Capítulo 30

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Ketlyn ficou apavorada, o rapaz era difícil de analisar de forma precisa e a maneira que se comportava era assustadora, fazendo todos os pelos da nuca de Ketlyn se arrepiarem.

Ela ainda o fitava sem entender, hesitante do que deveria ao certo fazer, até que o garoto riu se afastando dela de maneira descontraída.

- É apenas a frase para as paredes. Já que não podem nos ver nem ouvir. - explicou se encostando na parede ao lado, mas logo tomando um tom sério na voz - Ou seja, responda minha pergunta: como veio parar aqui?

- Fui sequestrada, isso não ficou óbvio? - respondeu precipitada - Aqueles caras bem sabem.

Ketlyn se xingou mentalmente. Não era hora de ser afobada, não importava o quão apavorada estivesse, ela tinha que ser racional! Pensar em um plano para sair dessa e...

- Ketlyn! - a voz fria a chamou. Ela quase deu um pulo antes mesmo de perceber que havia sido chamada pelo nome. -Você não entendeu minha pergunta, então vou ser mais claro: como você veio parar em Líber?

A garota abriu a boca, contudo nenhum som saiu. Sua mente estava em branco.

O rapaz suspirou e em um movimento fez uma adaga prateada aparecer em sua mão. Conforme ele se aproximava, inútilmente, Ketlyn tentava se afastar mantendo o olhar preso na arma.

- Pelo visto conhece o truque. - ele falou, apontando para a pulseira em seu braço - Como veio parar aqui?

Ele começou a erguer a adaga. Droga! Ela só queria sair dali!

Uma pontada forte atingiu seu estômago, Ketlyn pensou que poderia ser devido a proximidade da adaga ou seu estresse pela situação. Todavia, o rapaz parou a poucos centímetros dela com um olhar aguçado em sua direção.

- Eu não sei direito! - falou estridente - Eu só sei que em um momento estava em um lugar e no outro parei aqui. Foi repentino.

- Pode ter sido um portal então? - ela se encolheu, sem saber se poderia afirmar isso. Talvez fosse uma informação única dos territórios próximos a Província? - Portais podem não ser comuns no cotidiano, mas é de informação comum que existem. - o rapaz falou como se lesse seu pensamento. - Então, vou assumir que foi isso.

O ruivo encostou na parede pensativo.

- Tinha alguém com você?

Ketlyn fechou os olhos por alguns segundos, a voz fria a assustou mas não pela a ameaça, a lembrou de alguém que jamais falaria com tal tom. Porém, não apenas isso, havia uma rasa recordação de já tê-la ouvido em algum lugar...

- Você! - ela gritou impulsiva com a luz que se acendia em sua cabeça - Estava na casa de Philip!

Ela engoliu em seco arrependida com o olhar feroz que o garoto a lançou.

- Acha mesmo que eu estaria lá? Não acha que há uma boa distância daqui até lá? - ele deu um sorriso irônico, enquanto emitia um som de chacota, o que só a fez confirmar suas suspeitas - Que besteira... Mas isso não importa. Você acabou por responder minha pergunta, certo?

Ele tinha um ponto, o que a deixou confusa.

- Só me pergunto mesmo é porque pegaram você e não ele, já que é óbvio que ele tem Habilidade. - falou o rapaz quase consigo mesmo se recostando novamente na parede - Mas o que posso esperar de dois incompetentes? - passou a mão no rosto cansado - Talvez eu conseguisse te libertar, porém você não poderá passar a fronteira em direção a Líber. Teria que ficar em Lest.

Os lábios do ruivo se ergueram, enquanto ele observava o chão. Emitia um ar sinistro que parecia congelar a espinha da garota. Ela engoliu em seco, junto das suas dúvidas, quando o garoto seguiu em sua direção.

- Vou ver o que posso fazer por você. Mas se quer um conselho, você deveria refletir sobre onde você deveria estar agora, sobre a pessoa a quem você estava. Afinal, não se sabe quando você o verá novamente. - Por fim, um sorriso satisfeito brotou em seus lábios. Ele estava prestes a apertar o botão, quando parou e murmurou algo consigo mesmo - Não, não é necessário a machucar. - Em seguida, voltou para ela - Enfim, boa sorte.

Então ele apertou o botão fazendo a cela voltar ao normal, saindo e desaparecendo no corredor. Ketlyn estava inerte, afinal o que havia ocorrido ali?

Essa falta de entendimento só a fez seguir o caminho oposto ao proposto pelo rapaz. Quem era ele?! O que ela havia visto não parecia fazer sentido: primeiro, sua voz, sobretudo quando foi fria, era idêntica a da pessoa que a ajudou na casa de Philip, o que já era absurdo, porém poderia aceitar de algum modo. Segundo, ele era igual a Douglas, o que era estranho, contudo poderia ser mera coincidência. Terceiro, o que a fez surtar, o rapaz tinha exatamente a mesma cicatriz que Douglas. Uma coisa era ele ser um sósia, outra era ele ter até mesmo o machucado do amigo.

Perguntas e mais perguntas chegavam à sua mente, não parecendo ter fim. Ela se esforçava para não surtar ali, mesmo com a terrível sensação de queimação que começava a sentir em sua mão direita. Já inquieta e com a sensação de algo próximo, ela virou na direção da mão e não pôde deixar de ver algo: um portal, como Philip chamaria. Era redondo, pequeno e Ketlyn não fazia ideia de onde teria vindo, mas valia a pena arriscar para sair dali.

Assim fez aparecer uma adaga. Esperava que funcionasse e que as armas da pulseira fossem mais fortes que as normais, o que se provou verdadeiro quando conseguiu quebrar a algema com rapidez, logo tocando no portal que a puxou para algum lugar que não sabia onde.

Líber vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora