I Knew You Were Trouble

Método de emergência

— Tudo bem? — indaga ele, encontrando-me recostada à cama, no chão.

Assinto, descansando papel e caneta no piso.

— Acho que estou principiando uma crise... — confesso, cerrando os punhos.

— Ansiedade?

— Uhum — meneio um sim já sentindo faltar o ar.

Harry vem à mesa de cabeceira, apanha a garrafa d'água e encaixa-a entre as minhas mãos,  sentando ao meu lado...

— Não me esqueci — abraça-me, enquanto destampo-a.

— Desculpe, não sei bem o que está acontecendo...

— "Desculpe" pelo que?

— Não sei... Por ser um incômodo.

— Nunca é. Nunca reclamei — sua mão afaga-me o cabelo, sinto-o encostar a têmpora na minha. — Foi algum gatilho específico?

— Não, acho que não... Foi quase quando você saiu do banheiro.

— Ah, então eu sou o problema.

— Não... — abaixo a cabeça um pouco mais, inspiro fundo e abraço as pernas. Penso em replicar, sei que foi uma piada, estou acelerada e oca demais para fazê-lo, mas sinto que não é verdade. Não completa. — Não é exatamente você...

— Não?

— Não... Já faz um tempo que não consigo terminar umas letras.

Ele franze as sobrancelhas. — Co—Por que?

— Não sei. Eu estou tão acostumada a escrever letras tristes. Agora que tento escrever uma apaixonada, não me sai. E no começo me saíam tantas.

— Alguns começos são mais fáceis.

— Você sabe disso mais do que ninguém.

— Acha que tem a ver como aquele nosso single?

— Como teria?

— Não sei. É uma letra tênue. Não é bem triste, não é completamente romântica.

— Então, não é sobre o single, é sobre nós...

— Talvez seja sobre quem somos nela.

— É possível...

Seus dedos ainda vem e vão por sob o meu cabelo e aquilo me tira alguma tensão, relaxo-me sobre seu ombro.

— Você se sente assim também? — rebato.

— Sim... Mas na maior parte do tempo eu só não sei como colocar no papel.

— Essa pode ser a oportunidade de juntarmos o útil ao agradável uma vez mais!

Seu braço me rodeia com mais firmeza.

— Sim... Quantas vezes pudermos!