O céu é para todos [COMPLETO]

19.

Matheus

Existe uma energia muito caótica que ninguém fala sobre que é se sentir bêbado estando sóbrio.

A minha festa de aniversário de 18 anos retrata isso muito bem.

Dito e feito pela minha amada mãe, castigo até a maioridade.

Foram uns meses podres em que tudo aconteceu de forma nebulosa ao ponto de eu só lembrar de ouvir músicas tristes, ver meus filmes favoritos e brigar com todo mundo, depois me sentir péssimo por ter brigado com todo mundo, querer me matar, pedir desculpas e voltar ao ciclo vicioso que é se sentir ansioso e deprimido ao mesmo tempo.

Mas eu precisava sair daquele buraco, e achei que uma festa ia me fazer bem. Meu pai topou, minha mãe também. Me ajudaram a organizar e tudo mais. Com uma única condição: nada de bebidas alcóolicas.

Eu até tentei contra argumentar. Não que adiantasse muito, eu havia perdido a razão a muito tempo, e Camila não poderia fazer o papel de advogada do diabo porque ela era menor de idade, o que só ajudava o lado dos meus pais.

Melhor uma festa sóbria do que festa nenhuma.

Chamei tantas pessoas que nem me preocupo se vão caber no terraço minúsculo ou não, sou inseguro o suficiente para acreditar que ninguém vai aparecer.

Fiz uma estatística com Cami e Vini que daria para ficar umas 20 e poucas pessoas de boas ali.

Eu chamei quase 50.

Mas é, vai ficar tudo bem.

Eu estava ansioso para vê-la.

Sky, no meu aniversário, na minha casa.

Não a vi no último evento que teve. Eu não fui. Eu não podia.

Gui também não chegou a comentar muito sobre o que rolou lá. Ele estava meio esquisito.

Não podia culpá-lo, eu também estava.

Mas ele viria, inclusive, foi um dos primeiros a chegar.

Estava bonito, todo de preto.

Eu vestia minha camisa vermelha favorita com uma frase da banda Weathers, minha melhor bermuda preta e all star. Era agosto e tinha tudo para estar um frio do caralho, mas ninguém se preocupava com isso.

Camila passara glitter por todo o meu rosto e braços. Ela havia decorado o rosto e suas raízes do cabelo num penteado lindo com strass, como se tivesse acabado de sair de um episódio de Euphoria. Vinícius tinha sido mais discreto e colocado apenas um pouco de brilho nos olhos e delineador dourado.

Todo mundo que passasse por aquela porta seria banhado em glitter e brilho ou em luzes neon de uma forma ou de outra.

Gui me abraça e me entrega um presente, que eu me apreço em colocar no meu quarto. E antes que eu desça as escadas correndo, vejo Vini cumprimentar Guilherme com certo desgosto. E Camila se afastar.

Meu peito se contrai com a ideia dos meus amigos brigarem hoje.

Não consigo lidar.

Vini tem falado que eu estava diferente.

Cami, Gui, minha mãe.

Foda-se. Só quero esquecer.

Sky chega.

Me entorpeço todo. Nem acredito que ela está aqui.

Veio com Greta e Bernardo. Eles cheiram a álcool e perfume doce. Um cheiro pungente, que me impregna, me deixa tonto. Me faz querer mais. Me faz sentir péssimo. Mas eu quero me sentir assim.