Capítulo 15

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O caminho estava tranquilo, os permitindo desfrutar das paisagens e sons dos animais, embora ficassem atentos aos sinais de perigo. Na atual situação não podiam se dar ao luxo de baixar a guarda.

Devido ao estado atual de Philip, Ketlyn havia se oferecido a levar a mochila pelo restante do trajeto e embora os sintomas tivessem diminuído, ela percebia que eles poderiam voltar a qualquer hora. Isso de certa maneira, abafava um pouco sua desconfiança quanto ao que havia acontecido na loja, depois que havia saído.

Com o passar do tempo ela observou que Philip vinha começando a ter alguns tremores, se isso já não bastasse ela possuía a terrível sensação de que alguém os observava... E estava perto.

- Está bem? - perguntou quase em um sussurro para Philip se aproximando.

- Claro. - respondeu irritado a afastando e caindo de joelhos no chão - Só... - seu tom se abaixou de tal modo que a menina precisou se aproximar para escutar - Temos que correr. Você reparou, não é?

Ela assentiu se levantando e o oferecendo ajuda que recusou. Começaram dando passos apressados que logo se transformaram em uma corrida, a teoria deles se mostrou verdadeira, podiam ouvir a movimentação na mata ao redor, o que quer que fosse estava se aproximando e acelerando como eles. Ketlyn podia apostar que já estava quase despistando o que quer que fosse, só precisavam correr mais um pouco e estariam seguros, porém Philip caiu enquanto se contorcia em uma tosse.

- Droga, Philip. - ela disse se aproximando, não ouvia mais os sons de passos, porém não tinha certeza se estavam seguros - A poção deveria durar mais tempo...

- Philip! - o grito vindo do meio da mata fez a menina levar um susto, não demorou e uma garota de cabelos pretos compridos apareceu.

Ela segurou os ombros do menino com cuidado o aproximando dela. Ketlyn congelou, perdida com o que estava acontecendo, não conseguia ver o rosto dessa nova garota, o cabelo junto da extensa mecha azul a impediam. Embora tivesse a vaga sensação de já tê-la visto em algum lugar.

- Quem é você? - sibilou a garota os olhos azuis ferozes e intensos - O que você fez? - sua mão já se fechava em um punho ameaçador.

- Tudo bem... - disse Philip ainda fraco segurando o punho da garota, seu rosto estava encostado no ombro dela pelo canto da boca havia um pouco de sangue que ele limpou.

A menina olhou Ketlyn de cima a baixo desconfiada, até que finalmente se voltou para o menino.

- Você não parece bem. Embora eu tenha perguntas, precisamos te levar logo para algum lugar.

- Já estamos a caminho de um. - o menino disse depois de uma longa pausa se recompondo - Vamos para a Província.

- Província dos Magos? - seu tom não escondia a surpresa, enquanto se levantava e oferecia ajuda que o rapaz aceitou.

Ketlyn acompanhava toda aquela situação boquiaberta e totalmente perdida.

- Sim. Quer ir com a gente?

A garota hesitou por um momento.

- Claro, por que não? - respondeu com um sorriso animado que o menino correspondeu, até que ele notou algo.

- Já estava me esquecendo, acho que tem um pouco de sangue em você...

Ela olhou procurando na regata preta e na calça verde musgo, porém não viu nada muito significativo, no máximo pequenos pingos.

- Está bem. - disse dando de ombros e fitando Ketlyn séria novamente - Me chamo Carla e você é...?

- Ketlyn. - um frio percorreu a espinha da menina. Com certeza não tinha gostado de Carla - E o que você fazia por aqui, hein?

Carla esboçou um sorriso descontraído, pondo as mãos na cintura de maneira pretensiosa:

- Procurando algumas plantas ou coisas do tipo, tenho que ganhar a vida de algum jeito. - disse dando de ombros - Escutei o som de passos agitados e vim conferir do que se tratava, logo ouvi as tosses e quando percebi que se tratava de Philip corri o mais rápido que pude. Mas e você? Nunca te vi... Não tem mecha... - ela rodeava a garota.

- Ketlyn acabou vindo comigo de alguma maneira, tanto que tenho que levá-la para minha casa depois, para que ela volte para seu mundo.

Ao ouvir a última palavra a menina parou e encarou o garoto:

- Isso quer dizer... Que o portal de sua mãe realmente funcionou?

Philip assentiu.

- Isso também me faz pensar... - ele se aproximava lentamente de Carla, até estar face a face com ela - Não era para você estar morta? Eu vi ele te segurando. Eu vi o que aconteceu.

Carla deixou um sorriso discreto, porém ameaçador escapar.

- Então também vale para o senhor, não é? - ela disse indo para cima dele - Eu vi você ser acertado. Eu vi você sangrando. Não deveria estar morto também?

Ketlyn sentia uma tensão horrível no ar e de repente parecia que os dois iam começar a brigar ali mesmo, ainda mais com aquelas expressões assustadoras que faziam.

De súbito tudo isso se quebrou com as risadas de ambos, deixando a garota confusa.

- Carla é uma grande amiga minha, a conheço desde sempre. - explicou Philip depois de gargalhar e ver a careta da menina.

- Isso mesmo. - assentiu Carla convicta - E antes que eu me esqueça: Aqui está. – ela pegou do bolso um colar com um pingente de pedra roxa escura – Peguei quando sai da sua casa, ando com ele... Você sabe, por precaução.

Ela jogou o objeto, depois de girá-lo no dedo, para o menino que o pegou no ar com um sorriso malicioso.

- Claro... Enfim, muito obrigado. - disse guardando no bolso.

- Até parece que não confia em mim. - ela respondeu presunçosa - Você sabe que dou meus pulos.

- Melhor que ninguém. - ele comentou ao vento já voltando a caminhar rumo à Província.

Carla esboçou um sorriso divertido, enquanto o observava se afastando.

- Grosso. - disse se apressando para chegar ao lado dele.

Ketlyn ficou para trás ainda atônita, demorou alguns segundos a mais para reparar que ambos já estavam à sua frente. Mesmo depois de alcançá-los andava aos seus encalços, tentando pôr os pensamentos em ordem e absorver tudo o que tinha acabado de ver e ouvir. Aquilo havia sido muito rápido.

Balançou a cabeça afastando alguns pensamentos. Havia descoberto porque Carla parecia conhecida, ela a recordava da garota do sonho, contudo era impossível serem as mesmas, por dois motivos básicos: Ketlyn nunca havia visto Carla na vida e Carla não possuía mecha e olhos rosas, como a garota do sonho.


Líber vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora