Capítulo IV: Nebuloso

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Jimin não se considerava um homem supersticioso, também não costumava a acreditar em todo tipo de ser sobrenatural, mas olhando para a súbita palidez de Lalisa podia jurar que na verdade ela era um fantasma!

A criada levou algum tempo para se recuperar e gaguejar:

— N-Não compreendo o que está dizendo, V-Vossa Alteza.

Era tão óbvio que ela estava mentindo e também tão assustada. Seus olhos estavam começando a se encher de lágrimas, enquanto trincava o maxilar.

Jimin se virou para ela para conversarem frente à frente.

— Não seja tola, Lalisa — aconselhou. — Realmente acha que eu deixaria você assumir um cargo com tanta proximidade de mim, sem saber exatamente tudo sobre você?

Os ombros magros dela se encolheram e tremeram. Tanta gente havia lhe avisado sobre o perigo de trabalhar no castelo. Mas que outra oportunidade, como aquela, ela teria? Precisava tanto daquele dinheiro!

— Eu sei que você mora num casebre caindo aos pedaços na colina mais distante da sua vila, mesmo podendo morar aqui no castelo — Jimin continuou. — Também sei que nas sextas-feiras você sempre inventa uma desculpa para sair mais cedo e vai para uma floresta macabra se encontrar com um grupo de outras pessoas, numa casa em ruínas. Vocês não têm medo da casa cair em cima de vocês, não? Ou bruxas são imunes a desabamentos? À fogo eu sei que não são.

Lalisa engoliu em seco.

— Por favor, Vossa Alteza, eu sei que isso parece suspeito, mas não é o que está pensando.

— Poupe nosso tempo, Lalisa! — o príncipe ordenou. — Vamos aproveitar que hoje é sexta-feira para que você me leve para conhecer a bruxa líder.

Lalisa negou imediatamente balançando a cabeça para os lados. Aquilo era traição. Não podia levar a morte para as únicas pessoas que a acolheram durante o período mais difícil da sua vida.

— Não posso — disse baixinho. A coragem para negar o pedido do príncipe era pouca, mas o medo por seus amigos era muito maior.

Jimin não gostava de negações.

— É claro que pode.

A criada insistiu em negar. Dessa vez com mais resistência.

— Eu não irei.

Os olhos bonitos do príncipe se estreitaram. Pensou em lhe dizer que poderia muito bem incendiar toda a floresta e apenas esperar que as bruxas saíssem com os rabinhos — ou seriam chifrinhos — encolhidos. Porém preferiu ir por um caminho menos dramático.

— Ah, como eu sou esquecido! — exclamou com pouca emoção. — Nem percebi que não falei sobre o fato mais importante na lista de coisas que você esconde. Como pude esquecer da criança que você mantém escondida no seu casebre velho?!

Na face de Lalisa outra metamorfose ocorreu. Os olhos grandes e acinzentados quase saíram das órbitas e um tremor ainda mais forte percorreu seu corpo.

— V-Vossa Alteza, a criança não tem culpa de nada — ela disse com a voz enfraquecida, algumas lágrimas já começavam a descer pelo rosto bonito.

— É, realmente não tem. — Jimin assentiu. — Ninguém escolhe a mãe que tem.

— Ela não é minha fi...

— Pare com isso! — Jimin a interrompeu. — Não tente me fazer de bobo. Sei toda a historinha triste da sua vida!

A beta se calou. Assustada e aturdida com o caminho que sua manhã havia levado. Sabia muito bem o quão frágil era a pequena e esburacada cerca que havia montado ao seu redor para proteger seu segredo mais precioso. Sua vida era uma sequência de decisões burras, era o que não parava de gritar em sua mente.

EGO · ABO · JJK + PJMOnde histórias criam vida. Descubra agora