I Knew You Were Trouble

Reflexo de quem?

Tento não cansar os olhos observando meu reflexo n'água da piscina, os cacos de vidro se foram, não sei quem os recolheu. Tento não pensar no quão cativante o destino de Narciso me soa agora e rejeito o delírio, exilando a ânsia que me sobe pela garganta. As lágrimas não são amargas, somente salsas como a água do mar e se eu chorar o suficiente tornar-me-ia uma Pangeia ao redor do meu oceano de angústia.

Aproximo minhas pernas ao busto, abraço-as sentindo a energia que a refeição reestabelece-me, suspiro e vejo uma folha caindo na superfície da piscina, ondeando devagar sua água, o agito chega à margem quase já sem força, sem objetivo e se dissipa. Suspiro outra vez, abaixo a cabeça apoiando minha testa nos joelhos, o vento sopra os galhos acima de mim e as folhas são resistentes o bastante para não virem todas à água.

Espio, por debaixo do meu braço: Ed e Selena, sentados no sofá, conversando, a TV em baixo volume sussurra sob suas palavras e talvez falem de mim, talvez  planejam os dias que virão e eu gostaria de me irritar e ordenar que se fossem. Fôlego para argumentar que a vida é minha e não os quero tomando decisões em meu lugar como se eu me encontrasse, ou fosse — ou tornara-me — uma inválida, mas não me atrevo a ser tão ingrata. Não me atrevo a vendar-me com um orgulho tão frio e inútil que, com certeza, direcionar-me-ia à morte outra vez.

Quero subir, fechar-me em meu quarto, deitar e sonhar. Sonhar que desapareço nas estranhas do universo, que dissolvo-me no tecido do espaço ou estico-me ao último átomo, como spaghetti, numa  singularidade qualquer até que os pensamentos sejam extintos tanto quanto a matéria.

Porém, e se a consciência restar...? Se isso for o último e único desafio que não sou capaz de vencer? Então, só me sobra voltar aqui, ao chão desta Terra sem sentido sob o Firmamento, sob o Sol imparcial que se ergue e se derrama sobre todos, e viver o que tenho, como posso, durante o tempo que me foi regalado.