Capítulo 39

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Ketlyn acordou com a luz indo em seus olhos. Não demorou para observar que estava no ambulatório novamente, se sentou com dificuldade ainda sonolenta e dolorida pelo dia anterior, logo vendo as marcas roxas por seu corpo já previstas.

- Você acordou. - ela ouviu a voz de Philip séria, que a assustou. Podia apostar que há alguns segundos ele estava dormindo, ainda permanecia em sua posição estranha sentado na cadeira encostado a parede. Parecia irritado. - Pensei que nunca mais ia acordar - completou se endireitando e espreguiçando.

Ketlyn ficou confusa, buscando algo que denotasse a quanto tempo estava inconsciente.

- Quanto tempo dormi? - indagou receosa, não encontrando nada - E o que aconteceu exatamente?

- Depois que você chegou apagou. Facho deu sinal e encontramos você, desde então você estava dormindo, ou seja, desde ontem a noite. Assim que você estiver melhor vamos voltar para minha casa e procurar o portal. - respondeu. Por algum motivo também parecia desgostoso quanto a algo.

- Não! - Ketlyn falou de ímpeto, fazendo Philip franzir o cenho - E as informações para Líber? E a ajuda para eles?

Ele revirou os olhos entediado, ela podia ter dito algo mais importante.

- Já contei o que eles queriam saber.

- Mas eu também sei de mais coisas importantes agora.

Ele a observou duvidoso cruzando os braços.

- Se é assim que você quer. - disse enfim se levantando - Fale para Marco, se ele te escutar. - ela assentiu repetidamente animada, fazendo ele dar um pequeno sorriso cansado - Se estiver com fome podemos ir até a cozinha ver algo.

O brilho no rosto da menina foi imenso ao ouvir tais palavras, era óbvio que estava com fome e não via a hora de uma boa refeição. Além de que dessa vez não havia nenhum soro ou enfermeira a impedindo, ainda mais de comer o quanto quisesse.

***

- Vou engordar desse jeito. - comentou Ketlyn rindo enquanto apertava a barriga depois de comer. Ela provavelmente tinha comido um "pouco" a mais do que podia, mas havia comidas ali que ela nunca tinha visto e outras que a chamava só pela cara, no fim não pode resistir - Você está bem? - indagou notando o menino distante, que havia permanecido assim durante todo o almoço, de início passou pela cabeça dela que ele estava assim só porque não queria ser inconveniente ao ver ela comendo ou observar o tamanho da porção de seu prato.

- Estou bem... Apenas pensativo. Você parece muito animada para alguém que sumiu por um dia. - falou um tanto duvidoso. De fato ele já havia lançado vários olhares analíticos sobre ela.

- Estou feliz por estar de volta. Foi difícil e...

- E você roubou uma moto. - ele riu da expressão confusa da menina - Afinal, onde conseguiu ela? Os dados dela não parecem fazer muito sentido. - "Ainda mais a quem ela pertence" pensou, algo que realmente não saia de sua cabeça.

A garota ficou perdida. Claro que era muito melhor que ele pensasse isso, do que o que aconteceu de fato, afinal nem ela sabia explicar o que ocorreu e o porquê.

- Eu não diria roubar... - falou sem jeito, tentando achar uma palavra melhor e que não fosse uma completa mentira - Emprestar, talvez seja melhor. Foi em Lern? Leste? Lessin? - ela não lembrava o nome.

- Não é como se você fosse devolver. - ele pontuou e decidiu ajudar ela que não parava de falar nomes errados de lugares - Lest?

- Isso! - bradou animada. Como não tinha acertado? - Mas não entendo. - Philip lançou um olhar interrogativo - Não esperava que tivesse motos aqui, nem TV, parando para pensar tem muita tecnologia que pensei que não existia aqui. - o menino não alterou seu olhar - Você sabe, aqui parece antigo, tem muita coisa que lembra coisas medievais, como as poções...

- Não temos uma cultura consumista. - interrompeu entendendo o ponto dela - Temos uma tecnologia mais avançada que a do seu mundo em várias coisas. Mas não somos como lá que produzem aos montes, se preciso de algo, vou até alguém especializado e peço um, por exemplo: aquela moto, foi encomendada para ser daquele jeito. - ao ver que ela tinha entendido, prosseguiu - Certo, vamos achar Marco. Aí você fala porque sumiu. - ele pareceu um tanto pensativo enquanto a olhava - Tem certeza que está bem mesmo depois disso?

Ela assentiu convicta, fazendo uma careta que o fez dar risada. Ele realmente achava Ketlyn uma figura.

Enquanto andavam pelo castelo em busca de Marco, perguntando para as pessoas se o viram, logo souberam que ele deveria estar perto de uma sala no segundo andar, onde teria uma reunião sobre algo que a maioria das pessoas não pareciam se importar muito, porém havia algumas que diziam que pelo que viam se tratava de algo importante.

Por sorte, encontraram o homem a caminho dessa sala, ironicamente Philip parecia mais bem-disposto do que antes, claro que ainda um tanto sério como normalmente, mas era uma mudança súbita que Ketlyn preferiu levar como algo positivo.

- Olha se não é a menina sumida! - bradou Marco ao ver Ketlyn.

- Não mais tão sumida. - ela comentou sem graça.

- Que bom que deu tudo certo. - ele disse observando os dois, mas fitando especialmente o garoto como se o provocasse.

Ketlyn não tinha certeza, mas parecia ter uma troca de olhares estranha entre os dois. Philip não parecia ter mais nenhum resquício daquela fúria no olhar, mesmo Marco procurando essa reação já esperada não a encontrou, na verdade não saberia dizer nada sobre o comportamento do garoto, estava diferente demais e isso causava certa estranheza no homem.

- Então, - começou Ketlyn quebrando o que quer que estivesse rolando ali - eu tenho algumas informações e acho que podem ajudar vocês.

- Isso é ótimo! Até porque temos uma reunião hoje e isso pode ajudar.

Assim que o homem terminou de falar deu sinal para que ela começasse. Ketlyn não contou exatamente tudo, omitiu a parte da ajuda daquelas duas pessoas, não falou também sobre Yoki porque não sabia até onde isso era normal, mas falou do túnel e o que para ela pareceu ser um grande campo de força em torno do local. Marco apenas assentiu coçando seu cavanhaque.

Ela teve que tomar um cuidado enorme para contar de quando o rapaz a interrogou, não falou bem quais foram as perguntas que ele fez, porém quase acabou por chamá-lo de Douglas. No entanto, a tempo conseguiu se corrigir dizendo que não sabia seu nome, o que Philip pareceu notar, apesar dela não ter certeza, talvez fosse apenas o olhar deles sobre os roxos dela, não pareciam acreditar que aquilo era de ter ficado em um porta-malas.

Antes de Marco entrar na sala, pediu para que ficassem ali enquanto acontecia a reunião, mesmo estranhando um pouco e não sabendo quantas horas isso poderia durar acabaram por concordar, o que pareceu ser uma péssima decisão.

Quando finalmente a última pessoa fechou a porta a reunião começou. Philip estranhava uma simples reunião com a presença do rei, do Mago e da guardiã da Província juntos com várias outras pessoas, afinal não estariam lá por algo fútil provavelmente. Isso só aguçava mais a curiosidade de ambos, obviamente queriam ouvir com perfeição o que era dito lá de dentro, mas não podiam arriscar ficar com os ouvidos grudados na porta, porém podiam ficar encostados em uma parte dela ou apenas próximos como quem não quer nada.

Para a sorte deles a discussão lá dentro parecia se elevar de tal modo que conseguiam ouvir sem fazer nenhum esforço. Pelo menos foi assim até um súbito silêncio após um grande estrondo, seguido pelo som de passos firmes que vinham em direção a porta, o que os fez se afastarem rápido bem a tempo da pessoa abri-la.

Líber vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora