Capítulo Quatro

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Ela rodopiou e sentiu a pressão no joelho direito.

-Está desleixada. – resmungou a contramestre de seu lugar no canto direito do deque.

Sentiu o suor escorrer pelas costas e soltou o ar, apertando com força o cabo da pequena adaga.

Isabeau pedia dela não mais do que movimentos perfeitos e era por isso que odiava e amava treinar com a mulher. O seu parceiro de luta era um brutamontes, um pirata de quase o dobro da sua idade e tamanho.

Mas Catarina era mais rápida, mesmo que seus movimentos não fossem perfeitos.

Podia deixar a contramestre insatisfeita com sua postura, mas ninguém podia competir com ela em questão de desvios e esquivas. Ela nunca se deixava acertar.

Como uma enguia ou uma cobra do mar, pensou. Talvez aqueles seriam seus Familiares, se tivesse tido um.

Ou um lince, rápido e feroz.

-Postura, Catarina! – gritou Isabeau novamente – foque.

Forçou seu corpo a assumir a postura adequada, mesmo que isso diminuísse sua velocidade. O oponente investiu contra ela, sua adaga era muito mais velha, mas também pesada. Catarina deu um passo para trás, trocando os pés com ele, naquela dança de que tanto amava.

Alguns tinham parado para observar seu treinamento, aquele era o único momento em que prestavam atenção nela. Quando ela podia brilhar.

Por isso não falhava.

O pirata estava próximo dela, mas Catarina já percebia que pendia para um dos lados, cansado e ansioso pelo final da luta, mas ela era paciente.

Investiu sobre ele e por um segundo não o acertou. Ela sorriu, percebendo o quanto ele deixava o lado esquerdo mais desprotegido. Dançou mais um pouco, pisando exatamente no lugar oposto em que ele pisava, levando-o até a posição que queria.

Foi quando ele investiu pela última vez, deixando a lateral inteira esquerda a vista para ela. Catarina não perdeu tempo, se agachou com destreza, não se importando com postura, apenas aproveitando a brecha.

Foi um piscar de olhos para girar com facilidade a adaga pesada do oponente e ouvir o seu som atingir o deque do navio, antes e parar com sua própria adaga a centímetros de acertar o seu baço.

Encontrou os olhos do pirata, surpresos.

Ouviu algumas pessoas em volta deles baterem palmas, se ergueu novamente e sorriu para o brutamontes, que lhe ofereceu um aperto de mão.

-Parabéns, Cat. – disse ele e a jovem olhou em direção a contramestre.

Isabeau apenas negou lentamente com a cabeça e a dispensou, partindo para seus outros afazeres e dispensando-a.

_*_

Sentiu o cheiro delicioso do ensopado assim que alcançou o andar da cozinha.

O cozinheiro se chamava Leon e se sentou a sua frente na mesa. O salão tinha duas mesas compridas, os tripulantes costumavam comer em qualquer parte, pois o espaço no salão era pequeno, mas àquela hora não havia quase ninguém e Catarina gostava da companhia de Leon.

As vestes dele estavam sempre sujas e ele cheirava a peixe e condimento. Seus cabelos loiros estavam amarrados em um coque, ele era forte como um touro, mas não possuía nenhum dom na luta, suas mãos eram hábeis e seu dom era realmente na culinária, conseguia transformar o mesmo peixe em uma refeição saborosa, mesmo nas condições mais precárias.

Leon soltou um suspiro e Catarina ouviu o som de patinhas pela madeira da mesa.

-Então, Ilha Queimada – murmurou ele e Catarina sorriu ao ver o pequeno animal que correu até ela e cheirou o ar. O pequeno rato branco pareceu olhar diretamente para ela.

Sussurro das Marés - [Livro Um]Onde histórias criam vida. Descubra agora