Capítulo 9

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Philip esperou alguns minutos para confirmar se Ketlyn já estava dormindo. Ela ficou um bom tempo acordada ainda olhando para o céu e para ele, enquanto esperava o sono chegar e quando chegou dormiu como uma pedra, um sinal disso foi o ronco baixo que se escutava.

Quando o menino teve certeza que ela já estava apagada se sentou para verificar algo, o que lhe provocou uma dor intensa por toda a parte direita de sua barriga. Agora era certo que tinha sido ferido. Levantou a camiseta quase em fiapos para ver o estado do ferimento, com cuidado evitando fazer qualquer som ou gemido, quando o viu: eca!

Estava saindo pouco sangue agora, mas alguns fiapos da camiseta haviam se grudado quando ele tentava estancar sem chamar a atenção. Decerto só precisava limpar e fazer um curativo, no entanto não tinha nada disso no momento. De impulso olhou para a fogueira. Não. Cauterizar com um galho em chamas não era a resposta, não estava tão desesperado ainda e isso só devia ser a última opção, fora que a chance de obter uma infecção era grande.

Mas, espera?! Ele não tinha Habilidade de fogo? Não podia acender uma bola e cauterizar assim? Isso era tão óbvio que ele nem percebeu porque não tinha tentado isso antes. Ele abriu a mão e... Nada, nem uma fogueirinha. Tentou de novo: uma pequena labareda que não ficou acesa nem por 1 minuto. Droga! Aquilo não ia dar certo, o ferimento estava sujo demais, não tinha certeza se cauterizar seria mesmo o melhor, além de estar difícil fazê-lo e não saber se funcionaria nele, sabia que podia se queimar, todavia depois que aprendeu a controlar sua Habilidade isso se tornou algo raro. Quem sabe fosse só ele querer...

Enfim, restava portanto esperar. Provavelmente quando chegasse ao rio poderia molhar e limpar com um pouco de água, o que só ajudaria por um tempo, sendo ainda melhor do que nada. Só teria que fazer isso sem Ketlyn ver. Talvez ela se distraísse com alguma coisa fora de vista, assim ele podia falar que ia fazer algo e voltar antes dela para limpar o machucado.

Ele torcia para que ela se distraísse rápido, assim também desejava que fosse sua partida. Foi com esse pensamento que ele adormeceu, vidrado no céu de sua terra.

***

O sono de Ketlyn não era tão pesado quanto Philip pensava.

No meio da noite a garota sentiu algo quente chegar perto dela e ouviu um barulho baixo, contudo perto o suficiente. Quando abriu os olhos para ver o que era, apesar de estar ainda sonolenta, levou um susto. A fogueira estava descontrolada: o fogo subia e descia, aumentando a sua chama que avançava indo em várias direções, não tinha certeza se isso estava mesmo acontecendo, então esfregou os olhos inúmeras vezes para deixar a visão mais clara. O barulho vinha de Philip que se contorcia, sua mecha vibrava tal qual fosse uma labareda, parte do fogo parecia sair dele rumo à fogueira.

Ela levantou depressa cambaleante indo até o menino, se esforçando ao máximo para desviar do fogo, quando estava perto o suficiente pegou um galho próximo e o sacudiu com o objeto, tentando acordá-lo. Ela não tinha certeza, mas parecia que ele estava queimando, literalmente, a ponto de até sair fumaça, então por via das dúvidas achou melhor não tocar em seu corpo.

A menina chamava seu nome em pânico pedindo para que acordasse, enquanto as brasas se aproximavam cada vez mais, sua teoria sobre ele estar em chamas logo foi confirmada quando seu galho se desfez em cinzas, a não ser pela parte que segurava. Como nada parecia estar funcionando e estavam prestes a virar churrasco, apenas uma ideia passou por sua cabeça e era muito imprudente: sem hesitar ela deu o tapa mais forte que conseguia no braço dele, seguido por vários outros guiados pelo pânico.

Philip acordou num salto assustado, o suor pelo agito se transformou em vapor de imediato e a fogueira diminuiu instantaneamente, quase se apagando.

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