Alta como o céu

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Espalhei a linha branca pela mesa de centro, não me julgue, nem eu me julgo, faço o que posso com o que tenho. Enrolo uma cédula no molde de um canudo e aproximo-a da carreira, encaixo numa das narinas e aspiro-a de uma vez.

Um grunhido me sobe pela garganta enquanto uma de minhas vias nasais queima, gelada, e meu campo de visão é coberto por estrelas minúsculas que cintilam em cantos dispersos, totalmente periféricas. Engulo em seco e respiro fundo, esfrego meu nariz para aliviar um pouco da efervescência, caio no sofá.

Sinto meu pulso acelerar, meu coração galopa como se pudesse atravessar o peito e estou pronta para o que vier, sem saber exatamente o que me aguarda. À essa altura até uma tragédia seria bem-vinda!

Harry voltara à sua casa há dois dias e tudo aqui estava mais monótono, não havíamos brigado, mas decidimos que um pouco de espaço seria o ideal antes de começarmos a nos ver cheios de intenções por trás, que nenhum dos dois estava a par, que nenhum dos dois pudesse realizar.

Eu queria que ele estivesse aqui, que pudesse me acompanhar nesse ócio, nessa intoxicação, mas íamos em caminhos diferentes. Quanto mais saudável ele se tornava, mais eu enlouqueceria se precisasse fazer o mesmo. Quanto mais intoxicada eu estivesse, mais eu o afundaria no poço se pedisse para me acompanhar. Ao fim, mantínhamos numa corda bamba, cada extremidade, um absurdo. E de absurdos em absurdos construíamos nossa dinâmica.

Somos mesmo a peça que faltava em nossos quebra-cabeças?

I Knew You Were TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora