Deixando a toca

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Despertei; o recordar se mesclara com o dormir e em algum momento, ainda estirado naquela cama, passei da lucidez ao onirismo sem me dar conta. É verdade que a cisão me deixara machucado, mas quem sou para maldizer tais decisões...?

Estou feliz por pelo menos um amigo estar bem a esse futuro que nos alcança. Logo, levanto-me, vou ao banheiro, lavo o rosto, desfaço o mau hálito, tento deixar o cabelo menos assanhado e falho, amarro-o num coque. Bebo um pouco d'água, volto à cama e sento-me na borda, respiro fundo, dormi demais e agora estou cansado de descansar.

Que estou fazendo? Ao mesmo tempo, tento fazer com que soe uma ordem, uma que me salve da preguiça. Desatam-me pensamentos existenciais: estou numa zona de conforto; estou evitando sair para não ter que continuar a vida; temo me machucar uma terceira vez.

Felizmente o sonho não fora nervoso, não acordei suado, mas agora sinto os músculos doendo; recordo que durante o episódio eu estava realmente teso, contraindo cada pedaço do meu corpo e o mesmo repetiu-se no sonho. Espreguiço-me só para que doa mais e o interior não me torture tanto. Visto um casaco, deixo o quarto, deixo o hotel, meto-me nas ruas de Tóquio.

Encontro um violonista e ele, a mim. Reconhece-me e não posso fugir. Acompanho-o, então, e seu instrumento chega aos meus dedos. Toco algo, uma versão acústica, sem gritos, de Sign of the Times.

— Ei, Haz! — dos passantes, emerge uma garota loura; acho que já trocamos palavras no passado. — Sou eu, Camille.

— Ah, sim! Oi! É claro que é! — interrompo a canção, devolvo o violão ao dono. — Bom te ver!

— Digo o mesmo! Não sabia que estava aqui...

— Cheguei a pouco tempo.

— E o que veio fazer?

— Ainda não tenho ideia.

— Soube que a banda se dissolveu.

— Pois é... Tudo muda...

Ela assentiu com um meneio de cabeça.

— E você? — rebato.

— Um ensaio. Nada demais.

— Que mundo pequeno...

— Eu que o diga!

I Knew You Were TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora