e ele sequer notou, percebeu que podia cortar sua garganta antes que ele pudesse piscar. 

Saiu da cama, calçou as botas e se aproximou de Cedrick como uma cobra marinha, sem nem mesmo farfalhar as mantas da cama. 

O continental parecia absorto nos papéis e até resmungava consigo mesmo. 

—Eu poderia te matar se quisesse sabia? — falou ela e ele se assustou, soltando a caneta de pena com um estampido metálico.  

O continental levantou os olhos para ela, tinha pequenas olheiras debaixo dos olhos e os cabelos castanhos escuros estavam bagunçados. 

— Não sabia que corria esse risco. — respondeu ele e Catarina se recostou na parede, cruzando os braços. 

—Não, mas estamos indo para um lugar onde provavelmente todos são nossos inimigos,  precisa saber proteger suas costas. 

Cedrick lhe verteu um olhar condescendente. E

—Pode me ensinar então, enquanto eu te mostro como se portar. 

Catarina bufou.

— Você tinha dito que esse senhor de Kalabhra não era um lorde, por que ele exigiria que eu soubesse tanto sobre bons modos? 

—Por que Gwendolyn Bennet não é uma qualquer— falou se virando para ela e cruzando as pernas — é uma condessa, não pode acabar com nosso plano agindo como uma pirata. 

Ela revirou os olhos e então focou nos papéis sobre a mesa antes de matar a vontade de acertar um soco em seu rosto desdenhoso. 

—Encontrou mais alguma coisa? — perguntou e Cedrick ficou sério no mesmo instante, se virou para a frente e apontou para a pilha de papéis à sua esquerda. 

—Aqui estão mais anotações sobre pilhagens do navio Brassard, não tem mais nada com Kalabhra, mas eu encontrei esse diário de bordo, o comandante parecia ser alguém bem organizado, mas o caderno está borrado e maculado, não sei se de proposito ou por acidente.

O continental pegou um caderno de couro e lhe entregou. 

Catarina folheou o caderno, vendo a caligrafia cuidadosa do comandante do navio que haviam tomado borrada e algumas folhas arrancadas. Pensou se o comandante havia se revoltado a ordem do capitão de seu Clã ou se sentira o terror dos poderes de Blackwod o obrigando a destruir as provas que estavam ali.

—O que quer que estava escrito aqui continha informações valiosas se o conteúdo foi destruído assim. Se encontrássemos o comandante...

—E se ele não tiver se tornado um fanático por Blackwood.— Cedrick deixou os ombros caírem. —O que é o mais provável, isso se estiver vivo e não tiver pegado fogo. 

Ele olhou de soslaio para ela e Catarina suspirou. 

—Conhece algo que possa recuperar essas páginas? — perguntou ao continental e ele bateu a caneta de pena na lateral da cabeça, provavelmente pensando, arregalou os olhos, mas logo depois voltou a ficar pensativo. 

—Talvez, em Arwen, mas só um talvez. 

—Voltamos a estaca zero então, precisamos torcer para que Kalabhra não tenha assassinado seu antigo senhor e para que ele revele que diabos Blackwood e Brassard estão caçando, além de convencer o novo lorde a nos entregar seus navios para lutar contra seus possíveis aliados. E convence-los a não nos matar depois de descobrir que seu casamento diplomático não vai acontecer. 

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora