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Capítulo VIII: Tèssadra

Não foi mentira quando Jimin disse ao seu pai que iria para Runa. A mentira estava na parte em que dizia que ficaria por lá o tempo todo.

Havia poucas maneiras de entrar em Tèssadra. A mais perto sem dúvidas era a fronteira que os separava, mas também a com maior índice de falhas. Haviam muitos guardas, tanto tessadranos quanto soldados amori, responsáveis por fiscalizar qualquer possível sinal suspeito. Seu relacionamento era de fato o pior entre os cinco reinos, tanto que o tráfego entre lupinos dos dois reinos não era comum e quando necessário, precisava ser autorizado e vigiado. Estava fora de cogitação entrar lá como um lupino amori, quiçá como um príncipe. Por isso, o meio mais seguro era por Runa.

O rei de Runa nunca havia deixado totalmente claro para eles a natureza de seu relacionamento com Tèssadra, mas não era segredo que eles negociavam entre si. Eram no mínimo sócios, o que deu ainda mais forças para Jimin querer entrar em Tèssadra por lá.

As principais formas de chegar a Runa eram pelas vias navais, próprias para facilitar seu comércio marítimo e, devido a isso, suas fronteiras terrestres não eram muito fortificadas, apenas sua capital. A estratégia deles era simples: manter a política da boa vizinhança. Jimin achava aquela estratégia um bocado burra, mas estava lhe servindo bem.

Quando chegaram a saída de Amoriel, o grupo de Jimin mudou completamente de configuração. A equipe de Hwasa estava o esperando e eles eram mais do que da última vez. Ao todo 14 ômegas e  11 betas. Eles se juntaram a eles e imediatamente começaram seu trabalho.

Os soldados de sua guarda retiraram as armaduras, as bandeiras foram guardadas e o emblema de Amoriel junto ao de Jimin foram escondidos. Por fim, os vários alfas foram transformados em betas.

Era uma das substâncias que o grupo de Hwasa havia desenvolvido. Transformava o cheiro forte e amadeirado dos alfas no aroma suave e herbal dos betas. Aquilo era necessário para que não chamassem tanta atenção. Era a primeira parte de seu disfarce.

Tiveram que traçar o caminho mais longo até Tèssadra, tomando cuidado para não se aproximarem demais do perímetro da capital de Runa. Percorreram os lugares mais desertos e os mais inóspitos, passaram pelas vilas mais insignificantes e se depararam não apenas uma vez com grupos de saqueadores, que foram contidos por seus soldados, mas que ainda assim, os atrasaram. Ao todo levaram nove dias numa viagem que não deveria ter durado nem metade disso, visto que quase não pararam para descansar.

Estavam as margens das aldeias mais próximas da divisa entre os dois reinos quando enfim começaram a colocar o plano em ação.  A segunda parte de seu disfarce. Ideia de Taehyung.

Dividiram seu grande grupo em dois. O primeiro havia conseguido entrar no dia anterior, disfarçados de comerciantes. O segundo grupo, o de Jimin, tão cheio de ômegas, seria o mais difícil de entrar.

Mudaram as roupas novamente. Passaram a usar trajes mais chamativos e coloridos, forraram e enfeitaram as carroças com tecidos brilhantes e deixaram alguns dos cavalos em uma estalagem junto a alguns poucos soldados, por último, organizaram uma pequena comitiva a pé logo a frente. Dessa vez, ao invés de tentar parecer despercebidos, desfilaram pelas praças.  O objetivo era ser notado.

As estruturas sociais lupinas têm regras rígidas, uma vez que cada classe sabe o que lhe é de direito, deve adequar-se ao seu papel na sociedade. Aos alfas cabe, majoritariamente, liderar e prover, aos betas, servir e sustentar e aos ômegas, obedecer e procriar. É simples em tese; na prática, se divide em mil e um desdobramentos.

Assim, teoricamente ômegas deveriam apenas se preocupar em ser submissos e bons em parir, certo? Errado. Um ômega ideal deve ser belo, gracioso, virtuoso, dócil e perfeito em mais uma infinidade de qualidades difíceis de alcançar, mas tratadas como básicas e imprescindíveis. Jimin, por exemplo, sabia cozinhar sem quase nunca ter pisado em uma cozinha, e, costurar mesmo que nunca lhe fosse preciso. Para betas não era muito diferente. Isso os garantia uma porção de habilidades, estas que estavam lhes servindo muito bem.