Capítulo 34

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Tempo depois Ketlyn viu pela janela o ruivo saindo do castelo acompanhado por outros dois guardas, sendo assim se apressou a sair do local com a ave voando à sua frente. Ela se escondeu próxima ao elevador quando ouviu alguns passos vindos na direção da sala, não demorou a ver quem os causava: era Peter, o guarda da prisão e por sua agitação parecia que ele já sabia do sumiço da menina. Ele correu até a porta da sala e abriu desesperado.

- Não! - gritou lá de dentro. Havia pavor em sua voz.

Aproveitando que ele estava lá, Ketlyn se apressou a descer pelas escadas. Yoki observava a frente e a retaguarda cantarolando sempre que via algo estranho ou suspeito. Até que chegaram ao saguão, este estava mais lotado que os outros andares e Ketlyn se apressou a se esconder atrás da escada ao ouvir o cantarolar de advertência da ave.

De repente, ela viu Peter saindo de algum ponto inesperado correndo em direção a uma espécie de recepção, provavelmente havia descido pelo elevador.

- Lian! Onde ele está? - indagou apressado.

- Saiu. Não deve demorar.

Peter deixou a cabeça cair entre as mãos perdido, era seu fim. O que podia fazer? Assim que encontrasse Lian teria que contar que perdeu a garota, que ela havia sumido e... Ele com certeza estaria morto, o chefe já não parecia estar de bom humor, quem dirá quando ele contasse a notícia? Na verdade, algo mais o preocupava, não era só por sua própria vida que estava em risco, a da sua família também. Como ele havia sido tão idiota a ponto de contar sobre sua família a Lian? Ele deveria ter suspeitado que o chefe perguntava demais sobre isso e que deveria haver um motivo macabro para tal. O desespero batia grande agora, ainda mais quando pensava em sua irmã e em sua sobrinha recém nascida.

- Pode esperar ele aqui. Claro, se tiver alguém em seu posto. - o sujeito falou condescendente.

- Agradeço. - respondeu com o rosto enfiado entre os braços fitando o balcão - Tem alguém lá.

Ketlyn quase chegou a ficar com pena do guarda, mas aproveitou que ele não estava olhando para a saída e foi tentando andar o mais calma e normal possível para fora. Com um frio na barriga ela passou pelos guardas da entrada que não pareceram a notar ou achar suspeita, provavelmente eles cuidavam muito mais de quem entrava no local e não de quem saía. Depois de andar mais um pouco e estar mais distante, ela enfim conseguiu respirar aliviada.

- Conseguimos! - disse alegre, Yoki a acompanhou cantarolando animada - Yoki, - a menina interrompeu rindo - eu não consigo te entender, desculpa...

Ela podia apostar que a passarinha ficou revoltada, porém notando algo a ave voou para perto de uma mulher de cabelos curtos que estava encostada em uma moto preta, o mesmo veículo que Ketlyn havia visto em Líber.

- Yoki. - a mulher cumprimentou quando a ave pousou em seu indicador.

Ketlyn seguiu receosa para perto da mulher, esperando definitivamente que não fosse uma armadilha ou algo do tipo, os olhos âmbar dela analisavam a garota de cima a baixo.

- Você deve ser o erro, certo? - ela indagou.

- Não me chamaria assim. - Ketlyn respondeu desconfortável.

Ela deu uma risada:

- Eu sei. Bem, me chamo Mia, trabalho para o... - ela se interrompeu pensativa se poderia falar o nome dele, a mensagem havia sido bem abrangente - O governador que você conheceu.

- Conheceu é um pouco forçado. - comentou a menina - Eu sou Ketlyn, então...? Onde está a bicicleta que eu deveria usar? - indagou inquieta não vendo o objeto.

- Quanto a isso... Não acho uma boa ideia você ir de bicicleta, vai demorar horas! Mais do que o normal, é provável que você seja assaltada ou morra de cansaço pelo caminho.

"Ele queria mesmo me matar" pensou Ketlyn, afinal seria um jeito de fazê-lo sem ter que sujar suas mãos.

- Vá com a moto. Sem dúvida será melhor.

Ketlyn estava tendendo ao conselho de Mia, sabia pilotar uma moto? Sim... Na verdade esse era outro ponto, ela não tinha tido muitas aulas, claro que seu irmão tentou lhe ensinar, mesmo sua mãe lhe falando que isso era muito cedo, então... Sabia dirigir? Sim. Tinha confiança para fazê-lo? Não.

Enfim ela soltou um grande suspiro, tomando sua decisão que provavelmente iria se arrepender:

- Tudo bem, só... Vamos revisar como se faz?

Mia assentiu satisfeita, mostrando a Ketlyn a moto e como funcionava, o que a acalmou um pouco, já que era semelhante às que já tinha visto e se lembrava como fazia.

- Certo. - falou Ketlyn subindo na moto - Para onde vou?

Mia ficou a encarando sem falar nada por um bom tempo:

- Ele não te falou? - indagou desanimada - Como pode? Eu sei o caminho até a fronteira, mas você não vai conseguir passar por lá e ele nunca me contou outra forma... - de repente ela parou olhando para Yoki - Você sabe o caminho secreto dele não sabe?

A andorinha cantarolou animada voando para várias direções, como se explicasse algo.

- Yoki. - chamou Mia - Eu não te entendo!

Ketlyn segurou a risada, novamente parecia que a ave não tinha gostado.

- Só tem um jeito então. - falou Mia pegando o celular - Vou ter que ligar para ele.

Ela discou apressada e esperando que o garoto pudesse atendê-la, assim que começou a chamar ela pôs no viva voz:

- O que houve? - ouviram a voz vindo do celular baixa e irritada, afinal só faltava ter dado algo de errado... De novo.

- Preciso de um tradutor. - falou Mia já fazendo sinal para que a ave se aproximasse.

- Certo, acho que não faz mal. Só vamos ser rápidos. - a passarinha começou a disparar coisas que elas não entendiam, todavia parecia aborrecida - Yoki. - repreendeu Lian depois de alguns segundos - Eu compreendo que ninguém te entende e está frustrada, mas foco, O.K.? E não me xingue! - ele se calou por um tempo - Passo por mensagem as orientações. - disse já desligando.

Poucos minutos depois lá estavam as chamadas "orientações": Ketlyn deveria seguir até o bosque ao lado da fronteira onde havia uma pequena guarda que verificava quem entrava, lá havia duas torres de segurança, sendo assim a menina deveria entrar antes no bosque. Lá Yoki a encontraria e a guiaria, depois era só seguir a rua, provavelmente não teria uma ronda tão cedo por aquela área. E com muito amor, ele acrescentou no final um último recado: "Não sei se a desejo viva, mas se sobreviver não atrapalhe.".

Ketlyn não se sentiu muito à vontade e antes que pudesse perceber Yoki já havia voado para longe. Mia não se sentia bem de deixar Ketlyn seguir sozinha ainda mais com a moto deles, mas por fim decidiu deixá-la ir, só explicou o caminho até o bosque antes e por via das dúvidas a ensinou a usar o GPS. Logo a menina já estava seguindo as instruções do rapaz com um grande frio na espinha.

Líber vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora