Capítulo 2

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Se Ketlyn já achava Philip estranho, sua manhã na escola com o rapaz não podia deixar de contar alguns pontos extras. Afinal, a cena durante o jogo de basquete do olhar, literalmente, chamuscante de desafio de Philip não lhe saía da cabeça, infelizmente quando tentou confirmar a visão Douglas pulou sobre o garoto, fazendo qualquer resquício sumir em segundos.

Claro que após isso eles ainda tiveram uma das suas discussões paralelas criando um clima horrível durante o lanche. Ketlyn quase podia ver a tensão no ar. Será que eles não podiam ao menos um dia agir como pessoas normais?

Agora, a garota estava à frente da casa de Philip. Diferente do esperado, não era uma fortaleza rodeada de chamas, nunca duvidou que ele morasse em um lugar assim, na verdade era bem simples com um Limoeiro na frente, ela não conseguiu conter uma careta com a ironia.

Ketlyn tentou afastar os pensamentos balançando a cabeça, se apoiando no portão que abriu com o toque.

Ela olhou de um lado ao outro inquieta. Se estava aberto não fazia mal seguir em frente e bater na porta, certo? Só esperava que Philip não estivesse em completo mal-humor.

– Esqueceu a chave de novo? – indagou o garoto entediado abrindo a porta, os cabelos castanhos bagunçados como sempre – Ah, é você. – disse pouco surpreso.

– Oi, lembra do trabalho? - falou tentando reunir o máximo de animação na voz.

– Sim. Você simplesmente entrou? – indagou meio cético.

– O portão estava aberto. Posso entrar?

– Acho que não tenho como impedir. – afinal ela já estava entrando, e ele só podia fechar a porta logo atrás.

Havia alguns móveis no lugar, mas para Ketlyn pareceu uma área limpa somente com a mesa ao meio, Philip inclusive já havia deixado tudo preparado para o trabalho. Assim, só precisaram discutir o que montariam, chegando à decisão por uma maquete de alguma cidade simples, a qual Philip logo fez um rápido rascunho, sua habilidade de desenho não era tão mal afinal.

A maior parte da atividade estava sendo feita em silêncio, um silêncio constrangedor que incomodou Ketlyn, que logo começou o seu melhor para puxar algum assunto que lembrasse ser do interesse do garoto, contudo ela apenas recebeu respostas curtas ou simples grunhidos. Percebendo o fato que o garoto não queria conversa, ela apenas assentiu, focando todas as suas forças para fazer o melhor trabalho que poderia.

Após isso, o silêncio se tornou um pouco mais suportável e Ketlyn ficou feliz por poder estar fazendo algo com o amigo, não que não fizessem muitas coisas juntos, na verdade ela era a única pessoa que parecia suportar o temperamento do garoto, além de Douglas é claro, mas sabendo da opinião de Philip quanto a ele, era óbvio que sempre evitava o rapaz. Assim, a companhia para todos os trabalhos, grupos ou na maioria das horas vagas era Ketlyn. Suas amigas também estavam juntas às vezes, mas não era como se ele ou elas gostassem da companhia um do outro, era visível que o único elo ali era a garota. Ademais, Philip volte e meia mantinha seu costume de ficar sozinho, porém saber que cada vez mais ele escolhia passar tempo com ela do que só, a enchia de alegria e calor no peito.

O baque na porta a tirou de seus pensamentos. Philip nem precisou olhar para o rosto do homem para saber que seu semblante estava sério e seu olhar analítico sobre eles.

Ketlyn deu um pulo com o som, focando logo sua atenção na figura à sua frente, seus cabelos e barba rala eram grisalhos, seus olhos castanhos tinham uma aparência cansada, porém a garota podia sentir uma energia vivida deles que contrastava com todo seu exterior. Ela viu pela visão periférica que Philip ainda desviava o olhar do homem, seus punhos cerrados visivelmente irritado, até que a atenção do senhor mudou de alvo para ela, a observando de cima a baixo, seguido de um olhar curioso que ela conhecia bem.

Líber vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora