Capítulo 5

21 5 0
                                    

Ketlyn estava com uma baita dor de cabeça. Quando abriu os olhos a vista estava embaçada, piscou algumas vezes para melhorar e se viu jogada em uma estrada de terra arenosa. De ambos os lados grandes árvores verdes protegiam o caminho, para além do horizonte havia diversas construções, todavia devido a distância era quase impossível decifrá-las.

A menina levantou com dificuldade, contudo a tontura devido o baque a fez cair de joelhos. Seu coração gelou por um momento: não sabia o que havia acontecido com ela ou Philip, por falar nisso onde ele estaria? Ela tentou se concentrar, percorrendo com os olhos todo o espaço. Viu então a silhueta de alguém parado de pé na direção da cidade, um pouco mais a frente que ela. Com certa dificuldade Ketlyn se levantou, aos tropeços, indo em direção a Philip, pelo que parecia eles estavam em um ponto alto da estrada, o que lhes permitia ver boa parte da cidade.

- Onde estamos? – perguntou olhando ao redor perdida. – E por que você está cheirando queimado?

A camiseta dele estava chamuscada na parte de baixo, ainda saindo um pouco de fumaça.

- Líber? – indagou para si, estava com uma expressão de dúvida e surpresa ao mesmo tempo.

- Dá para você falar pelo menos onde estamos?

- Eu não acredito. Nossa. Mas como?! Não faz sentido.

- Dá para responder alguma das perguntas que eu fiz? E o que é isso no seu cabelo?

Ketlyn não sabia como nunca tinha percebido aquilo: havia uma grande mecha alaranjada no meio dos cabelos bagunçados de Philip, aquilo literalmente parecia saltar dali. Espera. Ela já havia visto... Nos sonhos e no quadro em seu quarto...

- O que? – ele diminuiu o sorriso e olhou bem para Ketlyn, não tinha se dado conta até aquele momento que a menina estava ali – Essa não. – seu tom mudou de instantâneo de alegria para preocupação – Eu...

Ele foi interrompido pelo tapa de Ketlyn em seu braço, em seguida ela o segurou e começou a sacudi-lo.

- Para garota! - gritou se desvencilhando.

- Ufa, não é um sonho. - comentou aliviada, percebendo algo depois - CÉUS! NÃO É UM SONHO! ONDE ESTAMOS? - gritou agitada, fazendo menção de sacudi-lo de novo.

- Ok, eu falo. - disse evitando ser pego - Estamos em Líber. - contou com desdém.

- Como assim? Isso não ajuda! Fala sério! Onde estamos, você sabe não é?

Era impressionante a capacidade de Ketlyn de disparar perguntas, no dia a dia já eram várias, no momento ela estava quebrando o próprio recorde.

Philip queria desaparecer, a garota ali estragava tudo, contudo sabia mais que ninguém que ela não desistia, vivia isso na pele por dois longos anos.

Enfim se deu por vencido, contaria ao menos um pouco agora, o que era um grande problema para ele, afinal ela iria querer saber mais e iria enchê-lo de perguntas até ele contar tudo que podia e mais até!

Pensando bem, Philip chegou à conclusão que isso não seria um grande problema, já que de qualquer jeito ela seria a única a saber, não poderia contar a mais ninguém e mesmo que contasse seria dada como maluca. Dane-se o que o Caio tinha aconselhado, ele nunca dava muita bola para o que aquele velho falava mesmo, porque daria agora? Já estava em casa, bom ao menos perto, não tinha mais ligações com ele, nem divida nenhuma que o ligasse. Philip ia contar e ponto final, se fosse muito para ela suportar ele poderia tentar surrupiar alguma poção do esquecimento em algum lugar, mas claro somente em último caso... Ou penúltimo... Ou... Ah! Quem sabe o que podia acontecer, não?

- Beleza! - falou a interrompendo - Estamos no continente de Líber. Pelo que reconheço na capital de Arbo, do reino de Líber do Sul. Isso fica em outro mundo, podemos dizer.

- Outro mundo, como assim? – indagou confusa.

- Tipo... Terra do nunca, sabe? Acho que pode ser comparado. Existem vários mundos e esse é um deles, assim como o seu.

- Você está brincando, né? Só pode. Porque se algum desses lugares existisse, como chegaríamos lá ou como chegamos aqui?

- Também não sei, mas pelo visto você achou um portal lá no banheiro. Meus parabéns, você conseguiu. - "o que eu não consegui por dois anos" pensou com desgosto.

Ketlyn estava tentando processar tudo aquilo, mas estava difícil, muito difícil.

- Bom... Vamos sair daqui? - continuou - Não quero ser assaltado.

Ketlyn assentiu ainda mergulhada em pensamentos.

Conforme desciam a estrada começavam a ver sinais de casas que surgiam ao longo do caminho, contudo mesmo que houvesse, ao lado esquerdo deles ainda predominavam as grandes árvores. Outras construções também podiam ser vistas, alguns prédios pareciam um tanto acabados e desgastados, além disso eram poucas as pessoas que passavam por eles, Philip explicou que era uma região afastada do centro e que aquela não era uma das principais rotas para a cidade, por isso era tão desértica.

- Temos um problema. – disse parando de repente olhando o céu

- Só um?! Sério?! Até agora acho que já são uns 6.

- Temos pouco tempo até escurecer. – disse a ignorando - Não temos um lugar para dormir e também não podemos pagar um hotel, além que não conheço ninguém que more aqui perto.

- Então o que vamos fazer? Espera aí! Como assim conhecer alguém daqui, tipo como assim você conheceria aqui? Ei! É mesmo! Como você conhece aqui?! – indagou histérica. Ela tinha pensado bastante nisso e nada parecia fazer sentido.

- Conheço bem a floresta, podemos ir por dentro e ela é segura, – falou sem se importar com as perguntas dela – Além do mais dá para acampar lá, tenho experiência e é melhor que dormir na rua. Essa aqui não vai nos levar muito longe mesmo.

- Beleza. – ela decidiu esperar para refazer a pergunta, já que ele tinha acabado de fingir não ouvi-la.

- Ok. Vamos. – disse entrando na mata.

Ela o seguiu, mesmo achando aquilo uma loucura.

Líber vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora