Capítulo 13

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Em Lest, os raios de sol a pino anunciavam o fim da manhã, enquanto invadiam a sala de Lian.

Ele estava entediado em sua cadeira, assinando alguns documentos obrigatórios e analisando outros mais uma vez. O ruivo não parava de suspirar, todavia ele não estava sozinho, junto dele estava uma mulher de estatura média, um pouco baixa na verdade, que organizava várias pastas de papel sobre a mesa do rapaz. A todo momento ela colocava uma mecha de seu cabelo loiro mel atrás da orelha, o que não durava muito pois ele sendo curto, quase chegando aos ombros, logo voltava a seu lugar.

Lian começou a batucar os dedos na mesa inquieto e a fazer pequenos movimentos com a cadeira giratória. A mulher o fitou por um bom tempo, seus olhos cor de âmbar analisando cada movimento do ruivo, todavia parecia que ele os fazia sem ao menos notar.

- Certo, o que houve? - ela falou ainda o fitando.

Ele a respondeu com um olhar chateado:

- Não gosto desse café. - seu tom saiu melancólico, mas não surtiu qualquer efeito na mulher - Certo. - ele disse com um sorriso de canto olhando os documentos, logo se voltando para ela - Sabe onde está a Srta. Castilho? Não a vi hoje.

O seu comportamento já voltava a ficar enérgico.

- Ela saiu em patrulha logo cedo.

- Sabe quando voltam? - perguntou levando o lápis à boca pensativo.

Ela provavelmente se arrependeria de dar aquela resposta, já temendo o que ele poderia querer fazer, ainda mais do jeito que estava:

- Não sei, mas devem demorar.

O rapaz girou na cadeira dando uma risada baixa.

- Não sei por que ela não me conta essas coisas. - seu tom era chateado, apesar dessa expressão não ter durado muito em seu rosto - Nesse caso, acho que posso fazer minhas coisas sem problemas.

Ele já pulava da cadeira pronto a seguir à saída, quando ela o impediu.

- Que tipo de coisas? Não se esqueça que é proibido...

- Sim, Mia... - seu tom era cansado - Mas não vou fazer nada proibido, talvez só me divertir um pouco.

Ele deu um sorriso confiante, a qual ela não acreditou nem um pouco.

- Só... Não ... O que vai fazer? - disse enquanto passava a mão na testa preocupada.

- Colher informações com os presos. - respondeu desinteressado.

Mia pensou um pouco nas possibilidades.

- Acho que tudo bem, já que ela não está aqui e faz tempo que não faz isso...

- Certo, fui! - disse já fechando a porta.

Lian desceu os andares aliviado, ao mesmo tempo que sentia um peso em seu peito, se é que isso era possível. Ele gostava de Mia, era uma ótima amiga e funcionária, sempre que precisava ela o ajudava, mesmo que não concordasse em alguns de seus atos. O rapaz seguia rumo a uma das prisões que ficava no subsolo, seu andar era firme e parecia causar um grande incômodo a todos ao redor, sentimento por ele entendível e até certo ponto... Agradável, afinal era isso mesmo que queria.

A sala de entrada para a prisão era um local pequeno se comparado aos demais espaços do castelo. Entre as duas portas reforçadas, a qual o ruivo entrara e a que levava para as celas, estava um guarda que monitorava as diversas telas que mostravam a prisão.

- Quero tirar algumas informações dos presos. Abra. - o tom de Lian era autoritário e ameaçador, fazendo o guarda não pensar duas vezes.

O homem assentiu assustado, e um pouco desconfiado pela presença do ruivo, enquanto fazia o que o havia sido encarregado.

O nó que se formava no estômago de Lian era grande, enquanto via a porta se abrir, todavia seu semblante permanecia sério. Fez um leve movimento de agradecimento, junto de um sorriso macabro ao guarda quando este lhe entregou o controle das celas, antes dele adentrar no local e seguir rumo ao seu objetivo, ao mesmo tempo que ouvia a porta se fechar logo atrás.

Já era quase certo que sua visita seria demorada, normalmente era assim...

Ele seguiu procurando por alguns corredores, lembrava que a prisioneira não estava tão longe da entrada, entretanto, para sua infelicidade, possuíam o péssimo costume de mudá-los de local.

Ao passo que caminhava podia ver vários prisioneiros, um em cada cela e todos presos por correntes que levavam um líquido a suas veias, o que neutralizava suas Habilidades. Alguns prisioneiros eram de guerra, antigos amigos e até companheiros, alguns deles simplesmente o encaravam, outros xingavam e com toda a força que os restava, o que não era grande coisa devido o veneno, tentavam puxar suas correntes para perto da grade numa tentativa fútil de bater no rapaz, outros por outro lado apenas jaziam inconscientes no chão. Logo ele avistou a cela que procurava, quase no fim do corredor, como as outras só havia uma pessoa nela.

Ele adentrou e pressionou um botão no controle que fez toda a cela se fechar, como se virasse uma sala onde nada poderia ser ouvido ou visto de fora, até mesmo as câmeras ficavam no exterior. Como costumavam dizer: "Se não viu, não fiz. Se não ouviu, não sofreu". Apesar de não ser algo legal, era comum as práticas de tortura nas prisões. A fim de evitar futuros problemas esse esquema foi criado, afinal não haveria provas do que acontecia.

- Demorou mais que o planejado. - disse a garota sentada no fundo daquele espaço. Ela estava cabisbaixa e seus cabelos ruivos escuros caíam lisos num corte desfiado sobre seu rosto pálido, seus olhos verdes claros fitavam o chão.

- Digamos que tive alguns imprevistos. Fora que é difícil vir até aqui, tem muita desconfiança...

- Ainda mais porque você nunca aceitou aquele acordo, não é? - ela levantou o rosto para vê-lo, seu tom era inflexível em busca de uma resposta - Você não comenta sobre isso.

- É... - ele coçou os cabelos inquieto mirando o chão - Mas, eu estou bolando algo, não se preocupe só preciso que vocês mantenham aquele segredo ainda, está bem?

- Por mim está bem. - pelo visto não receberia sua resposta dessa vez. Ela o observou com cuidado - Está estranho, o que aconteceu?

- Hã... Não aconteceu nada, apenas alguns problemas que já estou resolvendo. - falou depois da surpresa.

Ela suspirou desconfiada, mas decidiu continuar a conversa:

- Sabe que estão planejando algo não sabe?

- Quem?

- Está brincando? É claro que são os ourianos, acho que estão pegando alguns dos prisioneiros para fazerem experimentos, talvez não peguem alguns para usarem contra você.

- Não acredito nisso. - disse reflexivo - Já me fizeram várias perguntas e já até cheguei a ver alguns testes. Sei que de alguma maneira o que querem fazer está relacionado às Habilidades.

- E estão perto. - ela completou séria.

- Certo, verei o que posso fazer quanto a isso.

Ele estava prestes a sair quando ela o indagou:

- Então esse não era um dos seus problemas?

Lian hesitou:

- Claro que era. - respondeu com um sorriso.

A menina também não conseguiu esconder um, seus lábios se levantaram levemente formando um sorriso pequeno, era impressionante como o amigo não parecia saber enganar, pelo menos a ela.

Antes dele sair ela fez um último pedido: para que Lian fosse ver um amigo que havia se metido em uma briga por causa dele, o que não era a primeira vez. O garoto vivia se metendo em brigas, a primeira há alguns anos havia sido por que ele havia ouvido um comentário maldoso sobre ela e partiu para cima, no final ela teve que o tirar arrastando de lá.

Líber vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora