Capítulo 4

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Depois de um tempo Ketlyn sentiu sua mão suja e viu que começavam a faltar alguns itens para finalizar o trabalho. Chamou por Philip, todavia não conseguiu ouvir sua resposta que parecia abafada, então decidiu tentar encontrar por si mesma.

Bom, deveria ter em algum lugar ali. A porta onde houve a discussão estava trancada, então tentou a próxima que se abriu com facilidade. No entanto, Ketlyn congelou com a visão.

Aquilo era uma completa bagunça, havia papéis por todos os lados. Ketlyn mal conseguia ler o que estava escrito, além de um "boneco" de madeira para treino de luta pessoal, junto de algumas espadas do mesmo material. As paredes ao redor eram todas revestidas de ferro e como tudo ali tinha marcas de fogo.

Ela não podia deixar de pensar no que havia acontecido ali, será que a casa quase pegou fogo? Não, era mais provável ser outra coisa.

"Foco" pensou. Algo particularmente difícil.

Enfim, saiu do escritório e ainda nenhum sinal de Philip. Olhou à porta ao lado, talvez seu quarto, bateu nela em vão e sem obter qualquer resposta entrou devagar evitando fazer barulho.

O quarto era um pouco menor que o escritório, com uma cama, vários mapas desenhados a mão, colados por toda parte, um pequeno guarda-roupa e uma escrivaninha de desenhos na lateral, além de uma cômoda com a gaveta aberta mostrando algumas camisetas. Logo acima havia poucas coisas: um despertador e um porta retrato. Tudo minimalista.

Ketlyn se aproximou com curiosidade, analisando a foto composta de um homem de cabelos castanhos claros, olhos sérios verdes e postura firme, embora esboçasse um largo sorriso. Levava um longo arco e carregava uma aljava cheia de flechas, com um dos braços envolvia uma mulher que tinha longos cabelos ruivos com mechas escuras, algumas diferentes das outras, que pareciam poder mudar a qualquer hora, seu olhar era caloroso e alegre, tinha consigo um grande sorriso estampado no rosto que Ketlyn teve a leve impressão de já ter visto em alguém.

Entre eles, estava alguém que conhecia com facilidade: Philip, parecia mais novo, além de ter decidido colorir uma mecha de laranja pelo visto, ela saltava de seus cabelos bagunçados. Tinha um olhar divertido e um sorriso contagiante, o que parecia ser algo assustador de se imaginar hoje em dia. Os três estavam à frente de uma casa, um chalé de madeira bonito, no meio de grandes árvores. A lateral da foto estava rasgada, não permitindo ver a quarta pessoa que os acompanhava.

Devia ser uma data especial, porém talvez algo tivesse acontecido...

- O que está fazendo aqui?

A voz grave do garoto a puxou de seus pensamentos com um pulo.

- Bom, eu estava procurando o banheiro. – a menina formulou a frase o mais rápido que pode. O coração quase saindo pela boca – Para lavar as mãos, sabe?

- Claro, mas aqui não é o banheiro, é o meu quarto. - retrucou, logo percebendo o que ela segurava. Uma sombra passou por seu rosto um segundo antes da carranca que tomou forma - E você não deveria estar mexendo nisso.

- Ah, eu sinto muito. - falou sem jeito, enquanto ele pegava o porta retrato - Eu me perdi, vim ver se você estava aqui e...

- Do lado da cozinha. - interrompeu.

- O que?

- O banheiro. Não é o que estava procurando? Era só ter perguntado.

- Eu ia, mas você sumiu. - ela coçou a nuca inquieta - Outra coisa também: estão terminando alguns itens lá na mesa e vamos precisar de mais. Eu não consegui encontrar.

Ele assentiu. "Nem deveria ter ido procurar" pensou.

Ela hesitou por um segundo, antes de começar a falar indicando a foto:

- É a sua...?

O olhar de aviso de Philip foi o suficiente para ela parar e seguir até o banheiro, enquanto se afastava conseguia ver o menino abaixando a foto sobre a cômoda.

Ketlyn agarrou com força a pia, respirando fundo enquanto lavava as mãos, uma tentativa de acalmar o coração que ainda batia acelerado. Levantou a cabeça fitando seu reflexo no espelho, como se a resposta para aquelas perguntas e pensamentos de dias pudessem aparecer ali, como em alguns desenhos animados, contudo isso não aconteceu e ela não conseguia pensar em nenhuma resposta. Se abaixou para passar uma água no rosto. "Mas o que eu quero com isso?" pensou "Ajudar? O levar para a cidade ou o lugar de onde ele veio? Descobrir o porquê desses pesadelos? Parar com eles..."

Quando ela levantou o rosto se deparou com algo estranho no reflexo do espelho, talvez aquilo já estivesse ali, ela não sabia ao certo. Atrás dela estava o box do banheiro azul, que agora parecia ter algo brilhando por trás.

Talvez não fosse real, no entanto para tirar a dúvida se aproximou do objeto o abrindo para verificar. Por pouco não soltou um grito.

Ao invés da área do chuveiro o que viu foi uma espécie de parede branca e brilhante, sua aparência era gelatinosa igual a que havia visto no sonho.

Isso a fez se questionar se não estava em outro daqueles sonhos bizarros ou apenas havia enlouquecido por completo depois de 2 anos seguidos de pesadelos.

Não tinha certeza se chamava Philip, saia dali e não falava nada ou dava mais uma olhada para ver se era mesmo real, de todas as opções decidiu ficar e verificar o objeto.

- Ketlyn! – gritou Philip a chamando. – O trabalho não vai se fazer sozinho.

- Já vou! – respondeu com um grito.

"Mas antes..." ela esticou a mão para tocar naquela "parede" branca. Assim que tocou num piscar de olhos começou a ser puxada pelo objeto, para dentro dele, só deu tempo dela soltar um grito de ajuda. Conseguiu ouvir Philip se aproximando rápido e sentiu uma mão quente segurando seu tornozelo, tentando a puxar para trazê-la de volta, a tentativa fútil apenas serviu para ele ser levado junto.

***

- Philip! – gritou Douglas do portão depois de bater palma várias vezes – Isso é estranho. – como o portão estava aberto entrou e bateu na porta chamando o amigo. Tentou abrir a porta, logo percebendo que também não estava trancada – Philip? ... Caio? – disse enquanto entrava na casa vazia – Algo está errado. – disse fazendo uma careta, começando a investigar os cômodos - Eles não deixariam a casa abandonada e aberta, Caio nunca faria isso. – estando prestes a sair do banheiro algo lhe chamou a atenção, observou o box arregaçado e se aproximou contornando as extremidades com a mão – Não tem nenhum resquício... Habilidade? Não, muito improvável. – em seguida, pegou o celular do bolso pensativo e apertou em um contato – Alô? Trixy? Pequeña, mudança de planos. Acho que vamos ter que acelerar as coisas. Digamos... Que houve um imprevisto.


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Oi! Decidi postar dois capítulos, já que o outro era bem curtinho e sinceramente prefiro terminar com esse rsrs

Espero que estejam gostando e muito obrigada! <3 

Líber vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora