Dry

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— E qual era? — Tom pousa a garrafa no balcão.

— O que...?

— Você disse que tinha uma dúvida.

— Ah! Sim... — engulo o Martíni. — O que fazia na praia?

— O que você fazia lá?

— Eu perguntei primeiro.

— Isso é um interrogatório?

— Felizmente, você tem um trago à mão.

— Isso não quer dizer muito. Só mais uma forma de me impôr sinceridade.

— E qual o problema?

— Não quero ser chato.

— Não é uma cobrança. Eu apenas tenho essa curiosidade.

— Foi um término... Duramos algum tempo. Meio ano. E de repente percebemos que não era amor. Não sei quem percebeu primeiro, mas certamente ela foi a primeira a demonstrar. Eu talvez, em dado momento, só estivesse me enganando. A ideia de namorá-la parecia tão perfeita, tão magnífica que eu me deixei contaminar. Acreditei que eu deveria servir àquele amor.

— Em vez de tê-lo como um igual?

— É... E acabei servindo a ela. Então deixei de ser eu mesmo. Deixei de reconhecer meu reflexo, minha sombra; meus amigos cada vez mais distantes. E eu sequer os ouvia, tendo certeza de que eles estavam errados.

— E quando tudo mudou?

— Eu estava numa boate. Vi quando ela beijou outro, não fiz nada. Minha garrafa de cerveja estava quase no fim, levei-a comigo ao banheiro. Tentei chamar um amigo, queria sair dali, quanto mais chamadas eu tentava, menos alcançável ele parecia. Naquele instante fiquei apavorado, comecei a me perguntar se eu tinha me afastado tanto que não poderia voltar atrás. Porque nós nunca pensamos que estamos o mais distante possível até perder o farol de vista. E, no desespero ,espatifei garrafa na parede, lanhei a palma da mão.

— O que ela fez?

— Nada. Quando deixei o banheiro, ela não estava mais lá. Eu também a perdi de vista desde então e onde quer que esteja, estamos melhor distantes.

— E os seus amigos?

— Conseguimos nos entender.

Tom bebe um gole da cerveja.

— Todas as suas lágrimas foram realmente usadas.

— Noutro amor...

— E não houve outros amores?


— Houve... Mas é a questão da letra, não foram completos. Não foram vividos por completo...

— E quando acabaram...

— Mal doeram.

— Quem me dera!

— E como tem sido para você? — o sorriso dele não é malévolo, é empático.

— Tudo por água abaixo.

— Como sempre...

— Pois é! Até onde se pode estudar, sim!

I Knew You Were TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora