Quão longe se pode ir?

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Ligo a TV. Já contam dois dias desde que Selena esteve aqui, as noites chegam mais densas agora. Ed surge na tela do meu celular, uma chamada, vibrando horrores. Recuso-me; largo o aparelho no sofá a um metro de mim e fixo meus olhos na outra tela à minha frente. Minha atenção não está inteiramente dirigida ao que há, soam vozes, passam imagens, nada ressoa alguma lógica.

Até que ele aparece, meu Harry, e o coração aqui ribomba diante do...

— Desaparecido. — Diz, sucinto, o âncora.

— Que mentira! — percebo gritar à TV, como se pudesse reverter a notícia.

— Harry Styles, membro da banda One Direction, não é visto há três dias e não fez contato com amigos. Os outros membros mantém-se unidos diante da situação e a família ainda não se pronunciou.

Estico o braço quase a arrancá-lo de mim rumo ao celular. Abro a lista de chamadas, toco o número de Ed. Minhas mãos tremem, corro à geladeira, tiro-me uma garrafa de vinho. Verto taça adentro o sumo, caem pela mesa alguns filetes, tomo o primeiro gole e na mente nada além de estática.

— Oi — atende-me.

— É verdade? — quase engasgo.

— Até onde sabemos, é...

— Por que?!

— É uma pergunta que também me faço.

— É culpa minha.

— Provável.

— Ele apareceu depois que saiu daqui?

— O motorista voltou só. Harry disse que queria andar, mandou-o embora.

— Ele tem dessas!

— Alguma ideia de onde ele possa estar?

Franziram-se minhas sobrancelhas. — Até que sim.

— Taylor! Não! Por favor!

— Você conhece o risco, Ed!

Encerro a chama, subo ao quarto. Tomo as chaves do carro, troco de roupa, lanço-me na via expressa. Quando quero recorrer à linha direta, lembro que eu a excluí. Tento recapitular os números, não me vem nada aos dedos. Esmurro o volante. Todos os semáforos parecem sincronizar-se em vermelho sempre que um esverdeia-se para mim.

Espero que não se corte limpando a própria bagunça, ouço-o sussurrar, ao pé de meu ouvido, sucedido por um calafrio. Sacudo a cabeça, examino o redor, nunca o carro esteve mais vazio. O vento do ar-condicionado rouqueja, deixa-me ainda mais trêmula, aumento a temperatura, mas não adianta.

A bagunça ainda está lá. Todos os cacos... Não tive coragem. A bagunça ainda está aqui. Todos os brados... Não tive resposta. Só o eco de você em mim.

Ligo o aparelho de som, fraquinho.

Você não se importa porque não me escuta de verdade, outro sussurro, através das caixas de som, um sibilar modesto, ainda agressivo.

Não suporto, marejam-se meus olhos, cerro os punhos no volante até que empalideçam.

— Você não está aqui! Não me provoque essa sensação! Você nunca está! Não é você que eu estou ouvindo!

Você só conversa consigo mesma, grita-me na estática da mente.

Aperto os olhos, tento sobrepôr seu timbre com um grunhido. Aciono o freio bem à fachada do edifício, brecando num instante de desespero. Desço do carro para subir ao apartamento, pressiono a campainha inúmeras vezes.

Taylor...? Kendall olha-me estranha.

— Você é louca de deixá-lo fazer isso? — exclamo.

— Quem?!

— Não se faça!

— Entre — ela liberou a passagem —, não há ninguém aqui.

— Não me teste a paciência!

— Se é sobre ele, não foi para cá que veio. E para falar a verdade, eu não faço a mínima ideia de onde está.

Adentro o apartamento, tentando estabilizar meu fôlego.

Que inferno, inglêsinho! Por quanto tempo mais ficaremos nessa cerca trova?

I Knew You Were TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora