Reenceto

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Não tardou até tudo ganhar algum sentido. Ou pelo menos, assim eu gostaria que fosse. Depois daquela manhã invernosa, o frio não se fizera somente ali, naquele âmbito que eu pouco conhecia, e pelo qual adotei como meu reenceto.

Se fizera também em boa parte de mim, em minhas mãos, minha respiração, em meus sentidos. Tudo congelava, de dentro para fora. Tudo congelava, assim como toda a informação assimilada que eu tinha do lugar. Tudo aparentava estar pétreo, abaixo da temperatura estável de dias bons. No entanto, tudo também se mostrava acolhedor, como se, de fato, fizera sentido aquela sensação; como se eu, enfim, estivesse esperando por todo aquele frio.

Paul não me contatara desde então e eu me desconectei de tudo.

É tarde demais para tomar café e cedo demais para assumir as coisas por aqui. A verdade, é que lá no fundo, eu preciso de uma taça de vinho, enquanto fumego um cigarro. Taylor provavelmente tentaria arrancar o fumo de mim, faria com que caísse longe e depois repreenderia essa tal "boemia". "Qual é! Nicotina tem cara de refeição?"

É... Bem acurado; sem tirar, nem pôr.

Sinto sua presença, seu calor, como se a mesma estivesse segurando minha mão e nem consigo encostar no cigarro, apenas o estaciono em meus lábios encenando tudo no olho da mente. Sinto que me observa com aquele esgar de decepção e raiva. Uma feição fofa, afinal...

— Rir para não chorar!

Levanto. Apanho o celular, quase descarregando. Observo se existem algumas chamadas. Nada! Em seguida, vou ao banheiro, fito-me no largo espelho; estou uma cópia duma cópia duma cópia. E lá entre as mil camadas de cores da minha íris, está ela, cintilando devagar como uma galáxia distante, vagante. Sinto-me péssimo, mas os cachos aos ombros nunca brilharam tanto e. de maneira excêntrica, isso até chega a compensar!

I Knew You Were TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora