Interlúdio

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Ei, você, que nos leu até agora. Você, que não levantou a voz para me defender e assistindo a tudo não se importou em impedir, deixou acontecer apenas pelo bem do seu entretenimento. Falo contigo e dedico este capítulo à interrupção de algo lindo, como um belo epitáfio de um pequeno vencedor. Faça bom proveito das nossas desgraças! E como diria Bob Dylan: afaste o lenço do seu rosto, agora não é a hora para as suas lágrimas.

Voltemos um ano atrás, 2015, quando e onde essa história começou. Tínhamos escrito aquele single à distância, só nos encontramos pessoalmente para os primeiros ensaios e a letra nunca foi alterada. Ela estava digna de um quadro, como sempre, já emoldurada era. Seu cabelo ondulado agitava-se sobre os ombros assim como o vestido longo espiralava as pregas, de um claro tom dourado, cor de sol do amanhecer.

Talvez meus olhos tenham crescido lágrimas, não posso ditar certeza nisso, de pouco me recordo, só o importante. Taylor cintilava, áurea, e seu brilho era puro aconchego.

Antonoff raspa a palheta na guitarra e desata sua sequência, reproduzindo a melodia inicial. Seguro o suporte do microfone em ambas as mãos, profiro:

Now I say the words I held in my tongue

I'll place each one in this make up song

But I think I still could finish our last rhyme

How could this all change in a dime?

I walk the streets, they've led me astray

Haunted by the words I left for yesterday

And I'm sorry if I let you down

I was looking for something I've never found

But God knows how hard I tried

Maybe I was meant to choke in my pride

Recuo alguns passos, dando espaço à Taylor e bebo de um copo plástico azul a tequila do dia anterior. Ela é linda não, é?

Sua voz recita:

Oh, boy, don't try to forget me, you can't

I'll be here every time you bend

T'was never personal, just played the game 

About hell: life gave you the same!

Now you kiss me and I think I'll be alright

Nothing's build to last, wicked or divine

And I'm sorry if I let you down

Don't you know, baby, I'm hell bound?

But God knows hard I tried

Maybe I was meant to drown in my tide

Taylor sorri, não para mim, mas com a ironia e todo o sentimento tenaz que o poema carrega. Eu não sei o que fazer, por isso me embriago. Com sorte, estarei de porre ao fim da canção, não afetará meu desempenho, mas me livrará dos bastidores.

Começo a dançar com o solo que Antonoff puxa, meus colares tilintam em meu pescoço, meu cabelo ondula de um lado a outro pelo meu rosto, como uma vela de navio.

Paul acena para mim, do outro lado da parede de vidro, indicando o dueto vocálico. Ladeamo-nos ao redor do microfone e consagramos os versos finais:

But I'll be here!

Oh, I'll be here!

Every time you need me

Every breath you breathe

Tears when you bleed

Blood when I weep

Taking root so deep

Our love spreads its seeds

And I'm sorry if I let you down

I was looking for something I've never found

Souls once apart can't be so far away

They'll end up together 'till the dying day

They'll end up together 'till the dying day

They'll end up together 'till the dying day

Seu sorriso por pouco me elucida, seus olhos são faróis a confundir-me nas ondas da realidade. Reles barquinho que sou, à deriva de um naufrágio nomeado Paixão, avistando minha Ilha-Patrona, minha Terra do Nunca, meu destino final. Contudo, oblitero-me no arrefice que sou, arrebentando o casco e fendendo meu próprio peito.

Veja, expectador, como caio por ela. Cairia mil vezes mais. Ah, plateia, vocês não entendem nada. Ainda há tanto, tanto para acontecer.

E esse beijo que ousei, é trabalho da ébria mente ou realidade factual? Que absurdo! Que pleonasmo fútil! Isto é o que me torno, talvez o que sempre fui bem fundo ao íntimo. Infante deslumbrado, errático... cativo e enamorado. Perdido, claro. Semissublimado.

Que diabo!, capítulo encerrado. Sumam daqui!

I Knew You Were TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora