Líber vol. 1

Capítulo 38

Peter andava pelos corredores do terceiro andar do castelo evitando parecer um zumbi, concentrava todas as suas forças a se manter em alerta enquanto segurava a empunhadura da espada, vez ou outra puxava até uma parte para fora. Ele até diria que aquela ronda extra era um castigo por, aparentemente, saber demais do caso da garota e tê-la deixado desaparecer, no entanto ele havia aceitado esse serviço extra em favor de um amigo que estava doente. Na hora pareceu algo certo a se fazer, mas agora o simples pensamento que teria que trabalhar no dia seguinte cedo em seu posto o matava. Foi com esse pensamento que notou uma luz vinda de uma sala perto do elevador, a ideia de alguém ter esquecido a luz acesa não lhe convencia, muito menos essa sendo a sala de Lian, que provavelmente só podia guardar documentos importantes.

Ele se aproximou devagar, já retirando a espada da bainha, tentando se esgueirar para perto da fresta a fim de ver antes o que se passava lá dentro. Não conseguia discernir muito o que via, a luz vinha em sua direção e quem quer que estivesse ali estava contra ela, o que fazia Peter só ver a forma meio esquisita da pessoa.

O guarda já se esgueirava para dentro, abrindo um pouco mais a porta devagar na esperança de não ser notado, quando ouviu uma voz que o fez paralisar:

- Eu não vou fugir. - o tom era cansado, mas não menos severo - Já disse isso.

Obviamente, Peter havia reconhecido a voz de Lian o que o fez se endireitar na fresta da porta e guardar a espada quase que imediatamente. O guarda estava completamente confuso, não tinha o que dizer, muito menos entendia a fala do chefe. Por alguns segundos só houve o som de um rabiscar apressado contra o papel, até ser trocado por o de algo se movendo. Logo uma luz forte veio na direção de Peter que instintivamente cobriu os olhos.

- Peter? Você não cuida da prisão? - indagou Lian não escondendo nada sua surpresa, enquanto endireitava a luz novamente e voltava a rabiscar - O que faz aqui?

- Estou substituindo o Heitor, ele está doente. - respondeu ainda confuso. Afinal, o que estava acontecendo ali?

- Ruim, mas tomara que melhore. - a fala do ruivo era totalmente distraída, como quem fala só por educação.

Peter coçou a cabeça ainda incerto do que fazer, mas optou por entrar um pouco mais na sala, enquanto indagava uma das várias perguntas que passava por sua cabeça:

- O senhor não vai para casa?

No mesmo instante o barulho do lápis parou, fazendo um frio percorrer a espinha do guarda, logo seguido de uma gargalhada espalhafatosa.

- Você é realmente novo por aqui, não é? - disse Lian se virando para ele quando parou de rir - A esse ponto já achei que soubesse. A menos que alguém tenha te mandado falar isso. - a última frase parecia ter pelo menos um fio de esperança, mas não teve como dar certeza absoluta disso.

- N-não, ninguém disse nada só imaginei que você iria para casa a essa hora. - falou tentando não transparecer o nervoso que sentia - Estou aqui há alguns meses. - completou apressado antes que Lian perguntasse novamente.

- Certo. Então agora você sabe, eu moro aqui no castelo. Um dos vários benefícios de ser eu: quase nunca posso sair.

- Por ser liberiano?

Peter se arrependeu assim que falou, aquilo havia sido muito idiota! Quão estúpido ele podia ser em apenas um único dia? E se já não bastasse sua própria culpa, podia sentir o olhar de Lian fixo nele como quem decide se vai matar alguém ou não. Estava escuro, mas sentia o olhar do superior e se isso já não bastasse, houve um silêncio na sala que para Peter pareceu durar uma eternidade, o que o fazia tremer por completo.