Capítulo Quatorze

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Catarina se inclinou na proa do Sussurro e franziu os olhos para poder enxergar mais da mancha que se formava no horizonte.

—Terra à vista — alguém gritou e as palavras pareceram reverberam em seu coração.

Os contornos da Ilha se formavam cada vez mais, como se cada batimento seu impulsionasse o navio para mais perto.

Ela não sabia o que sentir, tocou o colar que fora uma vez de sua mãe e o objeto frio pareceu a acalmar.

Quando finalmente o Sussurro começou a baixar a âncora, Catarina sentiu o toque de alguém em seu ombro.

Ela se virou e encontrou os olhos esverdeados de Kiara que a observavam.

—Temos que ir —disse a loira.

Catarina concordou e a ultrapassou, seguindo em direção ao pai, o lobo e a pirata a seguindo de perto.

A tripulação estava reunida no convés e ela podia sentir a expectativa no ar. O capitão e a contra mestre já estavam próximos aos botes, ladeados por Erkar e Beove Hunter.

O capitão Castilho se voltou para sua tripulação.

— A partir do momento em que entrarmos nesse bote os deuses reescreverão nossa história. Estamos levando conosco sua força, sua lealdade e a busca pela justiça! Estamos mostrando a todos do que o Clã Smith é capaz e que juntos, acabaremos com nossos inimigos! A partir desse momento e para toda a eternidade, o Clã Smith será conhecido como assassino de traidores e desbravador.  Se tivemos que navegar até o Fim do Mundo para acabar com aqueles que ousam nos atacar, que assim seja!

Todos gritaram em concordância e Catarina foi inundada de uma positividade e força gritante. Ela sorriu e olhou em volta, para os homens e mulheres que eram leais ao pai. Naquele momento, tudo pareceu fazer sentido, a caça daquele inimigo desconhecido e a luta que se seguiria depois. Ela faria tudo para manter seu modo de vida e sabia que todos ali também o fariam, pelo pai e por si mesmos.

_*_

O bote sacolejava e se aproximava cada vez mais do emaranhado de terra.

Terra. Catarina se sentia sufocada com a ideia de estar tão longe de seu navio, de seu mar.

De onde estavam podia enxergar árvores compridas e rochas que se levantavam imponentes, olhando-os de sua posição eterna, cravadas no chão.

Haviam rios de pequena extensão que adentravam a Ilha e os botes seguiram em frente, sendo cercados por árvores altas e largas, que tapavam o sol com suas copas verdes escuras e de onde pássaros saiam e ganhavam o céu enquanto eles navegavam pelo rio serpenteante.

Depois do que pareceu muito tempo e que o suor escorria pelo corpo por conta da umidade, as árvores se abriam e o sol cegou suas vistas.

Catarina piscou e então um cenário incrível se revelou diante deles.

Sobre rochas de calcário cheias de musgo, estruturas de madeira do que pareciam ser milhares de barcos e navios, destruídos ou inteiros, haviam sido reconstruídos e agora pareciam uma  uma cidade, pontes de madeira e corda interligavam o que Catarina pensava que seriam andares infinitos de barcos e ripas de madeira que serviam para sustentar tudo aquilo. 

Aquela ilha era a história de seus antepassados, navios de Clãs já extintos ou de continentais que agora os reuniam ali, servindo de porto seguros para qualquer pirata que ousasse atravessar.

Os remadores guiaram o bote para uma área rebaixada onde o mar batia sem pressa na areia avermelhada, criando redemoinhos e espuma na orla.

Três figuras encapuzadas aguardavam não muito longe da beira.

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora